1 - Une fierté

365 37 112
                                    

Utilizando o que resta de suas forças para continuar tentando, Bianca arrasta seus pés pequenos na terra batida com desânimo. Mais um dia sem conseguir um emprego. Sua carteira de trabalho está em branco, seu currículo dentro da pastinha; sem experiência, mas muita força de vontade: faz tempo que ela quer saber como conseguir um emprego.

Ela se aproxima da porta da casa de madeira muito simples onde mora com a mãe e a irmã, Bruna, de 15 anos. A casa é simples, porém muito limpa e organizada, pois a mãe amorosamente ensina as filhas a prezar pela limpeza, então Bianca tira seus sapatos em frente à porta, para evitar uma briga com sua irmã que, pelo horário, havia acabado de limpar a casa.

A vida delas certamente seria mais fácil se pudessem contar com o pai, porém ele foi embora de casa quando as meninas ainda eram crianças, e nunca mais se teve notícia dele. Apesar disso, Bianca se considera sortuda por ter uma mãe que, sozinha, trabalha duro como diarista para trazer o sustento e consegue criar as filhas de forma decente.

Porém a mãe descobriu que está com câncer no estômago. Por isso, quando Bianca não está na rua à procura de emprego, está no hospital com ela, mas a falta de recursos fez com que descobrissem tarde demais a gravidade do problema. A doença está avançada, e sua mãe já usa lenços na cabeça e o corpo está magro e fraco.

Cansada dos problemas, Bianca entra no quarto que divide com sua irmã e se olha no espelho, perguntando-se: Por que eu? Por que não consigo emprego?

Olha seus cabelos cacheados e volumosos, sua pele negra e torce para que os motivos não sejam esses. Acho que nunca vou conseguir, reflete. Ela sabe que não deve pensar dessa maneira, porém se classifica como alguém tão azarada, que ser pessimista é inevitável. Depois de um longo suspiro na frente do espelho, joga-se na cama de colchão velho e fino, desabando em lágrimas.

Por que a vida insiste em soterrar seus sonhos? Por que não pode simplesmente viver em paz? Logo ela, que não tem preguiça de lutar, sonhar e voar tão alto, por que não consegue sair do chão?

Apesar de todas as dificuldades que enfrenta desde seu nascimento, Bianca se recusa a ser conformista. Não importa quão pobre seja e quantos desafios ela tenha enfrentado. Sempre soube qual é o seu dom e se recusa a desistir de seu maior sonho: tornar-se uma Chef da alta gastronomia.

Todos os melhores momentos de que se tem lembrança se passaram na humilde cozinha de sua casa. Em sua infância, vivia rodeando sua mãe, excelente cozinheira, para vê-la preparar as refeições da família. A cada prato simples, mas bem temperado, aprendeu a magia dos ingredientes.

Quando já estava um pouco maior, começou a assistir na televisão programas que ensinavam a cozinhar pratos maravilhosos. Embora não tivesse aqueles ingredientes, prestava toda atenção no preparo e anotava em seu pequeno caderno cada dica que os Chefs davam. Foi em um desses programas que se apaixonou pela culinária francesa. Assim decidiu que esse seria seu destino: estudar culinária na França, mais precisamente em Paris.

Dona Ruth, apesar de todos os perrengues que enfrentava, nunca foi capaz de cortar as asas dos sonhos de suas filhas, então comprou parcelado um livro de gramática francesa com um CD para aprender pronúncias e um dicionário para Bianca, que desembrulhou os presentes em lágrimas. Desde então, ela passa horas debruçada fascinada com o novo idioma. A dedicação de sua filha compensa cada faxina extra que a mãe tem que arranjar para poder pagar por aqueles livros.

Voe alto, minha menina, ela pensava enquanto observava a filha lendo. Voe alto e não deixe ninguém cortar as suas asas.

Naquele dia, depois de ter finalmente conseguido uma entrevista de emprego, Bia tem a sensação de que não foi muito bem. Após entrar em casa com cuidado para não a sujar, ela vai direto para a geladeira; passou a manhã toda sem comer nada e a geladeira está vazia, tem somente um pouco de feijão que sobrou da janta e uma garrafa de água. Ela abre o armário e vê pouquíssimas coisas. Em seguida, vai até o quarto da mãe e para na porta, percebendo que ela aparentemente está dormindo. Entretanto, quando se vira para sair, escuta a voz de sua mãe:

A jornada de uma estrangeira Onde histórias criam vida. Descubra agora