- Mel, eu estou implorando.
Alice tentou se levantar e acabou se encolhendo entre a mesa e o sofá. Claramente estava sentindo muita dor. Merda! Eu achei que o bife seria suficiente. O quanto esta maldita terá que comer para ficar saciada? O que essa imbecil tinha na cabeça para ficar 3 dias sem se alimentar?
- O que você quer comer?
- Você.
Não é como se eu não soubesse qual seria a resposta. Alice simplesmente se jogou sobre a mesinha de centro, para cima de mim, igual um gato tentando pegar um pássaro. Desviei facilmente, minha velocidade e minha agilidade são alguns dos benefícios de ser vampira. A dependência, por sangue humano e a progressiva alergia ao sol, são as desvantagens.
Mesmo fraca, a vagabunda não caiu de cara no chão, pousou graciosamente. Como eu odeio isto nela. Sempre foi assim: bonita e graciosa, até quando está enlouquecida de fome.
- Vamos Mel, não se faça de difícil.
- Foi por isso que você veio para cá? Eu sou só um alimento fácil?
Ela novamente se jogou em cima de mim, e não me pegou por pouco. Consigo sentir o cheiro de lavanda, mel e suor. Minha vontade de ir em sua direção e agarrá-la, contudo, eu já passei por isso vezes demais para cair nesse truque barato do cheiro irresistível.
- Comida, sim! Fácil, nunca!
Eu simplesmente parei. Ouvir aquelas palavras me deixou num estado de fúria que eu não sentia a muito tempo. Marchei em direção a Alice com um sentimento de puro ódio.
- Escuta aqui sua vagabunda, você vem na minha casa, arromba a minha porta e tem a coragem de me chamar de comida?
Eu me armei para acertar um soco muito bem dado nela.
- Eu não sou mais a menininha apaixonada que faz tudo que você quer, Alice.
Tentei acertar um soco nela, mas ela desviou, segurou meu braço e me jogou em cima do sofá. Mais que rapidamente ela subiu em mim, colocou os joelhos em meus ombros e segurou meus braços acima da minha cabeça. Ela estava calma e até sorrindo um pouco.
- Só te irritando muito, para conseguir te pegar. Ás vezes você é tão fácil de prever mel.
Ela se curvou e chegou próximo ao meu rosto.
- Não se preocupe, só vou pegar um pouco da sua força.
Eu consegui sentir algo quente saindo de mim, seria a minha raiva? Provavelmente.
- Nossa Mel, quanto ódio você tem de mim? Sua energia está tão intensa que sinto até um pouco de febre.
Aos poucos o ódio foi passando e eu comecei a me sentir meio dormente e sensível. Ela estava muito perto de mim e seu cheiro era inebriante demais a esta distância.
- Alice, sai de cima de mim.
Eu tentei me levantar, mas ela me segurou com mais força e pressionou seus joelhos contra meus ombros firmemente. Como esta anã consegue segurar uma vampira desta forma? Vampiros são naturalmente mais fortes, velozes e ágeis que um ser humano, possuem uma visão mais ampla e conseguem enxergar em baixíssima luminosidade.
Alice é uma humana. Tem uma doença rara que ninguém sabe muito sobre. Quando fica faminta, ela perde totalmente o controle, ficando com força e agilidade acima de um humano, mas, mesmo assim, ela nunca teria força suficiente para segurar uma vampira jovem que bebeu sangue a menos de uma hora.
Quanto mais ela me sugava, mais fraca eu me sentia e menos chance de me soltar eu tinha. O que eu deveria fazer para me ver livre dela?
- Sua energia é tão boa mel. Eu só quero mais um pouco.
Quando ela falou isso, uma lembrança me veio à mente, algo que aconteceu há mais de dez anos, algo que faria ela me soltar com toda certeza. É covarde, mas, ela também foi quando me atraiu na base da fúria.
- Acho que dessa vez você consegue terminar o que começou naquela noite, não é mesmo?
O resultado foi instantâneo. Senti a onda de calor parar de sair de mim, e meus braços se afrouxaram das pequenas mãos de Alice. Ela estava inerte em cima de mim.
Assim que consegui soltar minhas mãos, joguei-a em cima da mesa de centro.
- Você ficou maluca Alice?
Alice ainda estava jogada em cima da mesa, imóvel, sua cabeça estava virada para o lado oposto de minha visão.
- Você ainda me culpa, não é? Por aquele dia?
- Te culpo por muitas coisas, Alice. Quer que eu classifique por data, tamanho ou grau do vacilo?
Alice virou seu rosto para mim. Seus olhos que sempre foram dourados, estavam totalmente pretos. Eu nunca tinha visto isso antes, mas, não podia ser um bom sinal.
- Foi um acidente. Eu não queria fazer aquilo, era para você se sentir bem. Você se sentiu bem, não sentiu?
- Alice, não vamos falar disso agora.
- Você me culpa, a Sara me culpa, todos me culpam.
- Alice, ninguém te culpa por aquilo. Nem mesmo eu. Eu estou bem! Só queria que você saísse de cima de mim.
- A culpa não é minha, eu não pedi para nascer assim. Eu não queria fazer mal.
Uma gota de sangue saiu pelo olho direito da Alice. Mas que porra está acontecendo?
- ALICE ME ESCUTA! NÃO FOI CULPA SUA! EU QUE PEDI PARA VOCÊ FAZER AQUILO!
Não sei se foi o grito ou o que eu disse, mas, os olhos de Alice voltaram ao normal. Ela sacudiu a cabeça e sentou na mesa de cabeça baixa, em silêncio.
O silêncio pareceu durar horas quando o sol se levantou.
- Alice, levanta. Você não pode ficar aí. Vamos dormir. Daqui a pouco eu tenho que trabalhar. Amanhã você me conta o motivo da visita. Hoje eu não tô mais com saco de lidar com você.
Ela não falou nada. Apenas me seguiu para o quarto de hóspedes.
- Espera aqui. Vou buscar algo confortável para você colocar depois de tomar banho.
Fui no meu quarto e peguei uma blusa branca bem grande e um short macio. Parecia uma combinação confortável de usar. Voltei para o quarto de hospedes e Alice permanecia no mesmo lugar. Será que eu realmente fui longe demais?
Bom, não é hora de arrependimentos. O tempo não é algo que pode voltar, então só me resta ajudar esse projeto de vagabunda hoje e enxotá-la amanhã.
- Eu tomei banho enquanto você desmaiou, vai lá. É a porta no fim do corredor.
Ainda em silêncio, ela foi para o banheiro. Deve ter demorado uns 10 minutos para sair. Estava vestindo as roupas que emprestei, que estavam enormes nela. Parecia uma criança usando as roupas do pai.
- Mel.
Finalmente ela falou algo.
- Oi.
- Ele está aqui na cidade. Ele me atrapalhou em um trabalho e eu provavelmente vou ser presa se você não me ajudar.
- Ele quem, mel?
- O assassino da Sara. O degolador.
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ALMA VAZIA
Mystery / ThrillerMelanie é uma policial dedicada e Alice uma assassina fria. O que elas tem em comum? A mãe adotiva que foi brutalmente assassinada durante uma investigação. Após 10 anos de afastamento, o destino das duas é interligado novamente. Um novo assassin...