Capítulo 36 [Perceber]

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2020
Gizelly

Eu não tive tempo de chorar quando, depois de levarem uma pequena amostra do meu sangue por alguns minutos, os enfermeiros voltaram com o resultado positivo de DNA. Toda a busca que tinha tomado conta dos meus últimos dias tinha chegado ao final, muito antes e bem diferente do que eu tinha imaginado, mas tinha. Eu tinha um filho e ele precisava de mim agora. Então eu engoli toda a emoção que me inundou no momento e me preparei para entrar na sala de cirurgia. Lá dentro me acomodaram em uma cadeira ao lado da mesa de operação que abrigava o corpo pequeno do menino e me conectaram com Léo de uma forma que eu nunca havia me conectado antes. Um tubo fino levava meu sangue para as suas veias, mas era maior que isso. Me permitiram segurar a mão dele que não recebia tubos com a minha que também estava livre enquanto reiniciavam a cirurgia.
Era difícil vê-lo assim. Tão pequeno, tão exposto, tão aberto - literalmente. Por um segundo achei que não ia aguentar estar ali, presenciar tudo aquilo, evitava olhar, focando no teto acima de mim. Mas quando senti sua mãozinha segurar o meu dedo com firmeza eu olhei para o seu rostinho desacordado e soube que aguentaria qualquer coisa pra ver esse menino crescer bem. Ainda tínhamos muita coisa pela frente.


- Srta. Bicalho, está tudo bem por aí? - uma médica se direcionou para mim e eu demorei alguns segundos para entender que era comigo.

- Oi? Sim, tudo tranquilo.

- Nós terminamos a cirurgia, ocorreu tudo bem. - ela sorriu para mim enquanto todo o meu corpo perdia a tensão - Vamos retirar as agulhas e colocar você em um quarto para repouso, você quer ser alocada junto com seu filho?

- P-por favor. - senti meu coração flutuar e as palavras falharem ao mesmo tempo em que eu ouvi a palavra filho vinda de outra boca - Na verdade, seria possível que ficássemos os dois no quarto 605?

- Vou checar, já voltamos para buscá-los.

Enfermeiros retiravam as agulhas do meu braço e da mãozinha de Léo. Poucos minutos depois acomodaram-no em um berço como o que Sofia ocupava mais cedo e de uma maca eu acompanhei o caminhos enquanto nos direcionavam para os quartos. Eu ouvia as rodinhas do berço e da maca contra o chão e resisti a urgência de perguntar se eles tinham conseguido me colocar no quarto que eu havia pedido. Soube que fui atendida quando consegui ver o rosto de Rafa se iluminar ao ver o berço entrando no cômodo. A médica explicou novamente como a cirurgia havia acontecido e que ele acordaria quando o efeito da anestesia passasse. Ela posicionou minha cama em frente a da Rafa e o berço de Léo ao meu lado e deixou o quarto onde Rhelden agora também estava, com Sofia já acordada no colo. Alessia dormia ao lado de Rafa na cama.

- Gi, você está bem? - ouvi a voz da minha namorada, mas não conseguia ver seu rosto, mesmo que nossas camas estivessem frente a frente. Tentei alcançar o botão para levantar a cama, mas não consegui.

- Espera aí apressada. - Rhelden levantou com Sofia no colo e apertou o botão pra mim - Você precisa descansar.

- Obrigada. Eu tô bem Rafa e o Léo também, deu tudo certo na cirurgia. Ele foi um campeão.

- Ele é, desde o começo. - ela sorriu e tomou fôlego para iniciar alguma fala que exigia mais atenção. Rhelden também percebeu e se levantou.

- Eu vou deixar vocês sozinhas para conversarem.

- Rhel, não precisa. - parei ele no caminho - Precisamos sim conversar, mas esse não é o momento. Foram muitas emoções no dia e todos aqui precisam descansar.

- Você tá certa Gi, mas me deixa só dizer obrigada pelo que você fez hoje. E também por trazer o Léo para cá.

- Você não precisa agradecer, eu sei que você estaria preocupada e iria querer ver ele de perto. Melhor ficarmos todos juntos.

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