Além das Aveleiras

23. UM SHOW À PARTE.

Durante toda aquela sexta-feira, após a revelação de John, Hazel estava resoluta de que não iria ao estúpido show da Garlical 4. Mesmo assim, não havia cedido seus ingressos à Lily ou lhe dado o aval de levar quem quisesse com todos os cinco. Deixou os ingressos jogados no fundo da mochila, onde ela não os via, mas também os tinha seguros.

Era estúpido que ainda estivesse guardando-os como se pudesse mudar de ideia. Ela não deveria, não é? Mesmo que pudesse perdoar John, seria algo que levaria tempo. Que ousadia a dele querer que ela fosse imediatamente ver seu show no sábado, como se nada tivesse acontecido.

"Conversamos nos bastidores", ele disse. Ele mantinha suas esperanças, afinal.

Na manhã de sábado, quando saiu de seu apartamento para encontrar Lily e Max para um café na Bakery&Crust, Hazel estava levando sua mochila. Um garotinho que parecia ter seus 11 anos saía pela porta do apartamento da frente, com uma camiseta da Garlical 4.

"Ah, pronto. Isso já é perseguição!", pensou.

– Você que é a vizinha nova? Eu sou Jim! – disse o garoto, gentilmente apertando a sua mão. Era uma gracinha.

– Oi, Jim. Eu sou Hazel, muito prazer – apresentou-se. – Você vai ao show da Garlical na Vallert hoje? – quis saber.

O menino suspirou, derrotado.

– Acabei de descobrir com um amigo que os ingressos esgotaram há duas horas. Mas vou tentar ouvi-los pelo lado de fora.

Ele parecia estar prestes a chorar.

– Ei, veja! Eu tenho ingressos sobrando! – disse, num rompante, tirando os ingressos da mochila.

O garoto a encarou, desconfiado.

– Sobrando? Mas... Por quê? E por que me daria? – sondou.

Hazel suspirou.

– Pode parecer inacreditável, ok? Mas foi John quem me deu esses ingressos. John...Slight – pronunciou o nome completo, com um pouco de desgosto.

Ela destacou um dos ingressos e deu em sua pequena mão.

– Isso é sério, mesmo? – perguntou o garoto, ainda incrédulo.

Hazel bufou.

– Você vai querer ou não? – indagou, impaciente.

– Ei, calma, calma, moça! Eu quero sim. Mas você vai então, certo? Eu sou menor de 14 então preciso ir com um adulto.

Agora ela não sabia o que responder. Afinal, nunca foi realmente resoluta de que não iria, mesmo. E não teve a mesma coragem de dar um segundo ingresso ao garoto para que ele procurasse um acompanhante, pois sabia que poderia vir a usar os ingressos.

Com uma desculpa furada e horrível para fazer o que já sabia que faria, se ofereceu para acompanhar o menino.

Quando encontrou Max e Lily para o café, contou sobre a decisão por ir ao show e sobre acompanhar o garoto. Eles vibraram, mesmo que disfarçando boa parte da empolgação. Convenhamos que apenas haviam combinado uma café da manhã com ela, num sábado, porque tinham esperanças de convencê-la a irem todos ao show, e Hazel sabia disso.

– Mas ainda sobra um ingresso – lembrou ela, depois de destacar os ingressos dos amigos e o seu.

Max pegou o ingresso que sobrava de sua mão.

– Se não pensou em ninguém melhor, Hazel, eu tenho uma amiga que ficaria muito feliz...

Lily riu.