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Taehyung

Busan, Outubro de 1685

A mesa vinha com seu silêncio rotineiro e o gosto do café já dava-me repulsa de comer naquela manhã. Desde a conversa, não consegui colocar em palavras a indignação que me consumia desde a notícia sobre minha futura esposa. A disposição para usufruir dos meus últimos dias como um homem livre estavam longe do esperado de alguém como eu.

Os dedos batucavam na madeira preta da mesa com frequência ecoando um barulho quase que anestésico em meus pensamentos e tentava tirar as palavras insistentes daquela noite na taberna. Soyah erguia o olhar repreendendo meu comportamento e tudo que meu pai fazia era ignorar a minha presença continuando com seu café da manhã aparentemente pacífico.

A luz do sol invadia através das cortinas de linho fino a sala de refeição e a brisa calma da manhã pareciam obras da natureza para amenizar os efeitos que a raiva deixava se enraizando cada vez mais fundo dentro do meu ego. Sim, eu sabia o quanto aquilo soava ruim ou imaturo para um homem e era justo essa pressão que sufocava minha mente e trazia o fato de que não havia escolhas para alguém da nobreza. Naquele momento, odiei ser um nobre.

─ Pode me dizer o que te fez ficar assim?

A matriarca tinha as feições tranquilas e não ousava olhar para o marido do lado. Um suspiro e um longo gole na taça com água foram minhas atitudes para fazê-la desisti de ter aquela conversa. Não queria expor ao me envergonhar ter de casar com uma mulher com aqueles problemas sendo que meus irmãos foram agraciados com esposas a altura deles. Sabia bem que seria repudiado por minhas ações e não queria uma briga tão cedo no dia.

─ Nada.

Levantei e me retirei da presença deles ouvindo sua voz alta me chamar. Os princípios daquela família também se baseavam na igualdade a todos. Concordava com esse termo, mas não julgava meu caso como uma discriminação e sim uma falta de consideração por minha pessoa de alguém que eu esperava o contrário.

Seria uma união política e era necessário sim uma saúde física e mental para conseguir ao menos suportá-la de uma forma menos sôfrega. O sentimento de traição por parte dele era o que me magoava. Seria submetido a um casamento em condições que nem o caseiro dessa maldita mansão tinha.

Provável que até as criadas da cozinha fossem mais certas que a tal moça. Queria parar de acreditar em concepções precipitadas da minha cabeça e focar no lado otimista da questão. Ficaria livre de assédios por parte de mães desesperadas e pais com sede de alianças. A única coisa boa que me via ser proveniente disso.

Depois de estar distante o suficiente, decidi que iria para o campo praticar tiro ao alvo. O arco e flechas já estavam prontos para serem usados e iria fazer grande uso deles nas terras se não fosse a voz me chamando com postura despreocupada de Jimin. Depois que se tornou pai, pouco deixava o conforto do seu lar para vir nos prestigiar com suas visitas raras.

─ Está me atrapalhando.

Não estava disposto a ouvi-lo. Não tinha nada para ser explicado ou entendido. Já estava feito, não havia voltas.

─ Oh! Vejo que já está à parte das notícias.

Parou ao meu lado e continuei a organizar as flechas na bolsa de coro antes de colocá-las nas costas.

─ Nunca pensei que fossem fazer isso comigo.

A amargura ainda me consumia e o tom chateado da minha voz o fez encarar-me com semblante regado de perturbação.

─ Como assim? O que fizemos?

O homem franziu a testa em confusão.

─ Não se faça de demente.

MARQUESA • kthOnde histórias criam vida. Descubra agora