UM CORRIMENTO ESTRANHO

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— Um gole de água para um pobre homem!

Alice já estava pensando que seria assaltada, ou coisa pior, quando Lucas surgiu, dizendo:

— Meu senhor, aceite esta cerveja. Tem umas marmitas que deixamos aos fundos da igreja...

— Muito obrigado meu Anjo! — disse o velho, antes de tomar a bebida aos goles, enquanto se dirigia até os fundos da igreja, com seus cabelos loiros e compridos, há muito não lavados.

— Muito agradecida Irmão! Não sei como te recompensar por isso! Parece que Deus lhe colocou no meu caminho, e, de certa forma, no daquele pobre homem também... — disse Alice.

— Não faço mais que a minha obrigação em ajudar ao próximo!

Os dois se entreolharam por um minuto, em silêncio.

— Ele estava certo! Você realmente parece um anjo! — disse Alice.

— A única anja aqui é você!

— Então nossos filhos seriam anjinhos! — respondeu Alice, ovulando.

Os dois riram suavemente.

— Mas afinal, o que você está fazendo agachada nesta moita? — perguntou Lucas, enquanto mexia no celular.

— Estava observando minhas amigas...

— O que será que elas estão fazendo?

— Não sei, mas pretendo me juntar a elas...

Neste momento observaram que Gabriela retornara do salão, com uma forma, quando foi surpreendida por Ivana, que ressurgiu nos portões da igreja, lhe desferindo um tapa e confiscando o bolo.

Alice levantou para ir ao encontro da amiga, quando Lucas a segurou pelo braço, dizendo:

— Não tenha dó! Essa Gabriela certamente mereceu... Ela não consegue controlar seu apetite. E sua gula se estende em outros segmentos...

— O que quer dizer com isso?

— Todos esses remédios que ela trafica sabe-se lá de onde... Não bastam para aplacar seu apetite. Isso porque seu vazio não é apenas de comida. É uma fome espiritual! É falta de Deus! Não duvido que todos esses remédios que ela toma em pecado a deixem ainda mais inchada...

— É verdade, eu não sei o que fazer com ela... Sinto que está cada vez mais viciada nesses medicamentos para ansiedade... Ela ainda é obcecada por rituais de limpeza. Eu era igual a ela, mas consegui me livrar com a graça de Deus.

— Eu não sei como ela sobrevive comendo tantas porcarias e injetando todas essas drogas químicas no corpo. Conheço um japonês que tem uns produtos naturais que são muito mais eficazes e seguros, se um dia você precisar... — disse Lucas.

Alice baixou a cabeça, se sentindo culpada, a uma por fazer uma fofoca de sua amiga, e a outra por estar nutrindo um desejo impuro por um irmão da igreja, e então prosseguiu:

— Acho que é melhor eu ir embora agora...

— Como assim? Quer ir embora nesta escuridão? Deixe que eu te dou uma carona!

— Não tem necessidade...

— Não é seguro, tem muitos esmoleiros na rua, você acabou de ser atacada aqui mesmo nas dependências da igreja, imagine o que pode acontecer se sair lá fora sozinha!

— Está bem, acho que você tem razão...

Assim Lucas a escoltou até o estacionamento, onde abriu a porta da pick-up, estendendo-lhe a mão a fim de lhe conferir o impulso necessário para o embarque.

Durante o percurso, uma tensão irresistível brotou sobre o motor quente e trepidante, o que deixou Alice ainda mais muda e envergonhada.

Durante o percurso, uma tensão irresistível brotou sobre o motor quente e trepidante, o que deixou Alice ainda mais muda e envergonhada

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O destino de Alice chegou mais rápido que o esperado, então antes que pudesse falar alguma coisa Lucas a beijou.

O beijo foi retribuído, então Lucas repousou a mão direita sobre as pernas de Alice, que por reflexo o barrou.

Ele insiste novamente.

— É melhor pararmos por aqui... O que a igreja iria pensar disso?

— Ninguém precisa saber... Seria um segredo nosso...

Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, ele tocou o carro até a portaria do condomínio. O portão se abriu sem nenhum questionamento.

Então ele estacionou o carro, e a acompanhou até seu apartamento.

Assim que entraram, ela trancou a porta e foi até a geladeira, pedindo para que ele se sentasse na bancada da cozinha, e ficasse à vontade.

— Você aceita um whisky?

— Não sabia que você bebia...

— Tem muitas coisas que você não sabe sobre mim... — disse Alice, enquanto fitava um retrato antigo de sua família, fixado acima da geladeira.

Então ela reacendeu o incenso afrodisíaco, enquanto preparava os drinks.

Os dois brindam bebendo um gole.

Porém assim que Lucas tentou tocá-la novamente, ela sentiu um corrimento estranho.

— Me desculpe, eu nunca fiz isso antes... Preciso ir ao banheiro.

— Sem problemas! — disse Lucas, com a cara de quem ganhara na loteria.

Lucas observou atentamente o fechar da porta do banheiro, e então despejou algo no copo de Alice. 

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