21. AS MOTIVAÇÕES DE GREG: AS LEGÍTIMAS E AS ESTÚPIDAS.

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Naquela mesma sexta-feira, Lily encontrou uma deixa para falar de John Slight, apesar da proibição do gerente. O intervalo de 15 minutos para o café havia chegado e, tecnicamente, não era horário de serviço.

Quando ela e a amiga se reuniram a Max na copa, onde ele, apesar do calor, passava um café na cafeteira, conseguiu sanar algumas de suas dúvidas.

– Max, desde quando vocês conhecem John? – indagou, enquanto pegava a xícara de café que o amigo a alcançava.

Max entregou uma xícara para Hazel também e encostou-se no balcão da pia, suspirando.

– Acho que foi há uns cinco anos atrás. John ainda era um garotinho. Ele tinha uns 16 e eu e Greg, uns 19 – lembrou, bebericando seu café.

– Foi na Califórnia? – sondou Lily.

– Sim, em Malibu. John e a banda iam tocar em eventos no hotel do Sr. Mitchell e ficaram hospedados lá como cortesia.

– O Tio Fred tem um hotel em Malibu? – Hazel quis saber.

– O Sr. Mitchell a que me refiro é o pai de Greg, Harry Mitchell. Eu praticamente me criei nesse hotel, junto com Greg. Minha mãe era governanta na cobertura onde ele e o pai moravam.

Lily quase cuspiu o café.

– Você está me dizendo que o Greg é podre de rico? – exaltou-se.

Max riu.

– O pai dele certamente é. A rede de hotéis dele é uma das mais luxuosas da região. Tio Fred também tinha bastante grana de família mas torrou quase tudo se divertindo. Ainda assim ele gosta de investir em pequenos negócios, se estabeleceu em Bewitt por causa da primeira esposa que era daqui, isso há mais de vinte anos atrás. Ele vendeu sua parte toda nos hotéis para o irmão porque não tinha paciência com grandes negócios – explicou, divertindo-se com a surpresa das garotas.

– Mas o que Greg está fazendo aqui em Vallert, trabalhando de gerente num depósito velho? Ele poderia bancar uma faculdade bem mais requisitada – considerou Lily.

Max estalou a língua.

– Greg nunca tirou nada de muito bom da fortuna do pai. A mãe fugiu para ser atriz quando ele era muito pequeno e o pai era muito ocupado. Tudo que conseguiu ao crescer em um hotel de luxo foi companhias duvidosas, farras regadas de drogas, dívidas, eu já disse que ele teve uma adolescência conturbada – lembrou, parecendo triste pelo amigo.

Lily calou-se, parecendo perceber os limites da conversa, que havia tomado um rumo um pouco polêmico.

– Ainda assim – continuou Max –, eu sempre fui seu melhor amigo, o filho da empregada. Eu mesmo tive que lutar com muitos dos meus demônios por crescer no meio da juventude rica mesmo sem fazer parte dela.

Hazel encarava a janela enquanto Max contava sobre seu passado, e pensou em Greg. Tudo parecia fazer mais sentido agora. Ele fugia de si mesmo, constantemente. Vivia assombrado por fantasmas de uma juventude transviada com direito a abandono materno e carência do pai.

Por isso ele era tão rabugento?

De alguma forma ela conseguiu imaginar um garotinho pequeno, de cabelos negros, procurando pela casa por sua mãe que o abandonara.

– Ele está renegando tudo que tem vergonha de ter sido. Por isso preferiu um destino longe dos hotéis, como seu tio Fred? – sugeriu Hazel, quebrando o silêncio que os amigos haviam deixado.

Max respondeu com um sorriso torto.

– Exatamente, Hazel. Mas vocês não podem deixar que ele saiba o que eu contei. Ele odeia essa narrativa do "pobre menino rico". Ele está apenas tentando se apoderar do próprio destino e fazer algo bom com isso. Na verdade, eu tive a ideia de tentarmos Vallert. Tio Fred já pensava em Vallert para mim, mas não imaginava que Greg também viria. Acabou deixando esse negócio com ele e Greg se sente útil assim, se mostrando competente.

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