O ATAQUE DO CHUPA-CABRA DA LUA

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— Quero saber quem pode me atender aqui! — gritou um cliente que aparentava ter mais de dois metros de altura. Usava um boné velho, óculos escuros, e uma camiseta apertada da seleção nacional de futebol, que deixava a sua bunda à mostra.

Alice fez um sinal com a cabeça para que James tentasse resolver primeiro.

— Qual o problema-MA senhor?

— Este pastel! Está embolorado, veja! Quero meu dinheiro de volta!

— Senhor, eu sinto muito, mas não tenho autorização para devolução de dinheiro...

— Como assim não tem? Olhe a nojeira que está isso!

— É de queijo gorgonzola — disse Alice — É ainda mais caro, você que tem que devolver dinheiro.

— Você está zoando com a minha cara? — disse o homem partindo para cima de Alice.

— Calma ai! — disse James entrando na frente da colega — Eu vou resolver com a gerente...

*

Quando James explicou a situação, Mei guardou o pastel em um compartimento que havia sob a pia, onde brotavam estalactites e estalagmites de um bolor engordurado.

Em seguida, Mei pegou um pastel congelado e o aranhou com suas unhas longas e imundas antes de levá-lo ao óleo borbulhante.

O cliente já estava quase desistindo quando James retornou com o embrulho para viagem, renovando o pedido de desculpas.

— Desculpa o cacete, seu veado ridículo! — xingou o homem ao sair pela porta.

Mei observou a cena pelo buraco onde os lanches eram transportados da cozinha para o salão da pastelaria.

— James, você está bem? — perguntou Alice, se aproximando em sua direção.

— NÃO SE MEXA-MÁ!!! — gritou James.

Alice congelou instantaneamente, como se fosse um gato carregado pelo pescoço. A última vez que sua mãe a mandara não se mexer foi em virtude de uma suposta aranha que pousara sobre seu ombro. Desde então aquela palavra soava em sua mente como um comando hipnótico de coação irresistível.

— Você está prestes a pisar em uma trilha-MÁ de operárias

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— Você está prestes a pisar em uma trilha-MÁ de operárias...

Alice baixou o olhar de forma cautelosa. Havia uma trilha extensa de formigas, que pareciam se alimentar dos resquícios de seu vômito no assoalho mal limpado, carregando-os até a entrada do porão.

— Você também é defensor do direito das formigas-MÁS por acaso? — riu Alice.

— Sou a favor de toda a forma de vida existente da natureza-MÁ!

Alice respirou fundo, e então trancou a respiração. Foi seguida por James até o almoxarifado que havia dentro da cozinha. Quando abriu a porta, um gato saltou de dentro do armário, junto com o cheiro de um cadáver que escala uma tumba antiga.

— O que você está fazendo? — perguntou James, a pegando-o no colo.

Mulan apareceu atrás do gato, e sibilou algo no ouvido de James, enquanto olhava fixamente para Alice.

— O que ela disse?

— Ela disse que a curiosidade matou o gato!

Neste momento, Mei entrou na cozinha e ordenou para que Alice fosse organizar as mesas, enquanto chamava James para uma conversa, em meio ao odor cada vez mais acentuado.

Quando James retornou, a interrogação que havia sob a cabeça de Alice lhe saltou aos olhos sem que ela se desse ao trabalho de dizer uma só palavra.

— Não sei se entendi ao certo, mas ela disse algo tipo "Deixem as formigas, estão trabalhando, em nossa família somos todos trabalhadores... como formigas". Ou talvez ela tenha dito que "come" as formigas, é uma língua muito difícil de compreender... — disse rindo.

Mei abriu violentamente a porta da cozinha, soltando um cheiro de carne podre e algumas palavras chinesas curtas, em tom autoritário.

James já estava prestes a traduzir as palavras proferidas com uma inconveniência galáctica, digna de um droide de protocolo, quando Alice repousou suavemente o dedo indicador direito sob seus lábios albinos. — Esta parte eu conheço bem, ela sempre fala isso nesse horário... O tão esperado horário de almoço...

— Olha só! Viu como não é tão complicado estudar outras línguas-MÁS? — disse James abrindo sua mochila.

— Tem coisas que a gente aprende na marra... — O que é isso que você está pegando?

— Meu almoço! Quer um pedaço? — disse James desembrulhando um sanduiche.

— É sério que você consegue comer algo neste lugar nojento? Ainda mais depois de tudo que aconteceu hoje? Vamos ao shopping!

— Eu não tenho dinheiro-MÁ!

— Não se preocupe, eu pago o seu almoço. Dinheiro-MÁ não é problema para mim. É o mínimo que posso fazer para agradecer por tudo que me ajudou, mas chame aquela sua amiga rica-MÁ!

— Tudo bem então, mas prometo que te pago depois! — disse James lhe estendendo o mindinho esquerdo. O gesto foi rapidamente retribuído por Alice, selando a promessa-MÁ.

*

Assim que os dois saíram pela porta, Mei ligou o televisor:

— Não perca! Após o intervalo, confira os detalhes sobre a onda macabra que está assolando a cidade! ...E o relato de uma testemunha do que foi qualificado como sendo obra de um chupa-cabra da lua.  Não saia daí!

MICÉLIOSOnde histórias criam vida. Descubra agora