Prólogo: A caçada

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O grande guardião, com uma tocha na mão, arremessou uma lança na escuridão da mata que encontrava a praia.

Pássaros levantaram voo, as corujas gritando em alerta acima das copas das árvores.

A moça correu.

Então se escondeu atrás de uma rocha para ouvir o quão próximos os caçadores estavam.

Não fugiria sem lutar.

Mais cedo, ela havia deixado a taberna discretamente, vestindo trajes sujos — uma túnica de manga única e uma capa cinza maltrapilha sobre os cabelos crespos — parecendo mais um mendigo qualquer. 

Mas os quatro caçadores a encurralaram na estrada em seguida.

Conseguira escapar e perturbar a mente de pelo menos dois deles, os mais lentos e fracos, que atacavam pela direita e pela esquerda — estrangeiros como metade do sangue do Império — um usava um arco e flecha, o outro uma besta.

Como já estava exausta de ser perseguida pelas terras tristes, tentou retirar-lhes as chamas da alma e matá-los de uma vez.

Entretanto, percebeu muito tarde que eles estavam distantes demais para o alcance de seus poderes, em comparação a velocidade que os caçadores da retaguarda passaram a se movimentar para alcançá-la.

Acabou abrindo brecha para que o caçador mais habilidoso entre os quatro quase arrancasse com suas cordas metálicas as mãos dela, que estendidas emanavam poder.

Seus pulsos estavam agora com marcas avermelhadas dos apertos das cordas, que tinham feito seu corpo girar, bater o rosto no chão — abrindo um corte na sobrancelha esquerda — e seu braço direito se deslocar, antes de, por sorte, se soltar e escapar.

No rosto da jovem, sangue escorria quando fugiu para floresta.

Seu peito subia e descia rápido, mas pesadamente, devido a agitação.

O coração estava em um ritmo freneticamente acelerado.

Flechas passaram por cima de sua cabeça, acertando uma árvore pequena a sua frente. O metal do qual a ponta era feita era tão forte que a planta se partiu ao meio e a metade desabou. Em sua carne, qual seria o impacto? Pensou. Os olhos negros azulados arregalados.

Sem olhar para trás, a menina continuou a correr em meio a floresta litorânea. Adentrou um pântano.

A umidade elevada fazia-lhe mal, sufocava seu espírito formado a partir das chamas.

Eles deviam conhecer o território. Desejavam a encurralar novamente.

Ela agachou atrás de outra rocha, com muitos musgos roçando em seus pés descalços, tateou o chão em busca de pedras afiadas que a ajudassem a começar fogo, seus dedos tremiam depois de todo esforço e uso de magia.

Quando a faísca surgiu e ela a segurou na palma da mão, as veias de sua palma iluminaram-se em um tom escarlate vibrante. Apenas um segundo se passou antes de uma corda de aço fina agarrar-se de repente ao redor de seu pescoço, puxando-a contra a rocha, enforcando-a ali.

Ela se debateu, seus olhos marejaram e não conseguiu respirar.

O fogo em sua mão se apagou e as veias também.

Olhou pro céu, porém era noite e não veria sua mãe.

Não havia a quem implorar por socorro.

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Sexto Sol: As filhas SolaresOnde histórias criam vida. Descubra agora