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Taehyung 


Busan, Setembro de 1685

Numa tensa e insuportável convivência, fugia das conversas que meu pai nomeava como necessárias sobre meus próximos dias. Esquecer de haver um dever a ser feito e uma posição a ocupar tornou-se meu passatempo há alguns anos. Julgava que por ser terceiro filho de um duque, estaria livre de tais assuntos.

Mero engano.

A liberdade se afastava a cada vez que meu pai e Jimin, meu irmão, acertavam o tratado com um marquês de um lugar que pouco me interessava. Sei que, aos vinte e sete anos, tinha de deixar certas coisas para trás, mas falar era fácil, difícil seria largar os hábitos que me distraiam dos futuros problemas da vida.

Um casamento.

Minhas experiências amorosas eram poucas e limitadas. Não me apegava às mulheres com o qual procurava manter curtos relacionamentos. Tudo se movia apenas a interesses mútuos de companhia temporária, nada mais. Este era meu pensamento e nada soava melhor do que manter minha autonomia.

Poderia ter amanhecido de melhor humor, mas não conseguia chegar ao menos no tolerável, pois teria de enfrentar meu pai no assunto. Segundo os intuitos para o resto de dia, demoraria o mínimo possível de tempo ao não dar algum espaço para palavras prolongadas e desnecessárias de seu discurso persuasivo sobre matrimônios.

As imagens diárias eram as mesmas todas às vezes que percorria para o átrio de entrada da mansão. Os empregados rodavam de um lado para o outro cuidando de seus afazeres enquanto minha mãe passava suas primeiras horas matinais na sala de música, tomando seu santo chá de camomila adoçado de mel. Ela era um doce em uma hora e um limão-azedo em outra, mesmo assim, a amava muito.

Parei no corredor em frente a porta do escritório e suspirei com o que viria a frente. Mesmo vivendo a anos ali, só agora os quadros com fotos de pessoas desconhecidas me foram chamativos. Qualquer desculpa que me impedisse de entrar ali, só que tudo para evitá-lo equivaleu a nada. Alguns toques foram suficientes para dar seu aval e abaixei a maçaneta de cobre entrando no lugar que muitas vezes quis manter-me longe.

─ Sente-se.

A voz grave reverberou entre as paredes que exibiam os quadros de fotos das famílias na linhagem dos Jeon. A linhagem que meu pai tanto mantinha seu orgulho e que o dera muitos privilégios e poder.

Fui até a cadeira e, depois de acomodado, segurei sua atenção. Os olhos cansados e testa franzida eram traços que vinham tomando mais espaço em suas feições cansadas pela idade. Talvez tenha esquecido que aquele homem um dia entraria em sua fase avançada e teria de deixar os assuntos ao redor já encaminhados para algo proficiente.

─ O que o senhor quer comigo?

Sua mão moveu-se até a gaveta do lado direito da mesa a abrindo e tirou uma carta com o selo já violado. A estendeu para mim e peguei-a sem ainda compreender o que era aquilo.

─ Nela está gravado o acordo entre o ducado Jeon e o marquesado Jung.

Rolei os olhos de volta ao papel em mãos, o abri e tive conhecimento do assunto sem mal ter começado a segunda linha de palavras gravadas a tinta.

─ Como assim matrimônio? O senhor disse que eu poderia decidir quando. Eu não quero um casamento agora.

Seu rosto continuou impassível, talvez já esperasse minha aversão.

─ Dei-lhe esta liberdade esperando que tivesse uma atitude ajuizada, mas me enganei.

O gosto amargo da raiva tomou meu humor para si e esperei que fosse uma mentira o que estava acontecendo.

MARQUESA • kthOnde histórias criam vida. Descubra agora