A semana de ritos em nome da consolidação do Grande Império chegou ao fim.
Entretanto, nos corações dos orundas de Salvanostro as bênçãos viriam quando o grupo de guardiões itinerantes da Ordem e seus agregados seguissem a curta viagem até as Terras Sábias — a noroeste — à cidade Honrosa sede da religião imperial, uma das moradas do deus Ar.
O grupo havia aumentado três recrutas e alguns subordinados desde a chegada no vilarejo, provavelmente cresceria ainda mais na partida, sendo acompanhado por comerciantes.
Na manhã após os dias de ritos, orações e festejos, o Patriarca Líder da comitiva se encontrava no salão da pequena família de Selena, agora ainda menor.
Abadu'Moza caminhava pela casa de pedra, abafada e quente como uma fornalha, com um incensário velho, amassado e escurecido amarrado a uma corrente tão decadente quanto, em sua mão. Ele o balançava espalhando uma fumaça sufocante por onde passava.
O patriarca religioso deu uma volta ao redor do compartimento de olhos fechados, parando algumas vezes para sentir algo no ar.
Enquanto isso, o senhor da casa, Rondeão — líder de um aterrorizado clã e pai de Selena — estava sentado na grande mesa, onde costumava fazer refeições com suas filhas. Seus dedos estavam entrelaçados uns nos outros de maneira que o forte aperto mal podia ser notado, seu rosto parecia frio e seus pensamentos eram indescritíveis. Ele olhava para a esposa sentada perto da janela, os olhos dela pareciam enxergar algo longe do lado de fora.
— Senhor, meu líder... — Chamou um dos agregados vindo da cozinha, aparentemente havia entrado pela porta dos fundos, sua feição cautelosa e nervosa.
— Estamos no meio do ritual de purificação, o que tiver que ter comigo deixe para cuidarmos disso mais tarde. — Respondeu.
— Oh... Líder do clã, estou ciente que hoje é o último dia de purificação, mas não sou eu quem quer tratar com o senhor e sim alguém de fato importante.
Neste momento, calmamente, como despertando de um bom sono revigorante, o abadu' abriu os olhos e analisou o agregado.
— Abadu' peço bons auspícios.
O homem inseguro na porta era humilde diante do religioso, embora o patriarca não trajar-se vestes muito melhores do que qualquer caixeiro viajante, o agregado tinha nas roupas sujeira de um trabalhador florestal e o outro vestia uma túnica marrom, de manga única, bem alinhada, tinha argolas de metais presas nas pontas de seus dreads e uma postura que emanava nobreza.
— O Deus trará bons ventos a você! — Disse Moza e virou para Rondeão. — Líder do clã, você pode ir com seu homem, desde que não saia pela porta da residência a sessão de purificação não será afetada. — Sua voz era firme, mas gentil.
Rondeão assentiu e deu uma última olhada na direção da esposa completamente alheia a chegada de uma terceira pessoa no ambiente. As sobrancelhas dele franziram por um breve momento antes de sair para a cozinha.
Abadu'Moza não esperou o dono da casa sair para fechar os olhos novamente, ele caminhou mais algumas vezes dentro do salão até parar na frente da senhora, agora ambos sozinhos.
Anná não levantou a cabeça para olhar para ele, pelo contrário, o religioso levantou seu queixo com os dedos buscando sua atenção, entretanto a mulher continuava com os olhos vidrados no paisagem escaldante do lado de fora.
— Ela ainda está aqui, não está? A filha do sol de sua casa? — Ele sussurrou. — É seu espírito lá fora? Eu duvidei de mim mesmo quando senti o calor dos deuses distinto nela, mas tudo parece que vai incendiar muito em breve neste lugar desde a minha sentença.
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Sexto Sol: As filhas Solares
FantasíaGênero: Novel | Fantasia | GirlsInLove | No Império de Orunayé, os descendentes dos deuses Aço e Sol são perseguidos e sua magia proibida. Selena, um jovem orunda, perde a irmã mais nova e é forçada a servir ao sacerdócio da Ordem como voto de fé d...