Selena não soube ao certo quando sua voz começou a falhar e sua garganta a doer. Sentia seus pulsos em carne viva no lugar onde as amarras a segurava, de tanto puxá-las.
Chorou até cansar e adormecer.
Quando acordou não sabia quanto tempo havia passado. Chovia pesadamente, podia ser dia ou noite. O mundo parecia turvo, a cabeça latejava enquanto sussurrava por Anliss de forma incompreensível a outrem, estava quase totalmente sem voz.
Ouviu burburinhos, pessoas gritando cada vez mais próximo, agoniada não conseguia chamar por ninguém.
Em determinado momento, uma agitação!
Sombras atravessavam seu campo de visão fazendo-lhe perguntas que não conseguia entender. Anliss, Anliss, tentava dizer. Se perguntou se aqueles eram os espíritos protetores da floresta, pois se fossem talvez pudessem ouvir os pensamentos dela, sentir no coração ferido que precisavam achar Anliss.
Selena chorava atordoada.
Sentiu suas mãos penderem nos lados, mas seu corpo não a obedeceu quando quis se levantar.
Braços a ergueram do chão.
No colo estranhamente familiar de um grande espírito, ela cavou enfiando o rosto no peito dele e tentou dizer outra vez: Anliss.
— Anliss? Sim, Anliss. Selena, onde está sua irmã?
O espírito tinha a voz do pai, mas certamente era mais forte, pois ele nunca mais a havia carregado no colo daquele jeito. Embora sempre o fizesse com Anliss, quando ela adormecia em frente a janela com vista aos jardins e a colocava na cama depois. Anliss. Onde está Anliss? Eu não me lembro onde está... ela... ela está em perigo!
— Sim, filha minha, Anliss? Onde ela está?
Selena chorou mais alto.
— Ordem... — Tentou dizer recordando. A voz não saia.
— O que?
— A Ordem.
O mundo, então, sumiu outra vez.
***
Selena sentiu as cobertas sobre sua pele, estava vestindo as costumeiras roupas de dormir. Antes mesmo de abrir os olhos sabia que estava em seu próprio aposento, porém tinha medo que se o fizesse pudesse voltar para aquele pesadelo terrível.
Lágrimas quentes escorriam, suas pálpebras estavam fechadas, voltou a soluçar.
Uma mão quente tocou seu braço.
Abriu os olhos e viu a velha coletora íntima de sua casa sentada aos pés de sua cama. Olhou para lado, mas Anliss não estava no próprio leito.
— Onde? — Conseguiu dizer rouca.
— Esqueça criança.
— Anliss? — Chamou ignorando a senhora.
A mulher fez um barulho pedindo silêncio e levantou para ajeita-lhe as cobertas. Nada fazia sentido, mesmo que aquela irmã orunda fosse membro de seu clã, subordinada a seu pai, não devia estar em seu quarto a resguardando, aquela pintura não estava correta... Onde estava a mãe? O pai? E...
— Anliss?!
A velha se aproximou do rosto dela e murmurou em advertência:
— Não fale mais este nome.
— Onde está?
— O seu pai foi ao templo ontem de madrugada. A deusa Sol é traiçoeira mesmo, colocou uma cria de loba sobre seu teto, disfarçada de cordeiro com aparência estrangeira, uma filha Solar que arruinaria toda nossa terra se os valorosos membros da Ordem não a tivessem descoberto. Ela até queimou os dois guardiões. Foi o que o patriarca Abadu' Moza disse a seu pai. Esqueça que a tivera em sua casa e sobreviverão. — Advertiu.
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Sexto Sol: As filhas Solares
FantasyGênero: Novel | Fantasia | GirlsInLove | No Império de Orunayé, os descendentes dos deuses Aço e Sol são perseguidos e sua magia proibida. Selena, um jovem orunda, perde a irmã mais nova e é forçada a servir ao sacerdócio da Ordem como voto de fé d...