23 - Medo

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Eu não posso acreditar em tudo que tá acontecendo. Minha mente está explodindo, Meu Deus!

Minha cabeça… sinto como se ela fosse explodir.

Como pode ser possível? Minha mãe... Minha Alice… elas… mentiram para mim minha vida toda. E eu, burra, acreditei.

Minha mãe, minha heroína, a pessoa em que sempre me espelhei, na verdade tinha uma vida dupla e sombria. Isso me assusta. Me dá um frio na espinha só de pensar. E pra piorar, ela preferiu mostrar esse lado apenas para a Alice. Minha mãe não confiava em mim, minha própria mãe.

Como se já não fosse revoltante toda essa história da minha mãe, isso é… será que ela realmente me considerava filha dela? Bom, não importa. O que realmente importa é que ela treinou a Alice para ser uma assassina meio humana. E, aparentemente existe uma chance de que eu possa voltar a ser humana. Os vampiros são do mau. Tem outras raças além de humanos carniçais e vampiros e ninguém nunca me contou nada.

Pensar sobre a minha mãe como uma caçadora de recompensas ou uma assassina… é meio assustador, principalmente se a polícia realmente for tão corrompida quanto estão tentado me fazer acreditar. Claro que eu não sou ingênua o suficiente pra acreditar que a polícia é um lugar cem por cento justo, mas fazemos o possível para lidar com os crimes da forma correta.

Eu realmente não sei o que eu devo fazer. Eu fui ensinada a vida toda sobre como estou fazendo o bem pela humanidade. Sobre como os vampiros estão limpando as zonas de carniçais para o bem dos humanos.

Se existe uma possibilidade de não matar os carniçais com essa tal vacina que a doutora fala, por que mais ninguém está trabalhando nela? Não é possível que não exista outras pessoas trabalhando nessa cura milagrosa, se ela for possível, óbvio.

Eu não tenho mais tempo pra ficar pensando nessas coisas. Preciso bolar um plano para sair daqui. Não tem a mínima condição de eu ficar com essas duas insanas. Quem me garante que Alice e a doutora estão falando a verdade?

Eu precisava parecer calma. Se a Alice é realmente a assassina que todos na polícia estão atrás, qualquer sinal de que eu não vá cooperar, ela, com certeza, me matará. Parando pra pensar agora, ela outro dia me ameaçou de morte.

Assim que chegamos na casa da doutora, Alice foi para algum lugar que eu não sei bem onde é e a doutora me levou para o andar de cima e me alojou em um quarto que me parecia muito familiar. Como se eu já tivesse ficado nele antes. Eu meio que parei em choque na porta do quarto e a doutora se virou para mim e falou:

- Sim meu bem, esse foi o quarto que você ficou no dia da sua transformação. Você só ficou aqui no primeiro dia, como estava muito fraca, tivemos que te levar pro hospital depois. A Sara teve muitos problemas pra explicar o motivo da sua transformação repentina, mas ela sempre dava um jeito de resolver as coisas.

Aquele dia, eu me lembro de pouca coisa: Lembro dos beijos da Alice, das promessas no pé do ouvido e… do frio. Depois disso, eu lembro da dor aguda do veneno. De acordar e gritar com a dor daquele fogo nas minhas veias. De ver essa parede rosa clara e o quadro com rosas vermelhas. Me lembro de acordar no hospital, de beber sangue pela primeira vez, igual um animal. Lembro da Sara chorando, dizendo que não era isso que ela queria para mim, me implorando perdão, dizendo que havia falhado comigo. Me lembro… que a única pessoa que eu queria ver aquele dia, não apareceu. E ela não apareceu por meses. Quando Alice finalmente deu as caras, ela estava… diferente. Dura. Fria. Ela apenas falou que sentia muito e foi para seu quarto.

Eu comecei a me sentir meio mal. Com calafrios e minha mão começou a tremer. Eu não sabia o que estava acontecendo. A doutora percebeu que eu não estava me sentindo bem. Ela me pegou pela mão e me fez sentar na cama.

- Meu bem, eu tenho que ir consertar a cagada que Alice fez. Senta aqui, descansa que já já eu volto com algo pra você comer e poderemos conversar sobre tudo com mais calma.

Eu apenas afirmei com a cabeça e a doutora foi embora, fechando a porta do quarto. A sensação que eu tive quando ela fechou a porta, foi que o cômodo ao mesmo tempo se expandia e diminuía… vi uns pontos pretos e comecei a sentir algo indescritível.
Eu precisava sair desse lugar e rápido. Eu sentia um pânico absurdo, uma urgência de que se eu não saísse desse inferno de lugar, eu talvez nunca mais fosse sair.

Com muito esforço eu consegui chegar na porta que, pra minha surpresa não estava trancada, desci as escadas e fui para a porta da frente e essa estava trancada. Eu olhei em volta e vi que tinha uma mesinha onde a chave da porta estava. Eu peguei a chave, abri a porta e disparei noite à fora. Eu não conhecia o bairro, estava sem meu celular e eu senti a crise de pânico se instaurando dentro de mim. O que eu devia fazer? Pra onde eu devia ir?

Eu tentava andar, mas minhas pernas não me deixavam sair do lugar. Eu estava com medo. O que eu deveria fazer?

ALMA VAZIAOnde histórias criam vida. Descubra agora