Capítulo 26: O reencontro

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O pavilhão onde estava presa era cercado por uma barreira de água, construída com uma magia poderosa e antiga que não podia compreender. 

A barreira sufocava seu espírito, o peito sendo pressionado no processo. 

Buscava não se movimentar muito para suportar a dor, mas ficava exausta mesmo assim, pois era forçada a manter todas as veias iluminadas, vez por outra, para controlar a temperatura do próprio corpo.

Conseguia sentir a presença dele não muito distante, Ulisses deveria está controlando tudo aquilo: a barreira, os golpes com correntezas quando ela se movia, a dor provocada de maneira mais latente quando fechava os olhos para descansar. 

Ela quase podia escutá-lo respirar em algum lugar e sabia que devia estar sendo duro para ele também. 

Esse último pensamento lhe agradava bastante. Toda vez que forçava o próprio corpo a resistir à prisão, sentia que poderia estar golpeando-o no rosto.

Uma luta sem fim.

Certo dia, estava concentrada ao limite forçando os músculos a enrijecerem, as veias a se iluminarem saltando na face, tentando localizá-lo em algum lugar. 

Talvez pudesse atacar, não apenas resistir… 

Quando ouviu passos distintos dos dos guardiões que vinham sempre alimentá-la, assustou-se pensando ser Ulisses. 

Mas os passos eram suaves, calmos e não prepotentes ou ritmados como os de um guerreiro.

Seu coração acelerou surpreso, quando uma menina vestida de vermelho, com um  véu colorido, predominantemente laranja, preso a uma tiara de contas coloridas na cabeça por cima dos longos cabelos trançados, parou no portal do pavilhão — que sempre esteve aberto — olhando para a camada de barreira líquida com inocente curiosidade.

— Selena?!

Não esperava vê-la ali, notou que não pensara muito sobre o que deveria ter acontecido com a outra desde que ficou presa guerreando contra o guardião da Água. 

No fundo, apenas esperava que tivesse achado o membro de seu clã e fugido, foda-se o sacerdócio, ela era diferente, era uma filha Solar, não seja descoberta, fuja sua idiota, para além das Terras Concedidas. Queria dizer.

Selena ergueu a cabeça encarando o portal, a altura era de três crianças do tamanho dela juntas.

Levantou a mão para tocar a barreira…

— Não! — Gritou a prisioneira, no mesmo instante em que Selena adentrou o aposento.

Mas, surpreendentemente, atravessar a barreira não machucou Selena… 

Em pé, a filha Solar ainda estava com os braços estendidos para frente com a intenção inicial de impedir a outra, enquanto sua boca se fechava lentamente, assistiu a sacerdotisa por a bandeja — que não havia reparado que trazia — em cima da única mesinha do lugar.

Selena se virou para a filha Solar, encarando-a como se a visse pela primeira vez desde que chegou no aposento. Ela piscou e em seguida sorriu, não um sorriso de familiaridade ou lamentação, não havia dor por trás daquele sorriso. Era um sorriso simples, de cordialidade e educação, então puxou a barra das vestes para sair.

— Espere! 

— Sim?

— O que fizeram com você? — Perguntou a filha Solar com estranheza.

— O que fizeram comigo? — Repetiu Selena, parecendo confusa.

A filha Solar deu um passo descrente e incerto até a pessoa que via. Selena não parecia ela mesma. Nas poucas vezes que conversaram, seu semblante era uma luta constante para disfarçar uma tristeza que, mesmo sendo um pessoa dura, a filha Solar sentia como se pudesse compartilhar. 

Sexto Sol: As filhas SolaresOnde histórias criam vida. Descubra agora