33. MENINAS MÁS.

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Desde que Tio Fred conversou com Hazel sobre uma visitação à sua fazenda no final do mês, o simpático patrão tem chamado ela à sua sala todo santo dia para sanar alguma dúvida sobre a vida rural, assunto que parece estar interessando muito a ele. Naquela quarta-feira não foi diferente, e dessa vez a dúvida era sobre criação de caprinos, coisa da qual ela não era muito familiarizada.

Saiu de sua sala um pouco tonta com as perguntas, descendo as escadas para bater seu ponto e ir almoçar. Estava fazendo o turno matutino naquela quarta para cobrir uma folga antiga, já que era dia de prova de recuperação.

Quando pegou sua mochila no armário, viu Greg saindo do banheiro. Ele a viu e olhou o relógio, com uma careta debochada. Tio Fred realmente estava tomando o tempo dela, pois já poderia ter ido embora há mais de quinze minutos.

Ela revirou os olhos para o gerente.

- Eu sei! Você acha que eu estou sendo conivente com as loucuras de seu tio e agora está se deleitando com o quanto ele tira meu tempo - disse, respondendo ao deboche dele.

Greg espalmou as duas mãos, como quem se rende.

- Eu não disse nada, White - falou, com um sorriso presunçoso.

Hazel foi andando com ele até a saída do prédio.

- Pois fique sabendo - começou ela -, que eu estou muito feliz por Tio Fred confiar e gostar de mim. É bom ter um chefe assim, de vez em quando - provocou.

Greg riu um pouco, mas parecia mais amargo do que o seu tom provocativo de costume.

- Então é só isso que você quer? Um chefe que goste de você? - perguntou ele, quando os dois chegaram à porta de saída e Greg virou a placa de "Fechado: horário de almoço."

Ela o encarou um pouco à luz do sol. Ele parecia um pouco sarcástico, ligeiramente triste, como se estivesse se divertindo com algo... Agridoce?

Greg era tão enigmático. Algo nas maneiras dele a deixava um pouco encabulada às vezes, quase que como na noite em que o viu pela primeira vez, naquela festa. Desviou de seu olhar para que ele não a flagrasse ficando acanhada com sua pergunta.

Então murmurou algo sobre estar atrasada para o almoço e despediu-se, deixando-o sozinho na frente da loja.

De fato ela deveria encontrar John no estacionamento principal do campus agora, para almoçarem juntos em um restaurante que ele reservou. Fazia um tempo que não conseguiam se ver com muita frequência. John andava ocupado com as gravações do novo álbum e constantemente precisava viajar ou trabalhar no estúdio alugado.

Hazel tentava ser compreensiva mas, mesmo assim, quando estavam juntos, John parecia estar com a cabeça em outro lugar. Precisava atender sempre que recebia ligações e, quando estavam no campus, ele quase sempre era abordado por seu fã clube, que precisava tratar com atenção. Para piorar, aquelas meninas a tratavam com um desdém e uma hostilidade muito expressa.

Ainda assim, as coisas eram divertidas com John, quando não eram esquisitas. Pelo menos tinham sido, nas primeiras semanas depois do primeiro encontro. Ela estava otimista que esse almoço seria mais um de seus momentos agradáveis com o namorado que era, afinal, realmente "assustadoramente legal".

Ao chegar em uma das laterais ao lado do labirinto, que separava aquela parte do campus da parte principal, havia um bloqueio no caminho. Parecia um cavalete, que talvez indicasse um buraco ou algum reparo com cimento fresco. Então Hazel rumou para a outra lateral, mas viu um grupo de garotas vindo de lá, a encarando.

Era o fã clube de John, ela reconheceu. Normalmente se organizavam nas sete ou oito meninas de sempre, uma delas se chamava Jessica e era extremamente estridente quando gritava por ele ou dava ordens às outras.

Ali naquela direção ela pôde avistar Jessica e mais uma, que a encaravam da mesma forma de sempre, mas pareciam se divertir com algo dessa vez. Elas avançaram em sua direção, caminhando rapidamente, o que a intimidou um pouco. Ela não queria ter que interagir com elas agora. Pensou em dar meia volta, mas de onde veio, vinham mais duas das meninas do fã clube.

Elas a estavam... Cercando?

As garotas se aproximavam mais depressa agora, e ela não teve muita opção senão entrar no labirinto. Era a única parte que não estava bloqueada por elas, e Hazel lembrava como se orientar por lá.

As garotas estavam muito próximas em seus calcanhares, de qualquer forma, e ela já esperava o pior. Elas provavelmente bateriam nela, talvez? Ou apenas a intimidariam? Ela brigaria de volta, mesmo sabendo que estava em uma desvantagem de quatro para uma. Mas as sua maior vantagem ainda seria em correr e conseguir escapar.

Muitas coisas se passavam em sua cabeça agora. Ela nunca imaginou que teria problemas desse tipo com aquele asqueroso fã clube.

Chegando no centro do labirinto, ainda em meio caminho de tomar a entrada para o rumo da saída, avistou mais uma das meninas, já lá dentro, bloqueando seu caminho para sair. Ela sorria para ela em escárnio, então Hazel percebeu que caiu em uma armadilha.

Elas a atraíram até ali, era um lugar perfeito para o que quer que estivessem planejando fazer a ela. Era óbvio agora que até o bloqueio em um dos caminhos foi obra delas.

Estava cercada e, dessa vez, por cinco. Andou de costas até sentir a fonte do centro do labirinto bater na parte de trás de suas pernas, parando-a.

- O que foi, Hazel? Não quer conversar conosco? Quem sabe se juntar ao clube... - provocou Jessica, com um sorriso sádico, tomando a frente do grupo.

Após um longo suspiro, Hazel a encarou de volta, com raiva.

- Vocês são ridículas! - disparou. - Um bando de mulheres crescidas agindo como garotas malvadas de algum filme colegial trash dos anos 90. E por causa de um cara? Vocês ofendem todo o sexo feminino.

As outras tietes fecharam a cara, mas Jessica soltou uma gargalhada.

- Não me venha com discursos feministas agora, vadiazinha! - ela rosnou. - Bem se vê que você não merece o John. Ele não é apenas um "cara", não é como os caipiras fétidos que você deve ter namorado até hoje.

Então ela se aproximou, seguida pelas outras. Logo elas a segurariam para apanhar sem defesa, como as covardes que eram, pensou Hazel. Então ela não tinha muito tempo para revidar, era a sua única chance.

Fechou a mão direita em um punho, para não machucar a sua preciosa canhota que precisava para escrever, e socou com toda a sua força o queixo de Jéssica, que caiu desorientada por uns instantes.

As outras garotas se sobressaltaram, surpresas, mas logo uma ajudou Jessica a levantar-se. Ela cortou o lábio e afagava o queixo com dor.

Seu olhar era de ira fulminante em Hazel, então, com um grito, avançou em sua direção, empurrando-a com violência dentro da fonte.

Hazel conseguiu se virar para proteger a parte de trás da cabeça de bater no fundo da fonte. Mas bateu um dos joelhos com força e, com menos impacto, o supercílio, imergindo sua cabeça de frente naquela água gelada. Ao se sentar e respirar novamente, ensopada, viu que o impacto fez um corte em seu joelho, que sangrava agora.

Preparando-se para a maior surra de sua vida, avistou as meninas se dispersando.

Afastou os cabelos molhados dos olhos para enxergar melhor, e então viu apenas um vislumbre das costas das meninas, fugindo da cena do crime. Mas alguém alto ainda estava de pé na frente da fonte e se inclinou em sua direção, oferecendo-lhe a mão.

Era seu melhor chefe, e não se referia a Tio Fred ao pensar nisso. Era Greg Mitchell.

Além das AveleirasOnde histórias criam vida. Descubra agora