Capítulo 39 [Perceber]

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2020
Bianca

Era incrível ver como Gizelly estava se dando bem com o novo filho. Não que eu duvidasse que isso aconteceria. Nem por meio segundo, ela sempre foi uma mãe incrível. E o menino que era sempre quietinho parecia até mais feliz, como se uma parte estivesse faltando nele tivesse se encaixado agora. Eu estava observando minha amiga com o filho no colo enquanto ocupava o chão com a minha afilhada e os brinquedos novos que eu trouxe para as três crianças que agora ocupavam aquela casa. Demorei para perceber que o clima ainda não estava tão bom entre a Gi e a Rafaella. Elas organizavam nosso churrasco de domingo com tanta sincronia que eu demorei para notar o olhar quebrado que Rafa direcionava para Gi toda vez que ela se afastava. As conversas estavam normais, elas estavam se tratando bem, mas algo tinha acontecido.


- Tia Bia, presta atenção aqui na brincadeira! - uma cara franzida me tirou dos meus pensamentos e eu tive vontade de morder aquelas bochechas, mas me contentei em apertá-la no meu colo e encher de beijos.

- Desculpa meu amor, eu só estou um pouco preocupada.

- Com a mamãe? - sorri e acenei com a cabeça, como era possível que uma criança tão pequena entendesse tudo assim? Por sorte Gi se aproximou, me livrando de ter que explicar minhas preocupações para aquela mini-gênia.

- Lelê, vai lá acordar a Soso e prender o Jack pra mamãe, por favor. Daqui a pouco o almoço fica pronto.

- Tá bom mamãe! - a pequena correu para dentro e eu me levantei para ficar ao lado de Gizelly.

- A Sofia ainda está dormindo? Já passou do meio dia.

- Ela tá, dorme igual uma pedra. Ás vezes acorda, come e dorme de novo. E de noite fica mais animada que qualquer um.

- Parece você, tem certeza que ela também não é sua filha?

- Engraçadinha! - ganhei um tapa no braço - Sim, ela parece comigo, parece com a Lelê, mas são só coincidências. Essas são, pelo menos, esse menino aqui é que nos enganou direitinho, parecia ser tão diferente, mas agora eu vejo várias semelhanças.

- Ele é a Alessia de cabelo curto, você sabe disso né?

- Sei, agora eu sei. - ela riu e seu olhar passou pela área externa, o sorriso diminuindo ao passar por Rafa. Não precisei verbalizar a pergunta que eu faria - Nós terminados. Quer dizer, eu terminei com ela.

- Sério?

- Sim, ela omitiu algo muito grande, algo muito importante pra mim. - ela pareceu pensar um pouco - O bichinho da desconfiança me mordeu.

- Ela não ia fazer com você o que a Marcela fez.

- Eu sei, acredito que a mentira não duraria mais dias, que foi um momento apenas. Mas é difícil confiar plenamente também.

- Não tem volta então?

- Eu não sei, gosto que ela esteja aqui, fico feliz quando ela faz parte da casa sabe? Quando ela faz a Lelê sorrir ou quando me olha com aqueles olhos verdes hipnotizantes.

- Tudo bem se você precisar de um tempo, não precisa resolver tudo agora. - abracei ela com um braço só, fazendo cafuné um pouquinho antes da Mari nos chamar falando que o almoço já estava pronto - Pensa direitinho no que vai fazer bem pra você.


Gizelly

O que Bianca falou fez muito sentido pra mim: talvez eu só precisasse de um tempo, de digerir tudo. Eu ainda me sentia confusa com todos os acontecimentos da última semana, mas gostava da rotina que estabelecemos em casa. Nós cinco. Os dias estavam sendo tão a nossa cara que era difícil não curti-los. Mas não parecia ser assim pra Rafa e isso ficou um pouco mais visível depois da nossa conversa, ela estava sempre com o olhar triste e se mantinha mais no canto dela. Não era isso que eu queria, não existia nenhum pensamento ruim em mim em relação à Rafaella, não seria possível guardar rancor quando eu entendia o que ela tinha sentido - e enquanto ainda a amo mais do que eu podia imaginar. Mas todas as vezes que eu pensei em continuar nosso namoro eu senti um aperto lá no fundinho do peito e uma vozinha chata me perguntava se eu iria conseguir ter certeza que ela não esconderia mais nada de mim. Tinha a outra voz também, a que me falava que eu podia confiar naqueles olhos verdes e no carinho com que eles me olhavam. Era uma briga diária. E eu quase me convenci a deixá-la ganhar quando conversamos dois dias atrás, não porque ela chorou e isso corta meu coração, mas porque eu acreditei nela, eu realmente acreditei. Aí veio aquela sensação ruim, aquele questionamento involuntário já citado, dando um chute na minha confiança e fazendo a briga dentro da minha cabeça começar de novo. Talvez eu quem precisasse de algum tempo agora.

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