01 - Mel

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Eu estava andando tranquilamente pela rua, quando vi um homem suspeito perseguindo uma moça. Ela andava rápido e ele a seguia tranquilamente, e sem que eles me percebessem, fui atrás. A situação era perigosa demais para deixar de lado. Eles viraram em uma rua pouco iluminada e eu apertei o passo para conseguir chegar a tempo. Assim que virei a esquina vi o homem aproximar cada vez mais da moça e, ao invés dela sair correndo, se virou para o homem e o puxou para perto.   

Será que eu estava enganada? Eles se conheciam? Eu só estava imaginando coisas? Eu já estava prestes a dar meia volta quando o homem tentou sair desesperadamente dos braços da mulher e não conseguia; por isso, decidi me aproximar. Quanto mais perto eu chegava, mais eu via ele tentar sair dos braços dela, mas sem êxito. Puxei minha arma e gritei:

- Policia! Solte este homem agora! Deixe suas mãos onde eu possa ver!

Ela soltou o homem, deixando-o cair como um boneco no chão. Ele ainda está vivo?    Tentei ver o rosto da mulher que estava na escuridão, vi, então, os olhos dourados que conheço tão bem, e aquele sorriso cínico de lado.

– Ei mel, eu ainda estou com fome.

- Alice?

A mulher correu em minha direção e eu atirei. Acordei com um sobressalto, sonhei com ela de novo.

Alice. Não importa quantos anos se passem, eu ainda penso nela todos os dias. A garota estranha que minha mãe trouxe para nossa casa. A pequena Alice, a doce Alice, a vadia da Alice, a faminta Alice. Inteligente, linda, meiga e extremamente persuasiva. Qualquer um fazia tudo que ela queria, incluindo minha mãe. Incluindo... eu?

Bom, não importa agora. Ela se foi e não vai voltar. Não importa se ela me usava ou não. Essa vaca se foi há muito tempo, não sei nem se ela está viva ou morta. Tenho que me concentrar na minha vida, na minha carreira, meu futuro.

A partir de hoje, trabalho para Polícia Civil na área de crimes contra humanos. É um cargo importante, eu trabalhei duro para chegar neste dia. Anos de bons serviços, sendo uma policial exemplar. A mulher por trás de cada apreensão. Passei anos sentada atrás de uma mesinha do departamento para ter a chance de ser mandada a campo. Mal posso esperar para comandar meu primeiro resgate de humanos em cativeiro.

Ainda meio surpresa por sonhar com aquele projeto de vadia, tomei meu banho e me arrumei com a minha melhor roupa de trabalho. Tomei meu café da manhã: "alimento proteico com base de sangue sabor morango", gostoso e nutritivo. Fui para o ponto de ônibus próximo ao prédio em que moro e peguei a condução que me leva até a delegacia. Não queria ir de carro hoje, pois combinei com alguns amigos de sair após o expediente.

Tenho certeza que se minha mãe estivesse aqui ela estaria muito orgulhosa de mim, afinal, eu estava seguindo meus sonhos. Me tornei uma vampira defensora de humanos. Vou garantir que todos sejam tratados de forma justa e vou protegê-los de qualquer carniçal ou vampiro que ouse desrespeitar as leis.

- Senhorita Garcia, na minha sala por favor.

O Delegado Silva me chamou assim que pus meus pés na delegacia. Roberto Silva é um homem humano de quase 60 anos, é quase totalmente careca e os cabelos que restam são de um tom acinzentado. Daqui a 3 anos ele vai se aposentar e, espero eu, ser a próxima delegada. Assim que entrei em sua sala ele começou:

- Seja bem-vinda a nossa delegacia senhorita Melanie, estou muito satisfeito com sua promoção. Não é comum ter vampiros que entram para a polícia, normalmente as pessoas de sua raça preferem entrar para Brigada Especial ou trabalhar em grandes corporações.

Eu odeio esse tipo de discurso! É tão superficial, já ouvi vários discursos parecidos desde minha entrada como cadete. Seria tão mais simples me deixar trabalhar em paz e me tratar como qualquer outro policial deste setor.

ALMA VAZIAOnde histórias criam vida. Descubra agora