Tratamento

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Oi amores, demorei mas voltei. Trouxe o início do tratamento de Paula e usei o relato de uma pessoa que teve câncer pra escrever.
Sem mais delongas,
Boa leitura <3
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Sabe a sensação de queimação no estômago após ter comido algo que não fez bem? Meio como se fosse azia. E então ter que tomar um remédio para ajudar a melhorar. Ou chá de boldo, igual nas receitas da vovó. Mas a questão é: em algum momento vai ter que melhorar, certo? Sempre existem tratamentos menos dolorosos também, certo? Bem, nem sempre. Não quando se trata de um câncer no cérebro, pelo menos. 

Queimação, incômodo. Algumas lágrimas também fazem parte do pacote. Uns suspiros pesados, entrecortados, soluçados. Queimação, incômodo. Algumas pontadas localizadas e fortes de dor. Sentimentos aflorados demais e a sensação do líquido correndo pelas veias. Queimação, incômodo. Fios de cabelo que se soltam lentamente, quase como uma poesia niilista. E de novo: queimação e incômodo. Um ciclo irritantemente vicioso de sofrimento. Um ciclo sofrido e irritantemente vicioso de sentir as forças se esvaírem com um sopro e retornarem quando elas estão prontas para sair do corpo novamente. 

- Tá doendo, meu amor?

- Doendo não, mamãe... mas eu tô com sono e esse líquido queima.

- Aguenta mais um pouquinho, tá bom?

Não tinha o que fazer senão aguentar. Era literalmente a única coisa que Paula fazia nos últimos dias: aguentar. Ela queria se mostrar forte, mas era difícil suportar o tratamento. Deveria ser proibido que crianças tivessem tumores, principalmente em um lugar tão sensível e importante como o cérebro. Raquel ficava ao lado dela o tempo inteiro segurando as lágrimas. Ela também tinha que aguentar. Ela tinha que ser a força que a filha não conseguia estocar. O farol que ela seguia na escuridão. A âncora que ela certamente poderia se apoiar. Mas Murillo não tinha ninguém para apoiá-la. Tinha que ser sua própria âncora, seu próprio farol, sua força por duas. 

De noite, sozinha em seu quarto silencioso, ela deixava rolar todo aquele mar salgado que havia segurado durante o dia. Mas mesmo em companhia de si mesma ela não se permitia chorar tanto. Raquel lutava o dia inteiro. Ela estava sempre em uma luta constante consigo mesma, com seu passado e com todas as lembranças que teimavam em quebrá-la. E a luta agora era por um presente digno e por seu melhor presente: sua filha. Quase todas as noites, Murillo ia ao quarto da garota e dormia na cadeira que ela mesma tinha colocado quando Paula era pequena. A menina teve algumas complicações após nascer, já que tinha vindo ao mundo muito prematura. 

Raquel precisava dormir. Tinha trocado a noite pelo dia. Quer dizer, se ela dormisse. Das últimas 48 horas, ela tinha ficado acordada em 44 delas. O cansaço estava prestes a chegar, mas ela não queria se deixar abater. Na verdade, Murillo nem estava sentindo o corpo cansado por causa da adrenalina e preocupação que corria em suas veias. Paula tinha começado o tratamento há dois dias, mas Raquel não dormia direito desde que correu com a menina para o Hospital. Fazia quase duas semanas que ela não praticava o descanso do corpo e da mente. Ela só se sentia em grado de tirar uma soneca rápida quando Alicia estava presente para cuidar da pequena. 

Felizmente, a médica era extremamente cuidadosa e esteve por perto a todo momento, assim como ela disse que ia fazer. Paula fazia quimioterapia três vezes por semana. Mesmo que Alicia não entrasse sempre com a menina, estava na clínica esperando ela sair. Uma vez ia a médica, outro dia ia a mãe. A pequena amava quando Sierra entrava com ela. A ruiva tinha um senso de humor único e sempre fazia a criança rir, mas isso ela só demonstrava com Paula. Com outras pessoas ela era sempre aquela séria e quase robótica.

- Ei, pequena, como está se sentindo? 

- Cansada, tia Alicia. Eu só quero dormir.

- Mas qual a graça de dormir o dia inteiro? 

FragmentoOnde histórias criam vida. Descubra agora