O pavilhão onde estava presa era cercado por uma barreira de água, construída com uma magia poderosa e antiga que não podia compreender.
A barreira sufocava seu espírito, o peito sendo pressionado no processo.
Buscava não se movimentar muito para suportar a dor, mas ficava exausta mesmo assim, pois era forçada a manter todas as veias iluminadas, vez por outra, para controlar a temperatura do próprio corpo.
Conseguia sentir a presença dele não muito distante, Ulisses deveria está controlando tudo aquilo: a barreira, os golpes com correntezas quando ela se movia, a dor provocada de maneira mais latente quando fechava os olhos para descansar.
Ela quase podia escutá-lo respirar em algum lugar e sabia que devia estar sendo duro para ele também.
Esse último pensamento lhe agradava bastante. Toda vez que forçava o próprio corpo a resistir à prisão, sentia que poderia estar golpeando-o no rosto.
Uma luta sem fim.
Certo dia, estava concentrada ao limite forçando os músculos a enrijecerem, as veias a se iluminarem saltando na face, tentando localizá-lo em algum lugar.
Talvez pudesse atacar, não apenas resistir…
Quando ouviu passos distintos dos dos guardiões que vinham sempre alimentá-la, assustou-se pensando ser Ulisses.
Mas os passos eram suaves, calmos e não prepotentes ou ritmados como os de um guerreiro.
Seu coração acelerou surpreso, quando uma menina vestida de vermelho, com um véu colorido, predominantemente laranja, preso a uma tiara de contas coloridas na cabeça por cima dos longos cabelos trançados, parou no portal do pavilhão — que sempre esteve aberto — olhando para a camada de barreira líquida com inocente curiosidade.
— Selena?!
Não esperava vê-la ali, notou que não pensara muito sobre o que deveria ter acontecido com a outra desde que ficou presa guerreando contra o guardião da Água.
No fundo, apenas esperava que tivesse achado o membro de seu clã e fugido, foda-se o sacerdócio, ela era diferente, era uma filha Solar, não seja descoberta, fuja sua idiota, para além das Terras Concedidas. Queria dizer.
Selena ergueu a cabeça encarando o portal, a altura era de três crianças do tamanho dela juntas.
Levantou a mão para tocar a barreira…
— Não! — Gritou a prisioneira, no mesmo instante em que Selena adentrou o aposento.
Mas, surpreendentemente, atravessar a barreira não machucou Selena…
Em pé, a filha Solar ainda estava com os braços estendidos para frente com a intenção inicial de impedir a outra, enquanto sua boca se fechava lentamente, assistiu a sacerdotisa por a bandeja — que não havia reparado que trazia — em cima da única mesinha do lugar.
Selena se virou para a filha Solar, encarando-a como se a visse pela primeira vez desde que chegou no aposento. Ela piscou e em seguida sorriu, não um sorriso de familiaridade ou lamentação, não havia dor por trás daquele sorriso. Era um sorriso simples, de cordialidade e educação, então puxou a barra das vestes para sair.
— Espere!
— Sim?
— O que fizeram com você? — Perguntou a filha Solar com estranheza.
— O que fizeram comigo? — Repetiu Selena, parecendo confusa.
A filha Solar deu um passo descrente e incerto até a pessoa que via. Selena não parecia ela mesma. Nas poucas vezes que conversaram, seu semblante era uma luta constante para disfarçar uma tristeza que, mesmo sendo um pessoa dura, a filha Solar sentia como se pudesse compartilhar.
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Sexto Sol: As filhas Solares
FantasiGênero: Novel | Fantasia | GirlsInLove | No Império de Orunayé, os descendentes dos deuses Aço e Sol são perseguidos e sua magia proibida. Selena, um jovem orunda, perde a irmã mais nova e é forçada a servir ao sacerdócio da Ordem como voto de fé d...