Alice não sabe mesmo como se comportar. Ela ficou muito puta porque eu disse que prenderia o assassino da mamãe. Cara, isso é o certo a se fazer! O que ela espera que eu faça? Aja como uma bárbara justiceira ensandecida? Tudo aconteceu há dez anos e eu não posso fazer nada em relação a isso, além de evitar que o degolador faça mais alguma vítima. Eu sei que é injusto, mas é o certo a se fazer.
Após nossa conversa, Alice foi embora. Ela ficou tão puta que achou melhor ficar em qualquer outro lugar, disse que voltaria no próximo sábado pra ouvir as novidades. E disse também, que investigaria pelas ruas, mesmo que eu não saiba como uma prostituta pode se sair bem em qualquer investigação. Se bem, que provavelmente ela tem vários contatos justamente por ser uma mulher das ruas.
Eu fiquei meio chateada com a saída abrupta da Alice, mas não vou deixá-la estragar meu dia de folga. Peguei minhas roupas de ginástica, meu equipamento de escalada e fui para o estacionamento pegar meu carro, um new beetle branco superfofo. Vou me divertir na academia.
Eu não sou uma mulher de muitos luxos, contudo faço questão de me exercitar na melhor academia de todo São Janeiro do Norte, a Corpus Flex. Eu pago uma mensalidade caríssima, contudo tenho direito de usar todas as áreas da academia, desde a esteira até a área de massagem tailandesa, mas, minha parte favorita é a área de escalada com paredes que variam de três a dez metros de altura cheias de pedras coloridas parafusadas e cordas para você prender seus equipamentos e poder escalar tranquilamente.
Normalmente, quando chego na academia, eu dou uma corrida na esteira, falo com minha personal trainer, que me indica os aparelhos que devo usar para meu treino do dia, após um árduo treino, eu vou me divertir escalando e me jogando de uma parede para a outra. Quando me canso de todo esse treino, relaxo na sauna a vapor pra depois ir pra casa. Esta é minha rotina na academia.
Hoje eu não estou muito a fim de malhar, quero apenas escalar e pular como um macaco prego atrás de uma carambola macia. Fui direto para a área de escalada, como é de madrugada, vi umas 2 pessoas apenas, provavelmente vampiros, escalando nas paredes mais baixas, cada uma com um instrutor, devem ser novatos nessa área. Escolho uma das cordas penduradas e prendo meu gancho de segurança nela, depois de checar meu equipamento de segurança mais uma vez, começo a subir.
No começo, vou subindo devagar, tentando me concentrar em meus músculos e em que lugar devo me segurar ou pisar. Depois dos primeiros 3 metros de subida, começo a me jogar de um lado para o outro, me segurando com uma mão apenas, me catapultando para a próxima parede. Eu sei que esse não é um jeito seguro de escalada, mas definitivamente é o mais divertido.
Cheguei na parede mais alta da sala de escalada. Em sua volta, no teto, tem várias pedras para se agarrar e pendurar. Eu gosto bastante de me pendurar lá em cima, então eu comecei a escalar rapidamente até o topo. Conforme fui escalando, senti uma presença. Olhei para baixo e vi um homem de aproximadamente 50 anos, com cabelos brancos amarrados em um rabo de cavalo, escalando rapidamente, ele parecia querer chegar na parte mais alta, assim como eu.
Meu espírito de quinta série logo apareceu, eu não ia deixar aquele velho chegar no topo antes de mim. Então, comecei a escalar ainda mais rápido, comecei a me jogar para o alto como se minha vida dependesse disso, porém parece que o homem se sentiu da mesma forma e começou a se catapultar o mais rápido que conseguia também. Logo estávamos lado a lado, tentando chegar ao topo da parede.
Nós escalamos como se nossas vidas dependessem disso e acabamos chegando empatados no teto. Lá eu comecei a me balançar de uma pedra para outra. O velho decidiu fazer o mesmo, ele não parecia estar se divertindo pois estava muito sério. Ele observava meus movimentos e logo depois tentava copiá-los.
Eu tentei me jogar para agarrar uma pedra que estava muito longe, porém, minha mão passou de raspão pela pedra, e eu me vi em queda livre, senti meu como se eu não tivesse peso nenhum. A queda, com certeza, doeria até meus ossos.
Eu estava preparada pra me esborrachar no chão, quando senti um puxão repentino. O homem que estava me imitando, de alguma forma, conseguiu segurar meu pulso. Foi uma cena que, provavelmente, durou apenas um segundo, ele segurou meu pulso e me balançou com toda a sua força de volta para a parede. Eu me agarrei em duas pedras e logo depois consegui encaixar meus pés em outras duas. O homem voltou para a parede e em silnêcio começou a decida, vagarosamente.
- Pô, valeu pela ajuda. Essa queda ia doer pra burro.
O homem permaneceu em silêncio. Eu comecei a descer e reparei melhor nele, ele era grande e musculoso, seu rosto era largo e quadrado, tinha um começo de barba bem fina, um cabelo branco comprido, amarrado em um rabo de cavalo e uma cicatriz que ia da sua sobrancelha esquerda até a raiz de seu cabelo. Ele não me respondeu, apenas continuou descendo em silêncio.
- Você não é muito de falar, certo?
Será que esse velho era surdo?
- Meu nome é Mel. Qual o seu?
- Meu nome é Nicolai.
Ele falou depois de um tempo, tinha um sotaque estranho, parecia ser russo ou alemão.
- Você é novo na academia?
- Vim treinar um pouco. Eu não quero perder minha boa forma. Treinar é importante!
- Sei bem como é, eu me sinto assim também. Meu corpo é um templo e eu tenho que cuidar dele como tal.
Nicolai soltou uma risada.
- Isso é besteira menina. Seu corpo é uma máquina, cabe a você saber como vai usá-la.
- Como você usa a sua?
- Isso não é de sua conta.
- Nossa que grosso.
Depois desta grosseria, descemos os metros faltantes em silêncio. Quando chegamos ao chão eu decidi que deveria agradecer apropriadamente ao Nicolai.
- Cara, eu queria te agradecer melhor por você ter me salvado...
- Não precisa menina.
- Não quer comer alguma coisa? Ou beber algo?
- Não preciso de nada vindo de uma vampira.
- Qualé, sério isso? Me salva e depois me ofende.
- Não é nada pessoal.
Ele se virou para ir embora e eu agarrei seu pulso.
- Qual é a sua, seu velho caduco? Primeiro me salva, ai você é grosso comigo, agora fica de preconceito besta só porque eu sou uma vampira? Por que me salvou então?
Ele se virou para mim. Vi olhos azuis, frios como o inverno da Rússia. Definitivamente esse homem veio daquela terra gelada e assustadora. Ele segurou meu braço muito forte e se soltou de mim. Seu sotaque ficou ainda mais carregado quando falou:
- Porque eu achei que você era humana, menina. Se eu soubesse que você sobreviveria a queda, nunca teria te salvado.
Ele bufou de raiva e saiu marchando para fora da área de escalada. Eu não faço a mínima ideia de quem ele era, mas já o odeio completamente.

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ALMA VAZIA
Misterio / SuspensoMelanie é uma policial dedicada e Alice uma assassina fria. O que elas tem em comum? A mãe adotiva que foi brutalmente assassinada durante uma investigação. Após 10 anos de afastamento, o destino das duas é interligado novamente. Um novo assassin...