Talismã

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Amores da tia: chegamos no último capítulo de fragmento e meu coração tá apertadinho demais por dar adeus a essa história que foi o meu maior projeto até hoje.

Não vou falar muito agora. De qualquer forma, espero que vocês gostem, apesar do que vão ler rs.

Boa leitura

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6 anos depois

Em todos os dias 10 de setembro, Alicia variava as cores e as flores que comprava para Raquel. Em uma conversa despretensiosa de anos atrás, Murillo acabou soltando a preferência de tulipas roxas. Neste ano, era novamente a vez delas, após uma diversidade grande de girassois, lírios, rosas, hortênsias... Paula sempre era a sua companheira na hora de escolher o buquê mais bonito. A adolescente conseguia escolher os botões mais suaves, que dariam as flores mais cheias de vida e desabrochariam de maneira majestosa, bem como a loira gostava de apreciar. Escolher era sempre uma tarefa bem árdua, já que o mais importante era presentear a mulher que elas amavam.

Elas preparavam uma surpresa tão bonita em todos aqueles anos que seria impossível não agradar. Paula e Alicia formavam uma dupla ótima no geral, mas era ainda melhor quando envolvia Raquel. Elas nunca deixaram de surpreender a loira, e essa era uma das coisas mais bonitas na relação delas. Mesmo que parecesse impossível e repetitivo, elas depositavam tanto amor naquele presente que, a cada ano, parecia ser ainda melhor. Não seria do feitio delas se fizessem menos que o esperado. E principalmente, não seria do feitio delas deixar essa data tão importante esquecida.

Alicia sempre fazia questão de estar tudo perfeito. Ela comprava o vaso em que as plantas seriam inseridas, lavava a cesta de piquenique, montava os lanches, separava o suco e refrigerante e deixava tudo semi pronto na noite anterior, num canto que só ela e Paula tinham acesso. Era muito difícil preparar tudo isso na calada da noite, com discrição. Mas a ruiva fazia questão. Era o único momento livre para isso. E como sempre, a adolescente ajudava em cada passo, em cada segredo e cada arrumação necessária. Elas eram como duas crianças aprontando, prontas para fazer a outra pessoa chorar de emoção.

Sempre no dia 10 de setembro, Sierra se arrumava e usava a mesma cor de blusa das flores que carregava. Para ela, isso era importante. De algum jeito, fazia seu coração ficar mais quente. Paula duvidou que ela conseguisse seguir essa vontade, mas ela resistiu firme. Talvez por isso fosse importante também, já que ela adorava desafios. E então elas saíam juntas, já que Murillo também ficava esperando no local combinado. As mãos de Alicia suavam, pois ela carregava as flores. Os lábios formavam uma única linha fina em nervosismo. Todos os anos era a mesma coisa, mas ela sempre ficava nervosa.

A sensação era de estar fazendo o certo, mesmo com medo. Paula segurava na mão de Alicia, assegurando que tudo estava de acordo com o planejado. A cesta de piquenique em sua mão também escorregava um pouco, mas ela não deixava transparecer. Era importante demais para ela também. Não teria como algo dar errado e elas sabiam disso. Planejavam o ano inteiro como fariam a surpresa e ensaiavam também, justamente para que tudo ficasse nos eixos. Era tudo extremamente bem organizado, milimetricamente calculado. Não existia a mínima chance de Raquel não gostar de toda aquela surpresa, mesmo sabendo que ela seria parecida à dos outros anos.

E com certeza Raquel teria amado se ela estivesse ali para ver.

Todos os dias 10 de setembro amanheciam muito mais cinzas sem a presença do sol daquela casa. A cada ano que passava, parecia ficar ainda mais difícil suportar a vida sem ela, sentindo falta de sua risada, de seus olhares iluminados e suas demonstrações de carinho às vezes excessivas. Se Alicia e Paula soubessem que o tempo era tão curto, teriam pedido por ainda mais abraços e beijos, mais jantares em família, mais sessões de cinema com Murillo no meio. Era tão gostoso ter a companhia da loira que era inconcebível pensar em um mundo sem ela. Simplesmente era impossível.

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