2 - Paris, attendez-moi!

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Os dias se passam e Bianca, mesmo tão jovem, já pode sentir muitas mudanças significativas dentro de si. A dor e o desespero foram gradualmente sendo substituídos pela aceitação e saudades imensas de sua mãe. Sente também, em um canto mais escuro de seu coração, um sentimento que não lhe agrada nem um pouco: a mágoa.

Já tinha provado da sensação amarga de decepcionar-se com alguém quando seu pai foi embora, mas agora é inconcebível para Bia que, no auge da doença de dona Ruth, sua caçula deliberadamente tenha escolhido abandoná-la para viver uma paixão inconsequente.

Nunca se abandona uma mãe, por pior que seja..., pensa ela com tristeza, enquanto as lágrimas escorrem por seu rosto. E a nossa querida mãe, a melhor do mundo, jamais deveria ter sido abandonada.

O desânimo por muitas vezes é maior do que Bianca pensa poder aguentar, mas é muito grata, pois, em todas essas vezes, Joana percebe seu desalento e lhe dá o dia de folga, sem descontar um centavo de seu salário suado.

Certa manhã, enquanto observa a tristeza de sua empregada, e agora amiga, dona Joana percebe que é hora de interferir:

- Minha querida, larga esse rodo e senta aqui comigo para tomar um café.

- Mas ainda não terminei a limpeza.

- Não importa, depois eu te ajudo a terminar. Venha aqui - diz sua patroa, dando tapinhas na cadeira ao seu lado.

Para não a contrariar, Bia larga o rodo onde está e vai se sentar com ela.

- Tenho observado você, Bianca, e estou preocupada. Também percebi que tem comido pouco, minha filha.

Ouvir as palavras "minha filha" é como um soco no estômago. Rapidamente as lágrimas se acumulam em seus olhos.

- Eu entendo sua tristeza, minha querida. Compreendo de verdade porque passei pela mesma coisa, com praticamente a sua idade. Essa dor é como uma estaca sendo cravada no peito e empurrada um pouco mais pra dentro todos os dias, não é mesmo?

- Sim - assente Bia, tristonha.

- Acontece que eu quero te contar a minha experiência para que o mesmo não aconteça com você. Logo após a partida de minha mãe, conheci um rapaz que me fez acreditar de novo que valia a pena viver. Depois de passar por uma dor tão grande, eu não medi esforços para o agradar. Isso fez com que eu me esquecesse de lições importantes que minha amada mãe havia me ensinado. Como resultado, em pouco tempo eu estava grávida do José, sozinha, abandonada pelo pai dele e sem ter a menor ideia de como ganharia o nosso sustento.

Bianca escuta a história atentamente.

- As coisas foram muito difíceis e com muita batalha conseguimos abrir esse restaurante, quando ele já era quase adolescente. Eu sei que não é grande coisa, mas eu tenho orgulho do que conseguimos, pois começamos do nada. Infelizmente o José teve que passar por muitas privações e hoje tem que desperdiçar seu talento nas ruas para ganhar um dinheiro extra, em vez de estar estudando como deveria. - O olhar de Joana fica distante naquele momento, como se toda a sua vida passasse como um filme diante dela. - Enfim, o que o importa não é o que aconteceu com a gente, mas o que vai acontecer com você de agora em diante.

Aquelas palavras gelam a espinha de Bia.

Será que ela vai me mandar embora?, pensa com tristeza.

- O que quero dizer - Joana continua - é que eu não quero que você passe pelo que tive de passar. Você é uma menina linda, jovem, cheia de vida e de sonhos e com muito potencial. Lembro-me como se fosse hoje de quando me contou pela primeira vez sobre o seu sonho de ser uma Chef internacional. Confesso que naquele momento pensei que era muita ambição para uma garotinha vinda do interior, mas conviver com a sua generosidade e seu talento todo esse tempo me fez ver que eu estava errada. Seu sonho não é impossível, Bia, e realizá-lo só depende de você.

A jornada de uma estrangeira Onde histórias criam vida. Descubra agora