IVANA ATACA 2

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Uma observação aproximada confirmou suas suspeitas. 

Algo minúsculo, situado bem na pontinha do pedaço de carne. 

Um ponto de bolor.

Não teria reparado se não fosse pela luz industrial.

Examinou detidamente o restante da carne, e não encontrou outros sinais.

Uma onda de nojo e receio abateu-se sobre ela, forçando-a a recuar um passo e se inclinar perante o balcão.

"É apenas um ponto de bolor", justificou para si mesma. "A carne de um modo geral está boa, ainda mais considerando a sua má procedência. Isto é, para uma carne caída do caminhão... Considerando-se esses fatores é mesmo um milagre que esteja, de modo geral, fresca. Estranho seria se não houvesse ponto de bolor algum. É sinal de saúde. Não fara mal algum", repetia para si mesma.

Espiou por detrás dos ombros, com o canto dos olhos, e verificou que todos se mantinham distraídos e empenhados em suas respectivas tarefas. Então, tomada por um impulso, empunhou firmemente a faca com a mão direita, açoitando furtivamente a ponta embolorada com uma precisão cirúrgica.

— O que está fazendo? — indagou Ivana.

Ivana tinha o costume de surgir do nada. Devia locomover-se pelos ambientes apoiada nas pontas dos pés, com o único propósito de assustar os outros — concluiu Alice.

— Nada. — respondeu.

— Como nada? Está com dificuldade com os cortes? Todas já terminamos, estamos dividindo outras tarefas... Precisa de ajuda? Não é você que trabalha em um restaurante?

— Não preciso, já estou terminando... — disse Alice, enquanto descartava, por debaixo do balcão, a parte embolorada que escondia entre os dedos.

— Está escondendo alguma coisa aí embaixo?

— De forma alguma — disse Alice, dispondo as mãos sobre o balcão.

— Meu Deus! O que é isso no seu dedo?

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