Capítulo 9: A prisioneira

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Em outra área isolada do acampamento, mais dentro da floresta densa, a prisioneira estava amarrada a uma árvore enquanto dois guardiões a vigiavam.

Ela tinha feridas no rosto ainda mais recentes do que da última vez que Selena a viu, o que significava que continuava a ser espancada, mesmo que parecesse fraca demais para uma grande reação.

O sentimento de familiaridade e de ter vivido algo semelhante antes passou outra vez por todo corpo de Selena, causando uma sensação ruim no estômago. Trazendo a sua mente relances de lembranças dela própria gritando por Anliss, amarrada a uma árvore na floresta.

— O que temos aqui? — Perguntou um caçador de aparência estrangeira, de longos cabelos loiros.

— É uma prometida do Ar. Ulisses a enviou para cuidar da filha Solar.

— Se não conseguimos fazê-la comer, como uma garota conseguirá? — Quem falou foi o outro guardião, de aparência também diferente a do povo de Orunayé e de corpo esguio, este tinha características que Selena nunca tinha visto, com seus olhos bem puxados. Já seus cabelos eram encaracolados pretos e chegavam ao ombro.

— Talvez ela consiga justamente por isso, veja como é fofa. — O loiro se aproximou e tocou em uma de suas tranças. — Olá meu bem, tem certeza que quer virar uma sacerdotisa?

Selena se esquivou sutilmente.

— Tenho que me tornar. Onde está a refeição dela?

— Aqui. — Orion entregou-lhe uma tigela de barro com sopa de ervas mau cheirosas, podia ser confundida com veneno. — Dondorian, não mexa com a prometida. O Deus pode se zangar com você.

— Eu posso me acertar com ele depois, já matei mais seres malignos do que seria do seu agrado, acho que ele pode me perdoar. — Disse exibindo-se.

Selena o ignorou.

Com a sopa na mão, ela se agachou à frente da filha solar sentada no chão, os lábios grossos dela estavam ainda maiores por causa dos hematomas, seus olhos estavam fechados, o direito inchado e o esquerdo com um pequeno corte no meio da sobrancelha como se tivesse batido em uma superfície dura.

— Podem me dar um pouco de água? — Selena pediu.

— Pegue. — O de olhos puxados lhe estendeu um cantil.

— Isso não é bebida, Xiaun?

— Calado, eu não...

— Podem nos dar um momento? — Pediu Selena.

— Nem pensar. — Dondorian respondeu rindo.

— Vocês a assustam, vejam como treme. Confiem em mim, ela morrerá nesse estado antes de atravessarmos a afluente próxima do Ayé.

Os três se entreolharam.

— Seu líder teria me enviado se achasse que não posso fazer isso?

— Meu líder, provavelmente, não se importa com o bem estar dela, meu bem. — Dondorian disse.

— Acho que ela tem razão, vamos. Não ficaremos muito longe, tome cuidado.

Eles seguiram as instruções de Orion e se afastaram um pouco.

Selena esperou até estarem as duas consideravelmente sozinhas. Depois colocou a tigela de sopa de lado, rasgou um pedaço do próprio vestido e o molhou, começando em seguida a limpar cuidadosamente as feridas da garota.

— Você pode tentar abrir os olhos agora, sei que não está dormindo. — Sugeriu.

Não houve resposta.

Sexto Sol: As filhas SolaresOnde histórias criam vida. Descubra agora