Pequena

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Oi meus amores, voltei!
Nesse capítulo temos a primeira interação ralicia, irra!
Boa leitura <3
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Raquel acordou algum tempo depois. Atordoada, não entendeu o motivo do soro no braço. Passaram alguns minutos até que ela se localizasse corretamente e a mente voltasse a trabalhar. Lembrou de Paula e o motivo que a tinha levado até o hospital. O coração acelerou e ela perdeu um pouco da noção de espaço. Sentiu-se suar, a respiração ficar pesada e a cabeça dar voltas. Ela fechou os olhos em busca de concentrar-se em recobrar a consciência que, aos poucos, ela começou a perder novamente.

Felizmente, ela não chegou a desmaiar. Mas aquele ataque de ansiedade tinha levado embora qualquer rastro de tranquilidade que ela pudesse ter alcançado nesses poucos minutos acordada. (In)felizmente ela tinha muita experiência com isso, o que tornou possível o controle de seu próprio e corpo e sentimentos depois que o pico da crise já tinha ido embora. 

A mulher não lembrava a muito bem a última vez que tinha sido pega por uma tão forte quanto essa. Antes de Paula, Raquel encontrava-se frequentemente ansiosa. Era quase seu estado comum de sobreviver, pois era assim que ela estava todos os dias: sobrevivendo. O ex-marido - na época, ainda atual - era sempre o causador de suas crises. Poucas vezes tinha sido acometida por tais ataques depois do nascimento da criança, mas a filha era a única que sempre conseguia acalmá-la. Tentou pensar no pequeno rosto dela, os olhos cor de mel, iguais aos seus, o cabelo fino e cacheado nas pontas, o narizinho perfeitamente desenhado e as poucas sardas que ela tinha nas bochechas. Isso, aliás, era algo sem explicação para Raquel, porque ao seu conhecimento, ninguém da sua parte da família continha tais sinais tão milimetricamente contados.

Raquel inalou profundamente, agora finalmente capaz de respirar de um jeito mais tranquilo, e esperou até o soro acabar para então sair daquela pequena sala e ir em busca de informações sobre sua filha. Não demorou muito pra isso. Quinze minutos mais tarde ela já estava na recepção falando com uma atendente e fazendo a ficha da menina, que até o presente momento estava sendo operada como uma indigente. Se eu, como autora, puder dar minha humilde opinião sobre o assunto, penso que o nome dela seja a coisa de menor importância na hora da retirada do tumor. Após tudo pronto, Raquel foi encaminhada até a sala que se encontrava antes para esperar o final da cirurgia que, ao que tudo indicava, já deveria estar chegando ao fim.

Ela pegou o celular e mandou mensagens para a irmã, atualizando-a dos últimos acontecimentos, assegurando-a que já tinha feito o necessário, e logo depois entrou em algum dos jogos de Paula para tentar passar o tempo. Entretanto, nenhum deles era interessante o suficiente para prender a atenção dela, mas por sorte do destino - ou da medicina -, ela não precisou navegar por todos.

- Mi scusi, posso saber quem deixou a senhorita tirar o soro do braço?

Raquel ouviu uma voz feminina e rouca acabar com todo o silêncio ensurdecedor daquele ambiente. Ela levantou os olhos, sem se importar se o boneco do jogo tinha acabado de morrer ou não. Encontrou olhos castanhos e um cabelo ruivo preso num rabo de cavalo andando em sua direção, com uma prancheta de madeira em uma das mãos e a outra balançando ao lado do corpo. A face séria, uma das sobrancelhas levantadas como se estivesse esperando um desafio. Se ela não conhecesse bem as pessoas, diria que aquela mulher era um robô: sem transparência, sem emoções e quase sem sinal de vida - o que é irônico nessa situação, já que a médica salvava vidas. Mas além dessas características, o que mais chamou a atenção de Raquel foram as sardas no rosto. Eram exatamente como as de Paula, cuidadosamente fixadas nas maçãs do rosto.

- E então, senhorita.... Murillo? 

Ela precisou ler os dados na prancheta, já que agora tinha um nome e não precisava mais chamá-la de "a mãe da pequena". Sim, ela também tinha apelidado a garotinha de "pequena". Bem, ela precisou dar seu próprio jeito de identificação. Não é como se ela gostasse de apelidos, mas definitivamente esse era melhor do que chamá-la de "a menina que entrou pela emergência". Raquel finalmente pareceu sair do transe e encontrou as palavras no fundo de si para respondê-la.

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