Capítulo dois

1.7K 215 206
                                    

Depois de uma longa sessão de xingamentos finalmente a garota pôde se acalmar, mas ao ouvir a narração de o que Double disse à loira seu sangue ferveu novamente. Elu não tinha o mínimo de senso pra chamar a garota de "loira gostosa" ou usar o termo "estou sedenta para experimentar deste belo patrimônio que você possui" ou piadas muito piores do que você, leitor, poderia imaginar. Seu arsenal era imenso e Catra odiava a maneira como elu se vangloriava por isso.

-Você deveria me agradecer, gatinha rabugenta, eu adiantei 5 anos de conversa em 5 minutos, você é muito lerdinha. -Disse sorrindo afiado vendo que sempre consegue afetar a irmã com suas provocações rasas.

-Double, sai! -A garota rosnou, sentindo suas orelhas queimarem. Aproveitou a distração risonha delu com os pequenos detalhes e jogou o seu travesseiro com toda a força que podia, acertando em cheio o rosto de Double que chorava de rir, sua expressão logo se tornou falsa raiva. Elu pegou o travesseiro e sorriu travesse, indo pra cima da garota que gritou ao notar o que aconteceria a seguir. -Não, capeta, some daqui. Só não vai chorar pro papai depois.

Catra pegou o outro travesseiro que estava confortável em sua perna, firmando o aperto enquanto se levantava indo atrás du garote que mantinha o sorriso presunçoso no rosto. Depois de 10 incansáveis minutos de puro pé de guerra, a garota finalmente se jogou em sua cama afirmando estar exausta, Double entendeu, jogando o travesseiro pra ela e mandando um beijinho no ar ao sair. Ela riu baixinho e voltou o olhar para seu celular jogado em seu colchão, pegou ele extremamente receosa e desbloqueou a tela, respondeu com a desculpa mais esfarrapada que poderia "meu celular foi hackeado, eu não vi, sinto muito por isso" gargalhou alto com a própria cara de pau e enviou a mensagem, logo perguntando como a loira estava. Aproveitou o tempo livre pra vasculhar o insta da menina misteriosa, ela sorria em todas as fotos, um sorriso aberto e que estranhamente lhe passava uma energia acolhedora, arrepiou inteiramente quando viu uma foto específica, Adora estava com roupa de treino junto de um loiro bem parecido com ela, cara de sonso e fazendo poses estranhas pra foto, parecia ser seu irmão, a loira estava com uma cara séria, mas não deixava sua energia amigável nunca, de braços cruzados era possível perceber que a garota era um tanto quanto musculosa. Mais um arrepio, mas que porra? Chacoalhou a cabeça afim de se desviar do devaneio, aquela foto lhe deixava nervosa, precisava confessar.

-Adam é um completo idiota. -Sussurrou a legenda vendo que ela havia marcado o que provavelmente era o tal Adam. -Adam Grayskull, interessante.

Entrou no perfil do garoto e percebeu que realmente ele era seu irmão ao ver, de cara, uma foto antiga em família, ela riu com gosto da maneira como Adora parecia abobada e tinha aquele topete estúpido e perfeitamente arrumado desde sempre. Enquanto vasculhava o perfil de ambos, já encontrando metade de sua família e rendido ótimas risadas com a idiotice de Adam. Uma mensagem da garota vibrou em seu celular e ela sorriu ao receber. Decidiu que engajaria uma conversa interessante com ela e não se conteve ao fazer, buscando perguntas e assuntos mais aleatórios que poderia, a fim de conhecer melhor a tal garota. Aquilo estava sendo interessante.

Quebra de tempo

Já era madrugada. 4:47 pra ser mais exata e Catra havia conversado com Adora literalmente o dia todo sem enjoar, era engraçada a maneira como cada assunto gerava outro e cada vez mais risadas. Aquilo estava sendo novo pra garota, nunca teve tanto interesse em conversar com alguém, não dessa forma e isso a deixava confusa. Não haviam ouvido a voz uma da outra, não ainda, e Catra pingando de sono se assustou com a mensagem que acabara de receber.

"pode me ligar? é rápido"

Dizer que não estava curiosa pra ouvir a voz da loira seria uma mentira e tanto, ainda estava receosa de como ela iria agir ao ouvir sua voz, parecia que a garota lhe deixava insegura como ninguém nunca conseguiu, mas por incrível que pareça aquilo não a assustava.

"assim que estiver pronta, estou esperando"

Não disse mais nada, colocou seu fone de ouvido e apenas esperou que a garota fizesse o resto. Passou se alguns minutos de pura tortura interna seu celular brilhou mostrando que Adora estava lhe ligando. Dramaticamente esperou alguns segundos para atender, e demorou mais alguns segundos até que desse a primeira frase.

-Hey Adora. -Disse baixo e a maneira como a sua voz soou rouca e sonolenta lhe assustou, mas o arrepio que lhe passou ao ouvir Adora falar foi simplesmente insuperável.

-Hey Catra. -Disse no mesmo tom, não demorou muito até que a morena se engasgasse na própria saliva e tossir desesperadamente. -Catra? Você tá bem? O que aconteceu, eu estou preocupada, me responde! Catra!

-Ca-alma. -Disse ainda arrepiada na maneira em que seu nome soava como melodia na boca da loira. Esqueceu completamente que ainda estava engasgada e se embolou mais ainda no próprio desespero, quase desmaiando sem ar. - E-eu só... Só engas-guei, tá tudo be-em. -Cada palavra era uma tosse e a morena se amaldiçoava amargamente por deixar que uma besteira dessas acontecesse. LOGO AGORA, CATRA? VOCÊ É UM CABAÇO! -Passou, tudo certo.

-Promete? -Catra apenas murmurou um "uhum" -Você me deixou realmente preocupada. -Disse Adora com a voz nitidamente risonha.

-Engraçadinha, sei que está rindo de mim, não gostei. -Murmurou num tom rude falso, ela conseguiu deixar a loira extremamente nervosa ao tentar se explicar, era fofo. -Bobinha, estou brincando, de onde você é? Não nos perguntamos isso ainda, estranho né. -Riu do que disse vendo a loira entrar na onda novamente.

Quebra de tempo

Já faziam fucking duas horas que elas estavam em ligação e era impossível desligar, o assunto sempre parecia surgir de maneira natural e aquilo as prendia completamente. Eram quase 7h da manhã e Catra estava se sentindo exausta, já podia ouvir o cansaço nítido na voz da loira também, bastou alguns segundos pra que ambas dissessem juntas.

-Sono... -Risadas baixas e mais uma vez falaram juntas.

-Boa noite Adora.

-Boa noite Catra.

Não durou muito até que Adora, ainda consciente pudesse ouvir os ronronos baixos de Catra, seu sorriso aumentou e ela se permitiu fechar os olhos, deixando a paz a levar da maneira mais calma, cuja jamais pudera. Adora era o tipo de pessoa alegre e feliz mas carregava o peso de seu heroísmo, era protetora e preocupada, sempre querendo ajudar e salvar a todos antes de si mesma. O tipo de pessoa que se jogaria de uma ponte pra salvar a vida de qualquer pessoa, sim ela faria isso se não se permitisse pensar. Era realmente um fardo enorme ser daquela forma, pois aquilo lhe esgotava da pior maneira possível, já que o próprio bem estar nunca era uma opção. Mas Catra estranhamente apareceu do nada e lhe fez repensar isso, a todo momento em que ambas conversavam a loira pensava mais nela, olhava mais pra si e naquele dia até mesmo melhorou sua alimentação. Era basicamente impossível não fazer isso tendo de ouvir um sermão imenso da morena por 1h sobre a importância da água no corpo, ou o quão bem o alface faz pro organismo. Sim, era desse tipo de babaquice que Adora se permitiu rir por horas. Ela estava gostando disso, mas ainda era confuso pra ela a forma como sua linha apareceu, só bastou Catra lhe seguir que a sensação da amarra lhe apertou o dedo, aquilo doía! Sua família sempre foi muito apegada nessas lendas, seria uma festa e tanto quando descobrissem que ela havia iniciado seu destino, mas será que era ela? Será que a garota era só o início pra que ela pudesse encontrar o príncipe encantado que sua mãe tanto dizia? Definitivamente, príncipes eram o que menos atraía a garota, ela preferia reparar nas princesas, aquilo não era novo pra ela mas pra sua mãe seria. Sua mente estava uma confusão mas ao ouvir o ronrono de Catra ficar mais alto no fone, ela se acalmou instantaneamente, quase como nicotina, mas a sua nova droga era diferente, especial e bem mais interessante. O sono lhe pegou á forças e ela finalmente se entregou aos sonhos. Mas como se não fosse novidade uma certa gatinha de olhos heterocromaticos invadiu sua mente, transformando sua paz numa completa bagunça, e pra ser sincera, Adora amou isso.

Além do universo, o meu amorOnde histórias criam vida. Descubra agora