Capítulo 34

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(Diana Guerra)

Quando Miguel ligou para mim dizendo que tinha uma coisa para me mostrar, eu não esperava que fosse me trazer para um hospital  psiquiátrico. Manicómio. Me sinto desconfortável dizendo essa palavra, mas infelizmente é a certa.

Ver aquela mulher naquele estado, perdida na sua própria loucura, me fez pensar no quanto ainda devia valorizar o que sinto, o que penso e o que ainda sou capaz de aguentar.

Eu sempre digo que toda essa montanha russa que é a minha vida está me enlouquecendo, mas quando você vê a verdadeira loucura, você sente que nem está lá perto.

Meu pai sempre dizia que nos tornamos a imagem de como vemos nossos pais... espero que ele esteja errado. Não é nem um pouco moral pensar assim, mas o que é certo mesmo?

- Porquê me levou até lá? - pergunto por fim, eliminando o silêncio que se manteve desde que entramos no carro.

Do lado do motorista Miguel suspira, eu sei que ele esperava essa pergunta, assim como eu quero a resposta. Espero ter uma resposta melhor do que " não faço ideia". Para estar confusa já basta uma pessoa aqui.

- A minha mãe tentou suicido quando eu tinha 7 anos. - ele começa, ainda sem olhar para mim e totalmente imerso em pensamentos. - Eu não entendia muito bem o que acontecia na época, e nem pouco sei agora. Mas eu sempre senti que ela não era feliz, sempre senti que meu pai nunca a fez feliz. Antes de se perder...- se interrompeu. - Ela me fez prometer que não abandoaria meu pai, que ficasse do lado dele o tempo todo. Me fez perceber que ele precisava de mim, para não acabar como ela, já que foi a solidão que a magoou. Na verdade, ela continua me pedindo isso.

- Eu sinto muito...

- Eu nunca fui embora, eu aguentei e vivi de tudo e quando eu achava que não tinha como piorar, ele arranjava forma de me provar o contrário. - eu conseguia sentir a raiva e o ressentimento, apenas pelo seu tom de voz. - Eu nunca entendi porquê ela ainda o ama. Porquê ainda o protege e nem porquê me obriga a viver por ele. Talvez porque ela queira que eu faça o seu papel, seguindo ordens e obedece-las sem questionamento. Um empregado, para todos os efeitos. - humedece os lábios antes de continuar. - Meu pai deixou minha mãe apodrecer naquele lugar, esqueceu da existência dela e nem se preocupa em saber como e se ainda está vivendo.

- Eu ainda não entendi porquê está me falando isso. - interrompi, confesso que pode ter parecido impiedoso, claro que eu me importo pelos seus sentimentos e óbvio que se pudesse, eu tentaria diminuir sua dor. Mas eu não tenho como ajudar, eu tenho como mudar nada, não sozinha, só preciso saber o que ele quer de mim com tudo isso.

Espero que não tenha depositado em mim uma falsa esperança.

- Para mostrar o quão sério estou falando quando digo que quero ajudar você. - diz não se importunando com a minha interrupção. - Você quer acabar com o que vem acontecendo e ...

- Mais do que qualquer coisa. - interrompo de novo, e mais uma vez ele pareceu não se importar.

- Assim como eu! E antes que pense em recusar minha ajuda, eu devo ser sua melhor hipótese de conseguir. - concluiu.

- Como acha que nós dois sozinhos, vamos conseguir fazer alguma coisa? - pergunto segurando o riso. Eu sei que a intenção é boa, mas por favor, estamos falando de tentar travar uma guerra entre famílias poderosas. Adoraria que fosse um sonho possível, e infelizmente não é.

É loucura pensar de outra forma.

- Não acho, tenho certeza. Porque só eu sei como acabar com tudo isso de uma vez.

Ele fala e preciso confessar que me deixou um pouco intrigada, mais ainda acho uma loucura colocar tanta confiança em si mesmo.

- Cortar o mal pela raiz? - tento acompanhar o seu raciocínio, nem sei porque estou perdendo meu tempo fazendo isso. - Do que está falando?

Diana Guerra [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora