2018
Marcela
Eu conheci Gizelly quando eu estava no meio da minha faculdade de medicina e ela era uma caloura de direito na mesma universidade. Foi uma festa engraçada na república de algumas amigas minhas e eu achei que ela nem se lembraria de mim no dia seguinte. Mas ela me procurou dizendo que tinha perdido a sua chave na casa da festa e que eu tinha cara de quem conhecia os donos. Conhecia mesmo, mas nunca encontramos a chave. Minha conversa com a caloura continuou e durante alguns meses ela deixou bem claro que tinha interesse em me ver mais vezes. No início eu fui porque ela era uma menina atraente e eu não tinha nada a perder mesmo, mas não estava tão entregue como ela parecia estar. E nem queria, no meio de uma faculdade de medicina eu não precisava me comprometer com mais nada. Durante quase dois anos a gente se encontrava às vezes e ficava sempre que isso acontecia, além de festas aleatórias.
Foi depois de algumas discussões, alguns gelos e um quase namoro dela com uma outra menina da faculdade que eu vi que não podia deixá-la passar. Desde então estávamos juntas, quase dez anos do nosso primeiro beijo. Hoje morávamos em uma casa grande, eu estava exercendo ginecologia e obstetrícia em uma clínica renomada especializada em reprodução humana e Gizelly fez seu nome na advocacia, compondo a equipe de um escritório famoso também. Mais ou menos dois anos atrás, através de uma inseminação artificial com o óvulo da Gi, eu gerei Alessia. Nossa família gerava um quadro bonito, mas não estava sendo bem assim nos últimos meses. A cada dia que se passava eu sabia que eu tinha que dar um jeito nas coisas, mas eu não sabia como. Eu estava cansada de chegar da clínica e viver os mesmos dias sempre. Eu não queria soar ingrata, porque eu sabia que a Gi estava dando o seu melhor para equilibrar emprego e casa, ainda era ela quem acabava com as maiores responsabilidades da Alessia. Nossa filha também era incrível, sempre cheia de carinho pra dar e longas conversas na língua embolada que ela falava. Mas era isso? Nada mais ia acontecer na nossa vida? Tentamos viajar, mas não achamos data. Mudamos alguns móveis de lugar.
E no meio disso eu conheci Beatriz. Não foi de propósito, mas aconteceu. Antes de um plantão eu esperava meu almoço no restaurante perto do hospital quando ela apareceu e perguntou meu nome. Nem me lembro bem como começamos a conversar, mas logo trocamos números para poder levar a conversa além dali. Era uma amiga, inicialmente, até o primeiro encontro. Sei que tinha algo errado desde o começo por eu nunca ter contado para a Gi sobre sua existência, mas o envolvimento foi acontecendo naturalmente e eu não quis parar. Beatriz sabia que meu casamento tinha perdido a graça e me deu motivos para ficar animada com meus dias de novo. Com o passar dos meses a culpa inicial que eu sentia ao mentir pra Gizelly foi desaparecendo e aquela vida dupla virou o meu normal.
Até o dia que ela descobriu tudo. Eu sabia que eu estava errada e vários pedaços em mim se quebraram quando eu vi a dor nos olhos dela ao descobrir a traição. Eu sei que não faz sentido, mas eu não queria machucá-la. Quando eu olhei pros olhos dela o dia que ela descobriu, terminei tudo com a Bia e implorei pra que ela não fosse embora. E ela ficou, no quarto de hóspedes, mas ficou. Os meses foram passando e eu sabia que estávamos longe de uma situação ideal, mas ela ainda estava ali. Seus olhos tinham dificuldade de encontrar os meus e, quando ela finalmente voltou para o nosso quarto, parecia existir uma barreira invisível entre nós na cama. Eu tentava pensar em como melhorar aquilo todos os dias, mas não sabia o que fazer além de pedir desculpas. A melhor ideia me ocorreu em uma tarde de domingo enquanto Alessia brincava no chão da sala e eu dividia o sofá com Gizelly, que tinha sua atenção plena no filme a sua frente. Assim que acabou ela se levantou com o balde de pipoca, agora vazio.
- Deixa que eu levo para cozinha. - me levantei rapidamente e sorri, pegando o balde de sua mão antes que ela desse mais um passo - Mas me espera aqui.
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Impulsos
FanfictionA advogada Gizelly começa a encarar de frente a nova vida de solteira após o fim de um relacionamento de dez anos com Marcela. A nova fase pode ser desafiadora, ainda mais quando uma das partes não facilita. E depois de tantas quedas, não é fácil en...