14-Meu passado.

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Dylan narrando

Acordo no meio da noite com Sol se mexendo muito na cama e falando coisa inaudíveis. Acendo o abajur e me desespero assim que vejo que ela chorava.

Não sabia se era o certo a fazer, mas não iria conseguir dormir sabendo que ela estava aparentemente tendo um pesadelo que havia chorar ainda adormecida.

- Sol - digo baixo para não assusta-la, mas não tem efeito.

Repito mas dessa vez sacudindo de leve seu corpo.

Seus olhos são abertos devagar, ela olha para os lados antes de me olhar mas assim que seu olhar se encontra com o meu que provavelmente transmite preocupação, a mesma me abraça com força se sentando ao meu lado.

Retribuo o aperto passando as mão em seus cabelos, sinto as suas lágrimas molharem minha camisa, mas não me importo. A única coisa que me importa é a garota assustada que me abraça sem se importar se estou respirando ou não.

A afasto um pouco para encarar seu rosto banhado por lágrimas. Passo o polegar sobre suas bochechas vermelhas tirando as lágrimas teimosas que insistem em cair.

- Está tudo bem? - pergunto e ela abaixa a cabeça parecendo pensar.

- Tive um pesadelo - ela diz aparentemente envergonhada.

- Quer conversar? - digo baixo levantando seu rosto com as pontas dos dedos.

Ela olha para a parede atrás de mim e suspira.

- Fazia cinco meses que ele não me atormentava - diz me olhando.

- Ele quem?

- Meu passado - responde com a voz falha.

Não consigo imaginar o que aconteceu de tão ruim com ela, provável seja algo que envolveu a morte de sua mãe.

- Minha mãe morreu quando eu tinha oito anos - ela diz fechando os olhos.

- Se não quiser..- ela me interrompe.

- Foi meu pai, foi ele que a matou - uma lágrima cai - E eu vi. Ele chegava todos os dias bêbados em casa, era o prazo dele abrir o portão que a gritaria começava. Até que um dia minha mãe disse que iríamos ir embora, ela me mandou ir pro quarto que iria conversar com ele. Pelo visto ele não concordou pois os dois começaram a discutir e um som muito alto ecoou pela casa me fazendo ir para sala onde estavam...

Não digo nada, ela precisa desabafar sem ter a impressão que alguém a julga.

- Solta ela por favor - gritava.

- Já falei para ficar longe se não a próxima vai ser você - o homem desferiu mais um soco no corpo da minha mãe.

- Você não vai tocar nela - Minha mãe se levanta com dificuldade.

Seu rosto está inchado e seu nariz com um rastro de sangue que vai até a boca.

O homem que ela "amava", me joga na parede fazendo minhas costas doerem. Ela se aproxima de mim, e entrega um celular escondido mas antes que ela possa dizer algo a mesma é tirada de perto com brutalidade.

Seu corpo é jogado no chão sem cuidado algum, ouço um gemido de dor. Ele começa a chutar sua barriga enquanto falava alguma coisa que eu não entendia.

Me escondo atrás do sofá e dígito o número da polícia.

- Polícia, qual a emergência? - a voz de uma mulher soa do outro lado da linha telefônica.

- Ele está batendo na mamãe - digo o mais baixo possível.

- Ele quem?

- Meu pai... Me ajuda - lágrimas escorriam em meu rosto liso.

- Onde você mora? - digo o endereço para ela.

- Pode ficar na linha por... - o celular é tirado da minha mão.

Encaro os olhos do homem que deveria ter me ensinado a andar de bicicleta, ter cuidado dos meus ralados, ter Orgulho pelos meus dez nas provas e ter ciúme com meu primeiro namoradinho. Seus olhos refletiam ódio e fúria, sua respiração pesada e seus punhos cerrados.

Ele levanta a mão e me encolho esperando o tapa porém não sinto nada. Levanto meu olhar e vejo minha mãe na minha frente segurando a mão dele.

Em gesto rápido ele a joga em cima da mesa de vidro fazendo diversos pedaços de vidros voarem.

Foram os piores momentos da minha vida, ver minha mãe gemendo de dor a cada chute, soco e até objetos lançados sobre seu corpo.

Ele olha para mim e limpa o suor de sua testa mas antes de dar o primeiro passo em minha direção a porta é aberta com brutalidade revelando quarto policiais armados.

- Polícia mão na cabeça - um dos homens grita.

Meu olho vai direto para minha mãe, ela sorri amarelo enquanto uma lágrima escorre em sua bochecha manchada de sangue em seguida seu olho de fecha e seu corpo relaxa.

Um dos polícias algema o homem enquanto outro vem até mim. Ele diz alguma coisa mas não entendo, só consigo prestar atenção nos outros dois polícias que estão em cima da minha mãe tentando a reanimar.

O policial me pega no colo me afastando de perto da cena.

- Não, por favor - grito em meio a lágrimas - Mamãe acorda, MÃE!!

- Vai ficar tudo bem - o policial diz me tirando da casa

Ela conta lutando contra as lágrimas e eu não estou diferente. A puxo para o meu peito fazendo com que ela me abraça rodeando meu tronco com as mãos trêmulas.

- Eu sinto muito - digo baixo - Ninguém merece passar por isso.

- Ela dizia que o amava e ele a matou, como posso acreditar que o amor é bom? Foi ele que a fez morrer.

Agora tudo faz sentindo, sobre Steve ter dito para eu ter paciência com ela. Sol tem medo, medo de ter um passado trágico igual sua mãe.

- Sol, você teve a concepção errada sobre amor - ele me olha - Amor de verdade não machuca, digamos que o amor "certo" cura e só traz o melhor.

- Mas não tem como saber qual é o certo, e quem é a pessoa certa - diz baixo.

- Você vai saber quando ele der o sinal -aponto para seu coração - Você vai saber quando parecer que seu estômago está repleto de borboletas, quando sentir choques e arrepios por todo seu corpo - suspiro - E vai ter uma pessoa em específico que vai te fazer sentir isso tudo.

Ela desvia o olhar e molha os lábios com a língua, logo em seguida balança a cabeça com uma expressão de surpresa e confusa ao mesmo tempo.

Deito na cama e ela se deita ao meu lado ficando frente a frente comigo. Posso ver seus olhos que expressa confusão começarem a se fechar.

- Se quiser eu te mostro o certo - susurro e seus olhos se fecham por completo.

Continua...

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