Capítulo 7: A partida (Parte 2)

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— Ela está demorando demais para acordar, como poderei partir quando o sol aparecer sem vê-la acordar? — Perguntou Selena ao gru que cuidava de sua mãe.

Sob a luz das velas era possível ver que uma mancha roxa crescia do pescoço ao ombro de Anná, onde tinha sido atingida.

— Não se preocupe criança, ela ficará viva. — Assegurou o gru.

O olhos de Selena estavam marejados e ela apertava os lábios devido à aflição.

— Jovem orunda deve se preparar para viajar. Em breve amanhecerá, além disso, você deve comer algo também, não come nada desde...

Começou a dizer a senhora agregada que vinha a resguardando desde o dia após a ida a clareira, Monmá. Selena a interrompeu:

— Como posso? Como posso fazer qualquer coisa, se ela não acorda. — Então abaixou a cabeça no braço de sua mãe, estava sentada no chão ao lado de seu leito por horas.

— Selena?

Selena levantou a cabeça para ver o pai na porta, o homem havia pedido que a agregada e o sábio gru cuidassem da esposa, mas não ficou com ela um segundo a mais sequer desde que a trouxera para seus aposentos no dia anterior.

— Deixe-a.

— Ela não quer que eu vá. O que exatamente você tem em mente pai, você é o culpado por tudo isso, Anliss, tudo.

— E como exatamente o fato de você ter me desobedecido e saído com a criança para fora desta casa é minha culpa?

— A criança era sua filha e você deixou que a matassem, você não fez nada para evitar.

Ele arregalou os olhos com a acusação.

— Cale-se! E vá embora! Agora! Deixe que ela descanse.— Gritou. A face bronzeada dos povos do vale de Rondeão adquiriu uma cor vermelha de raiva. Ele apertava o pulso fechado do lado do corpo.

— Ela não quer que eu vá.

— Vá embora. — Repetiu.

— PAI...

— Se ao amanhecer você ainda estiver nesta casa, eu irei pedir que a Ordem não a leve como aprendiz, mas como prisioneira.

Selena podia ver a determinação nos olhos de seu pai, ele não mentia, o coração dela doeu outra vez como se tivesse sido apertado, da mesma maneira que doeu quando viu Anliss ser levada. 

A menina encarou o pai enquanto ele ia embora, depois se virou para a mãe desacordada, uma camada de suor cobria-lhe o rosto, mas a mulher não se movia nem um pouco além do movimento de sua respiração.

Selena sabia que precisava proteger Anná, que a tirara do meio das chamas quando bebê e ensinara tudo sobre a dimensão natural e espiritual enquanto crescia, que a acolhera e ainda a amava. 

Se ela insistisse em ficar mais um pouco não sabia o que a Ordem faria com toda sua família e clã ao descumprir um acordo, não tinha como voltar atrás em uma promessa feita ao deus imperial mesmo tendo sido iniciada pelo pai.

— Criança... — O gru a segurou pelas mãos e a olhou nos olhos. — Existe uma luz dentro de você prestes a explodir se permanecer aqui. Você pode lidar com isso?

Selena piscou para o questionamento tão repentino.

— Não entendo, mestre.

— Você nasceu das chamas, criança, quer pôr fogo no mundo agora, porque está ferida demais. Mas esse mundo não começa em nosso vilarejo, nem mesmo termina aqui, somos apenas uma passagem para conflitos e guerras. Seremos os primeiros a queimar, se ficar. Seu lugar não é mais aqui.

Sexto Sol: As filhas SolaresOnde histórias criam vida. Descubra agora