Ao sentar-se à mesa, Hazel suspirou aliviada e encarou suas mãos.
"Espero que mais ninguém tenha visto isso", pensou.
A voz de um garçom lhe tirou de seus pensamentos, sobressaltando-a:
– Boa noite. Gostaria de olhar o cardápio?
Ela apalpou os bolsos, confirmando que não tinha um único tostão consigo.
– Eu vou querer um copo d'água, por ora – respondeu, sorrindo torto.
O garçom deu de ombros e murmurou uma confirmação, um pouco desdenhoso, entrando de volta no recinto. Ela mordeu o lábio constrangida, arrependendo-se de ter saído de casa.
– Você está vermelha como um tomate! Tudo isso só porque saiu de casa sem dinheiro? – zombou uma voz feminina, vinda da mesa ao lado.
Hazel encontrou a autora da observação. Uma garota aparentando ter a mesma idade que ela, de cabelos curtos e loiros descoloridos, com a raiz mais escura aparecendo um pouco. Vestia um moletom largo roxo e coturnos emborrachados, verde limão. Ela sorria divertida e não parecia maldosa em sua zombaria.
– Você deve ser nova por aqui. Se quiser sentar comigo... Eu não iria terminar essa cerveja inteira, mesmo – continuou, apontando para a cadeira à frente com um sorriso.
Hazel inclinou a cabeça, um pouco surpresa com a cordialidade da garota, e não conseguiu evitar responder ao seu sorriso com outro.
Ainda que um pouco hesitante, aceitou o convite. Sentou-se na cadeira que lhe foi oferecida e logo avistou o garçom que trazia sua água. Sinalizou onde estava, e logo que o garçom lhe entregou seu copo, bebericou a água antes de responder a garota.
– Obrigada, hã... Como você sabe que sou nova aqui? – questionou.
A garota riu.
– Foi um palpite de sorte. Você parece muito tímida – respondeu, dando de ombros.
Hazel fez uma careta de descontentamento.
– Tímida a ponto de... Chamar atenção por isso? – perguntou.
A garota agora deu uma gostosa gargalhada e tomou um gole de sua cerveja antes de responder.
– Tímida a ponto de ter vergonha de chamar atenção por ser tímida – concluiu, divertida.
Hazel riu.
– Eu não sou tímida. Só quando não sei o que esperar das pessoas que estão à volta. Poderia chamar isso de... hã... Uma insegurança manifesta – disse, relaxando um pouco.
– Ok, você tem noção de que cada frase que sai da sua boca é puro entretenimento? – observou a moça com divertimento.
Agora ela respondeu com um suspiro.
– E você pelo visto estava procurando uma palhaça para animar sua noite? – perguntou, colocando uma mão no peito e fingindo estar ofendida.
Rindo, a garota se apresentou. Seu nome era Lily. Hazel também se apresentou e contou sobre ser seu primeiro dia na cidade.
Descobriu que Lily já estava alguns semestres à frente e era natural de Bewitt. Também que decidiu fazer Belas Artes. Era ilustradora há alguns anos, mas o emprego não rendia. De qualquer forma, já tinha uma oportunidade de emprego no horizonte.
– Bom, eu tenho um amigo do sétimo semestre, sabe? Ele está fazendo Belas Artes também. Eu ajudei ele nas aulas sobre figura humana. Ele se sentiu bastante grato e então me prometeu a próxima vaga que folgasse no depósito onde ele trabalha.
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Além das Aveleiras
RomanceO que uma caipira, criada em uma fazenda de aveleiras no interior, pode esperar de morar sozinha na cidade? O calor de novas e imediatas amizades, muitas provas para estudar na faculdade e um triângulo amoroso com seu chefe e um astro do rock. Bem v...