38. OFUSCANTE.

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"Droga! Pare de chorar, sua idiota!", pensou Hazel, enquanto se encolhia cada vez mais no chão do corredor.

Era difícil admitir que aquela cena havia abalado tanto o seu emocional.

Eram os sentimentos mais conflitantes do mundo: a tristeza por não conseguir ter uma interação normal com a irmã, Julie, e a raiva que sentia por ter visto seu pai novamente, depois de tantos anos, sem sequer se preparar para isso.

Ele parecia feliz, levando a sua vida normal e certamente era conhecido na vizinhança como um bom pai e marido, um homem honesto. E não o maldito filho da puta que viveu uma vida dupla por mais de dez anos!

Quando Hazel deu por si, Greg estava parado na sua frente, flagrando aquela cena patética. Ele não deveria estar entendendo absolutamente nada.

– D-desculpe, Greg. E-eu... Eu não deveria ter mentido, deixado você sozinho lá, eu só... Eu juro que isso não vai se repetir – explicou-se, tentando levantar-se e limpar suas lágrimas com a manga do suéter.

Mas Greg agachou-se na sua frente, pousando delicadamente a mão em seu ombro e fazendo-a sentar-se de volta. Ele tinha uma expressão de ternura tão intensa no rosto que ela quase esqueceu por um segundo do que aconteceu.

– Era o seu pai, não era? –adivinhou. Parecia compreensivo.

Como ele podia saber disso?

Antes que ela conseguisse pensar em uma resposta, foi surpreendida pelo abraço brusco em que ele a envolveu.

Agora estavam ambos ajoelhados e ela estava dentro dos braços dele, de novo. Sua roupa tinha o mesmo cheiro reconfortante que no dia em que ele a resgatou da fonte.

Talvez ela estivesse começando a se acostumar com os abraços de Greg, pois sentia a quente sensação de que estava onde deveria estar. Mas, por mais reconfortante que fosse, ainda sentia seu coração disparar toda vez que ele a tocava.

Depois ele sentou ao seu lado, mas ela seguiu com a cabeça em seu ombro.

– Tudo bem – ele disse, finalmente –, eu vi pelo sobrenome dela, que é o mesmo do Matt e também... Eu lembro daquela primeira conversa que você teve com o Tio Fred, lembra?

Hazel sorriu com a lembrança.

– A primeira vez que você me salvou – murmurou.

Antes de tornar isso um hábito, Greg havia livrado ela de uma conversa constrangedora com o Tio Fred ao falar da família, em que o chefe a perguntou por seu pai e ela obviamente pareceu encurralada.

Greg riu brevemente.

– Eu não começaria a contar os salvamentos, se fosse você – disse, afável.

Hazel sentiu que precisava falar agora. Contar a ele sobre o motivo daquela comoção toda.

– Meu pai foi casado por vários anos com minha mãe. Ele viveu na fazenda de meu avô desde que ele ainda era vivo, mas não se envolvia nos negócios deles. Tinha o próprio emprego de representante comercial em Bewitt, por isso passava muito tempo por aqui. Mas também tinha outro motivo: ele tinha outra família. Uma mulher e uma filha da minha idade: Julie.

Greg a escutava em silêncio.

– Eu tinha nove anos quando descobrimos – continuou ela. – Meu irmão caçula, Pierre, era um bebê. Minha mãe sofreu muito, ele já a estava enganando há quase onze anos. A outra mulher aceitou melhor, ela queria poder casar oficialmente com ele e agora poderia, pois minha mãe pediu o divórcio.

"Quando ele veio morar em Bewitt... Ele nos visitava de vez em quando, nos primeiros anos. Mas ficava meses sem nos ver. Eu não sabia se sentia falta dele ou raiva.

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