13 × aplausos em uma noite memorável

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Era muito cedo pra ele acordar Kalmia. E achava muito cedo pra preparar o café também. Kakeru só acordaria em três horas e Kaizuka, o dobro disso.

E pra falar a verdade, Kakashi não sabe se despertou cedo demais, ou ainda não dormiu. Ele sabe que, inconscientemente, toda aquela situação de merda o leva às gavetas de Kalmia.

Ele não costuma mexer em suas coisas. Tampouco sem sua permissão, mas ele também não costuma bater nos movéis ou assustar o filho, e já acabou por fazer.

Então ele abre a gaveta, e não precisa remexê-la para sentir. Bem no coração, uma pontada para cada teste negativo guardado por sua esposa.

Eram oito ao total. Contando com o último feito.

Assim que ele fecha a gaveta e vai para a cozinha, preparar um café para três, Kalmia desperta.

Parece sentir seu lado da cama vazio, e não gosta da sensação. E em uma hora depois de acordada, ela não parece menos abatida. Kalmia se ergue poucos minutos depois que Kakashi desiste de ficar em pé, e volta a dormir.

Queria voltar aos dias em que a preocupação era saber se o relacionamento passaria de uma transa.

De dentes escovados, rosto lavado, cabelos penteados, Kalmia sente falta de cumprimentá-lo na cozinha. E a cada dia que passava, o silêncio dele lhe doía mais e mais. Ela põe a água a esquentar para o café para três e deixa a mamadeira de Kakeru pronta porque mesmo comendo, o menino ainda era muito apegado ao cafézinho costumeiro.

Era inevitável se sentir profundamente culpada, e às vezes acha que só fez trazer ares pesados e todos os tipos de depressão que o homem ainda não havia experimentado.

─ Eu o deixei tão triste que até o meu aniversário ele esqueceu ─ Kalmia sopra pra si mesma, parando na porta do quarto e olhando-o dormir.

Ela caminha até ele, e empurrando-o minimamente, beija-lhe o rosto, arrastando os dedos pelos fios de seus cabelos, encosta o nariz no maxilar um tanto áspero pela barba por fazer e pergunta:

─ A sua florzinha não precisa mais de Sol? ─ beija o rosto dele, muito preocupada com a saúde do homem.

Kakashi sequer a responde.

A faz prensar os lábios com força, baixando a cabeça sem saber bem como ele lidou com aquilo no passado.

Era tão difícil assim? Ela lhe deu tanto trabalho? Kalmia imagina que sim, ainda mais se ela parasse pra pensar que na época o seu problema não era apenas tristeza profunda e desânimo desmedido. Sua depressão, ansiedade e bipolaridade ia além da frustração que o deixa quieto e recluso.

─ Vou pôr a mesa pra gente tomar café ─ ela diz, acariciando o cabelo pratreado. ─ E vou sair com as meninas. Kakeru vai comigo...

Kakashi não a responde.

E ele sente muito não tê-la feito.

Kalmia sentiu uma angústia tão grande, e se sentiu tão pequena, tão, mas tão impotente que a fez soluçar sozinha na mesa.

Vinte e cinco minutos depois, o café já estava frio, os pães não pareciam mais tão bons e as coisas que ele gosta perderam a graça na frente dela. Kakashi não levantou para o café.

Kalmia passa pelo quarto e o vê deitado de bruços, o rosto escondido entre os travesseiros e lençóis.

Ela vai ao banheiro e passa uma água no rosto, respirando profundamente. Aquele nó na garganta tinha um gosto tão amargo que parecia indigerível pra ela. Mas mesmo assim, Kalmia recusou-se em vomitá-lo. Ela o engoliu, relutantemente.

GRITE Shippuden - Hatake KakashiOnde histórias criam vida. Descubra agora