Depois daquele encontro pavoroso com o mister Rússia, perdi a total vontade de escalar. Fui para a área das esteiras e comecei uma supercorrida para aliviar o stress causado por aquele bundão.
Sei que não deveria me importar com esse preconceito besta que os humanos têm contra os vampiros. Na verdade isso não faz nem sentido pra mim, pois nós salvamos os humanos e mesmo assim, os ingratos, insistem em nos humilhar, como se os vampiros fossem tão horrendos quanto os carniçais. Claro que não são todos os humanos que são assim. Tem os malucos também. Tipo as igrejas pregando sobre como os vampiros na verdade são anjos enviados por Deus. Que os vampiros são a face misericordiosa de Deus. A mais conhecida é a igreja dos anjos de sangue do pastor assassinado João Mafalaia.
Eu converso muito sobre isso com o Pereira. Ele é um dos poucos humanos que me parece uma pessoa normal, e por isso, se tornou um dos meus melhores amigos. Ele sempre me fala que o motivo da desconfiança dos humanos vem da época antes dos carniçais, quando os vampiros eram conhecidos como os vilões da cultura pop: sedentos por sangue, com medo de cruzes e alho, isso sem falar que, na visão dos humanos, se um vampiro saísse no sol, ele sofria combustão espontânea. Um bando de sandices sem fundamento nenhum.
Depois de correr até sentir aquela pontada embaixo da costela, tomei um banho no vestiário, peguei minhas coisas e fui para o estacionamento pegar meu carro. Enquanto andava tranquilamente em direção ao meu bebê, tive a impressão de que estava sendo seguida. Quando olhei para trás, me dei conta de que estava completamente sozinha no estacionamento, não que isso fizesse alguma diferença.
Logo que entrei no carro recebi uma mensagem do Pereira me convidando para ir no bar. Como eu não tinha nada melhor para fazer e a companhia do Pereira é uma das melhores do mundo, a meu ver, topei na hora. Coloquei uma música animada no som do carro e parti rumo a Vamperz.
O trânsito estava tranquilo, então em pouco mais de 10 minutos eu estava estacionando na vaga mais aproxima do barzinho que eu e meu amigo tanto adoramos. Ele tem uma boa cerveja, boa música e gente bonita, tudo que se precisa pra se curtir uma noite.
Eu entrei no bar e vi o Pereira sentado numa mesa para duas pessoas e em sua frente tinha uma caneca de cerveja. Ele tinha um semblante sério e olhava constantemente o celular. Quando me viu, deu um largo sorriso e acenou indicando o assento vazio.
- Eaí Garcia, como tá sua folga? Foi ver seu namorado ou ficou lá naquela maldita academia?
- Sabe que fazer exercícios não vai te matar, certo?
Pereira ganhou peso desde que entrou para polícia, ele foi de recruta gostosinho com tanquinho para policial de filme americano com pancinha de chopp em 2 anos. Acho que desde a formatura na academia que ele não faz exercícios.
- Eu me alongo todo dia, Mel. Depois como um pão com manteiga e omelete de presunto… alongar me deixa faminto.
Ele disse rindo. Eu revirei os olhos e disse:
- Você é tão guloso que me da preguiça.
Ele ia retrucar quando a garçonete apareceu. Coincidentemente era a mesma garçonete que havia me cantado a poucos dias. Ela estava vestida com uma mini saia vermelha e uma blusa branca que tinha um decote bem grande. Ela trazia uma cerveja, que provavelmente o Pereira teria pedido, já que a dele estava quase acabando
- Olha quem voltou pra me ver.
Ela disse sorrindo enquanto me servia a cerveja.
- Será que hoje você me passa seu número?
- Querida, nós não pedimos essa cerveja.
Pereira disse, ele estava com uma cara mau humorada.
- Eu sei disso, querido. Eu só queria trazer um agrado pra essa gatinha.
A garçonete disse enquanto saía. Ela se virou e piscou pra mim. Fiquei muito sem graça. Eu não sabia o que fazer. Ou será que sabia? Eu sei que ela só tá dando em cima de mim por eu ser vampira.
- Pereira, espera aqui.
Não dei tempo dele responder. Peguei a cerveja e segui a garçonete até o balcão, onde coloque a cerveja ao lado dela e disse:
- Desculpa, mas não posso aceitar esse presente.
- Porque? Seu namorado ficou putinho?
Ela disse olhando para nossa mesa. Eu me virei e olhei para o Pereira e vi uma bola rosa de ódio. Acho que ele também entendeu que a garota só deu em cima de mim por eu ser vampira.
- Não somos namorados, somos colegas de trabalho.
- Você já avisou isso pra ele?
- Ele tá puto porque você só tá dando em cima de mim porque eu sou vampira.
A garçonete olhou pra mim e pareceu segurar o riso. Ela é realmente muito bonita. Bonita o suficiente pra ser uma modelo talvez. Estou começando a me perguntar por que essa garota trabalha nesse bar.
- Eu to dando em cima de você porque você é gostosa, porra. Você realmente acha que eu to dando em cima de você por ser vampira? Isso nem faz sentido.
- Mas no outro dia você disse…
- No outro dia, seus amigos estavam dando em cima de mim e aquela foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça pra dar o fora neles.
De repente um silêncio constrangedor se instaurou entre nós duas. Será que ela está falando a verdade? Olhando para ela agora, ela parece estar muito ofendida pela insinuação de que ela só queria sair comigo por eu ser vampira.
- Olha garota, eu não sei que com que tipo de pessoa você sai, mas sinceramente, nem todo mundo quer virar vampiro.
Ela puxou um guardanapo e escreveu algo. Ela pegou a cerveja e o guardanapo e entregou em minhas mãos.
- Eu não vou mais te incomodar, mas se quiser conhecer uma pessoa realmente legal e que não liga se você é humana, vampira ou uma merda de carniçal, me liga. Agora eu vou trabalhar. Bebe essa cerveja antes que ela esquente.
Eu olhei o papel e comecei a rir enquanto voltava pra minha mesa. No papel estava escrito “Alice Vamperz” e um número de telefone.
- Por que você tá rindo?
Pereira perguntou de cara amarrada.
- Por que essa cara de bunda, Pereira? Parece que você tava num funeral.
- Né nada não, Mel. Diz ai, o que ela falou?
- Ficou falando que não era por eu ser vampira que deu em cima de mim e me deu o número de telefone dela.
Eu mostrei o guardanapo para ele, que arregalou os olhos e quase cuspiu a cerveja que tinha acabado de beber.
- Melanie do céu. Você sabe quem é ela?
- Uma garçonete gata que quer muito sair comigo?
- Não. Ela é a dona do bar que é muito gata e quer sair contigo.
Nós nos olhamos e começamos a rir.
- Um brinde a minha amiga gostosa que chama a atenção até das donas de bares.
- Fala baixo seu imbecil. Ela pode te escutar.
- Tu vai ligar pra ela, né?
- Eu não sei ainda.
- Como assim você não sabe? Você tem o dever de sair com ela.
- Mas eu nem sei se quero sair com ela.
- Mel, você é hétero?
- Que?
-Tipo. Eu sempre achei que você fosse lésbica, mas parando pra pensar agora, eu nunca vi você se interessar por mulheres… ou homens… ou qualquer tipo de ser humano…
- Eu só não saio com muitas pessoas.
- Você já saiu com alguém?
- Já.
- Quantas pessoas?
- Uma.
- Essa pessoa realmente existe?
- O que você está insinuando?
- Sei lá… vai que a pessoa que você saiu é, na verdade, seu amigo imaginário.
Eu dei um tapa nele. Nossa noite seguiu desse jeito até umas 3 da manhã, brincamos, conversamos, rimos. Quanto tempo fazia que nós não conversávamos dessa forma, sozinhos? Não sei. Queria sair mais com ele.
- Mel, tá dando minha hora. Falando em hora, eu esqueci de te avisar que o delegado quer falar com toda a equipe do departamento amanhã. Quer dizer, hoje.
- Que horas é pra tá lá?
- Meio dia.
- Beleza então. Você sabe do que se trata?
- Ainda não sei, Mel. Mas parece que a coisa é séria. Provavelmente é uma investigação grande e séria.
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ALMA VAZIA
Mystery / ThrillerMelanie é uma policial dedicada e Alice uma assassina fria. O que elas tem em comum? A mãe adotiva que foi brutalmente assassinada durante uma investigação. Após 10 anos de afastamento, o destino das duas é interligado novamente. Um novo assassin...