2 | 1

1.4K 219 48
                                    

Taehyung

─ Então me deixe, Taehyung

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

─ Então me deixe, Taehyung. Esqueça que faço parte da sua vida. E eu perdoo você. 

Seus olhos tinham, raiva, mágoa, dor, eram tantas coisas que fizeram-me colocar espaço entre nós e fugir para um lugar que me deixasse distante daquela imagem. Não conseguia mais olhar para Janet naquele estado desde que a trouxe de volta para casa. Ela deixou claro sua posição quanto a nós dois e pensei o quão arruinados nos tornamos desde o sim.

Janet estava arredia e longe, não diferente do que agia, mas em um nível acima do esperado. Sabia merecer boa parte de sua repulsa e desgosto por todas as coisas que causei-lhe, mas irritava-me ela não querer nada com nosso casamento. Incomodou-me vê-la pedir por distância, abandono. Como eu poderia esquecê-la?

Eu não a deixaria. A Jung chegou ao cerne do meu corpo e tomou para si o favor dos olhos que não pensei possuir por alguém além da família. Janet se tornou a protegida da minha fortaleza. Como ela chegara a esse ponto? Não sabia dizer. Procurei desculpas por muito tempo para esconder as reais intenções em não admitir a verdade de que agora, eu precisava dela.

Se em um futuro, ela desejasse um divórcio, teria de negar-lhe. Não por querer prendê-la a mim, mesmo este sendo um desejo intrínseco, mas aquela sociedade era cruel. Talvez para mim, um homem com dinheiro, posição, sobrenome, não seria nada, mas Janet, era diferente. Ela era uma mulher, ficaria mal falada e sofreria com os comentários mais do que já recebia. Ela não precisava de mais falatórias.

Sorri amargo. Não era assim que planejava terminar a noite, mas Jung não deu-me outra opção. Queria ter um jantar amistoso, uma conversa conciliadora e, talvez, pudesse tê-la outra vez em meus aposentos. As garrafas de uísque expostas na estante do escritório se esvaziaram lentamente. As paredes escuras não eram mais suficientes para despejar minha amargura e resolvi sair de casa sem um rumo definido, apenas um momento livre daquele ambiente. Selei Athos sem ao menos ver se fazia certo e cavalguei até o fim da cidade, encontrando a friagem do mar junto a escuridão da noite.

As águas brilhavam pela forte luz da lua e senti o desejo de abraçar aquela luz convidativa. Talvez nela eu encontrasse paz. O vento frio não me impedia de ficar, nem razão para ser racional existia nos limites da minha mente. O som da madeira estalando debaixo dos meus pés e o canto interminável dos grilos ocupavam parte do cérebro que deveria estar fazendo coisas úteis. Por que era tão difícil fazê-la acreditar em mim? Por quê eu me perguntava isso se já sabia a resposta?

Nada no meu casamento era como o esperado. Materializei uma união oposta ao que acontecia e agora sofria as derrocadas da desilusão. Imbecil. Às vezes, Janet parecia mais ciente da nossa condição do que todos, mas foi isso que eu quis antes de tudo. Por que não estava satisfeito? A sensação de infelicidade e desventura me consumia membro por membro do corpo fatigado. Se continuasse sozinho e alucinando acordado, poderia fazer mais besteiras.

Janet queimava em meus pensamentos. Moldei meus desejos por ambições egoístas que não levaram a nada. Opiniões que sustentei por tantos anos se dissiparam como terra seca numa tempestade, brusca e severamente. Condenei todas as palavras que dispus a ofendê-la. Jung não merecia nada mais que coisas bonitas e preciosas, com toda a doçura que descobri ao desposá-la. Caçoei daquelas reflexões. Ainda era o mesmo homem? Não tinha mais certeza.

Olhei ao redor e avistei uma taberna de dois andares para marinheiros, que também funcionava como hospedaria, sorri amargo, ao cogitar um quarto para não voltar a mansão. Sem emoção alguma, levantei do chão sujo caminhando até lá e fui recebido com cheiro de bebida e fumaça de charutos baratos. Alguns homens se embebedavam enquanto outros mal se aguentavam em pé tentando encontrar a porta de saída. Serventes tomavam a frente nos curtos espaços entre as mesas abarrotadas de cerveja e equilibrando bandejas de carne fumegante. Os olhos alheios não notaram minha figura conhecida e fui recebido como qualquer outro homem comum. Agradeci por isso.

Uma mulher desconhecida se aproximou e colocou as mãos em meu peito, tentando deixar sua marca pelo batom escuro. Seus lábios tocaram meu queixo enquanto lançava sua sedução para ganhar algumas moedas de bronze. Deixei que ousasse, persistindo em sentir algo, qualquer coisa que excitasse meus sentidos. Nunca me neguei a uma mulher com desejo e ganhara fama por isso em Seul, mas nada mudou em estado inerte. Nenhum nervo se acendeu. Aquela meretriz se tornou como água fria na minha pele. Não havia ardor. 

Segurei os braços descobertos dela e a afastei, ouvindo lamúrias irritantes. Ela se afastou e continuei parado. Olhei para as palmas e quis lavá-las com sabão. Desejava tirar qualquer resquício da desconhecida. Molhei os lábios secos e ergui o rosto, até encontrar uma fonte de água, onde pudesse limpá-las. Janet saberia se me visse? Ela sentiria a outra? Ela se importaria caso algo acontecesse?Ofeguei baixo e molhei o rosto, frustrado. Precisava beber, ou ficaria louco.

Encostei no balcão de madeira pedindo um copo com algo mais forte que tivesse e o jovem rapaz logo me serviu. Não contei quantos foram, mas de alguma maneira, consegui parar e ir atrás do meu cavalo. Meus pés estavam dormentes e os joelhos enfraquecidos, minha mente subia as alturas do devaneio e latejava as têmporas. Por quanto tempo ficara? Não fazia ideia.

Enquanto dava passos titubeados na estrada de terra, memórias vieram da cerimônia do casamento, onde perdi todo o vocabulário para o encanto que ela se tornou vestida de noiva, nos passos vagarosos que a traziam para mim. Da noite que pude tocar a sublimidade da pele formosa e senti-la em sua mais pura versão. Quando velei o sono calmo por toda a noite e pude sentir a serenidade de sua paz tomar a rudeza do quarto. Podia constatá-la em todos os meus poros, entrelaçados.

Já devia estar amanhecendo quando voltei a mansão ainda quieta e sem movimentação. Após guardar o animal no estábulo, fui para meu quarto e, antes de entrar, passou loucuras em minha cabeça, uma delas era entrar naquele maldito quarto ao lado e tomá-la em meus braços e dizer o quanto… o quanto… o que eu diria? Patético.

Me tranquei antes de ter mais um arrependimento para esquecer. Janet, com certeza estava me odiando agora e poderia suprimir qualquer brecha que pudesse haver para uma reconciliação. Encarei a cama. Reconciliação. Essa palavra não era a certa. Reatar o que nunca existiu? Precisávamos de uma consonância. Iniciar algo que devia existir. Um casamento real, dentro e fora da propriedade do marquesado, algo que pudesse chegar aos pés do que meus irmãos viviam.

A cada abstração que me corroía, mais letárgico debatia minhas sensações. Removi as roupas sujas do corpo e olhei para a água usada da noite anterior na sina. Aquela haveria de bastar. Me lavei com ela e coloquei uma calça de linho fino caindo na cama.

Dormir era uma piada no momento, mas fechei os olhos resmungando comigo mesmo e ruminando até onde meu estado de espírito chegara. Se fosse piorar, que acontecesse agora, porque depois, talvez eu não suportasse tantos infortúnios.

Senti inveja de Jungkook e Jimin. Meus irmãos tinham casamentos promissores e filhos abençoados, viviam a melhor versão de uma família, mas herdei o pior. Lamentar meus martírios talvez não levassem a nada, mas este sempre fora o mau do ser humano. Balburdiar demais, realizar de menos. Desisti de reclamar por coisas que não tinham jeito e deixei que o sono me tirasse do mundo real e levasse para o imaginário perdido em minha consciência.

✦ ❖ ✦

Não esqueça seu voto. Obrigada por acompanhar Marquesa.💜

instagram/twitter - lehjine

MARQUESA • kthOnde histórias criam vida. Descubra agora