Fragmento

Esperança

Oi meus amores.
Perdoa a demora pra atualizar, mas espero voltar mais rápido.
Sem mais delongas, vamos ao capítulo de hoje.
Boa leitura <3
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Alicia levou Raquel para a mesma pasticceria onde tinha tomado café da manhã. Ela conhecia o dono, então sempre tinha certos privilégios. Sentadas mais afastadas do restante das pessoas, esperaram os cafés num silêncio interminável e pouco confortável. Os olhares que Sierra lançava faziam Murillo estremecer. Ela era muito boa em ler pessoas, mas não conseguia decifrar a ruiva. E bem que ela tentou. Quando a garçonete chegou com as bandejas individuais foi quase um som dos anjos. Estar sozinha com Alicia em sua frente era muito intimidador. E mais ainda porque sabia que a médica tinha coisas sérias para conversar com ela. Esperou - não tão - pacientemente Sierra dizer algo, mas ela estava calada. Se possível, mais calada que antes. Até mesmo a postura tinha assumido um tom mais contido. Isso, porém, Raquel soube que era tensão, nervosismo, ansiedade. E estava certa. A ruiva travava uma luta interna sobre como começar a falar do assunto e não conseguia chegar a lugar nenhum. Resolveu iniciar de forma mansa para tentar não assustar.

- Raquel.... levamos Paula para fazer uma outra ressonância magnética. Minha equipe ontem fez um trabalho excelente, mas tumores no cérebro são muito delicados. 

- Diga logo por favor, doutora Alicia.... está me deixando ansiosa.

- Vou direto ao ponto... foi impossível tirar tudo, detalhe por detalhe. Um dos meus melhores médicos me mandou uma mensagem falando que o tumor residual tem 1,7cm...

- O que quer dizer? 

- Que o tumor de Paula era de alto risco. Isso significa entre 50% e 60% de chance de cinco anos de sobrevida livre da doença. 

- Doutora Alicia, eu estudei um pouco sobre isso mas se puder falar em modo mais claro....

- Vamos lá... a taxa de sobrevida de cinco anos refere-se à porcentagem de pacientes que vivem pelo menos cinco anos após o diagnóstico da doença. Infelizmente a taxa não prevê quanto tempo de vida a pessoa tem, serve mais para entender o sucesso ou não do tratamento. 

- Então Paula tem entre 50% e 60% de viver mais... cinco anos? 

Alicia assentiu com um nó na garganta enquanto via os olhos de Raquel se encherem de lágrimas. Toda a cena de anos atrás com os pais do menino veio à tona novamente. A culpa, o ressentimento, a sensação de incapacidade. Ela queria fazer Paula viver, queria dizer para Murillo que a garotinha viveria incontáveis anos. Ver o sofrimento na face da mulher a desestabilizou mais do que ela poderia ter imaginado. Num ato impulsivo e impensado, Sierra segurou a mão de Raquel e deu um leve aperto. Entrou em empatia com ela, lançou um olhar acalentado. Há tempos Alicia não se permitia sentir tantas coisas além de frieza e seriedade, mas a menina já havia ganhado um espaço enorme no coração dela.

- Eu queria poder te dar uma certeza de que ela tem mais 80 anos de vida, mas eu não posso, me desculpe. Ela pode viver mais ou menos que cinco anos.... 

Sierra infelizmente estava acostumada a dar notícias ruins para os parentes, mas a maioria já estava conformado. Com Raquel era diferente, porém. A loira mantinha a esperança tão alta que tornava o trabalho de Alicia mil vezes mais difícil. Sierra, por sua vez, parou de criar expectativas depois da morte do menino e não queria voltar a criá-las pois tinha quase certeza que se machucaria de novo. Mas ela tinha a possibilidade de fazer tudo certo dessa vez. Ela queria tentar. Algo dentro dela se revirou - e não foi o cappuccino com cacau - fazendo o coração acelerar. Ela tinha dito a si mesma que faria de tudo para tentar consertar o erro do passado e Alicia nunca quebrava as promessas. Reuniu as forças restantes para encarar os olhos cor de mel de Raquel e, com outro aperto na mão da mulher, iniciou sua fala novamente.