Prólogo | 1

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"O novo rei soberano de Gaoth sobrevoou o que antes era o próspero reino de Aonachd. Agora, não passava de um grande nada. Somente o castelo de aço se mantinha em pé. E uma criança, que corria assustada pela terra árida e negra."
— Trilogia Fogo e Aço —

Rainbow Sullivan — Oito anos de idade

O grito irritado da minha mãe chegou até mim e eu tapei meus ouvidos com mais força.

Ela estava bebendo outra vez.

Papai não gostava quando ela bebia. Ela sempre acabava gritando com ele. E comigo.

Ouvi os passos pesados dela e corri para debaixo da minha cama. Eu não queria que ela gritasse comigo de novo.

Ela me dizia coisas ruins. Papai sempre acabava gritando com ela e a colocando para fora do meu quarto. Então, os dois começariam a gritar um com o outro do lado de fora.

A porta do meu quarto bateu contra a parede e eu me encolhi embaixo da cama.

Eu queria estar com o vovô. Eles não brigavam quando meu avô estava em casa.

— Saia, Rainbow! Agora! – minha mãe gritou. Eu conseguia ver seus pés. Ela estava usando um salto vermelho. Acho que eu nunca a vi usar qualquer outra coisa, mesmo aqui na fazenda. — Eu estou falando com você! Sei que você está aí, garota!

— Jillian, saia do quarto dela. Agora. – meu pai falou. Ele estava bravo. Papai nunca ficava bravo comigo, mas ele e mamãe estavam sempre brigando.

— Não! Ela é assim porque você a trata como se fosse uma princesa. Ela é mimada! – minha mãe gritou.

— Ela tem oito anos. Não deveria ter que ver você bêbada. Saia do quarto da minha filha, Jillian. – meu pai falou baixo. Minha mãe não discutiu. Assisti seus saltos se afastarem e ouvi a porta bater. Eu estremeci com a batida.

Não sai de debaixo da cama. Tive medo dela voltar. Não queria ouvir ela dizer que eu tinha defeito. Ela sempre me dizia isso quando o papai não estava perto. Eu estava quebrada, eu não era o que eles realmente queriam.

— Rain, você pode sair, querida. – papai falou. Eu não me mexi. — Eu juro que ela não vai entrar aqui de novo. – eu ainda não me movi. Assisti as botas do meu pai aparecerem. Ele se abaixou e me olhou embaixo da cama. — Chega pra lá, pequena. – ele disse e eu fui mais para o canto. Papai entrou debaixo da cama com uma careta. — Acho que vou ter que comprar uma cama maior para você.

— O vovô vai demorar? – perguntei. Meu pai fechou os olhos. Será que eu o tinha irritado? Eu irritava muito a minha mãe.

— Ele volta logo, pequena. – papai falou. — Por que você está aqui, Rain?

— Ela não ia me fazer sair daqui. – falei baixo. — Ela não gosta de poeira.

— Sinto muito, Rainbow. – ele disse. Papai parecia prestes a chorar.

— Por que, papai?

— Desculpe, pequena. – ele falou novamente. Eu não entendia.

Por que ele estava se desculpando?

O som de vidro quebrando fez eu me encolher. Papai xingou.

— Eu vou resolver isso, Rainbow. Juro que vou. – papai disse e rolou para fora. Eu me mantive quieta.

Levaria algum tempo até que as coisas se acalmassem.

Eu teria que esperar o vovô voltar. Ou o papai vir me buscar.

O grito da minha mãe veio novamente. E o som de algo se quebrando também.

— Para com essa porra, Jillian! Chega! Ela tem oito anos, não precisa lidar com essa merda! – papai gritou e eu me encolhi e tapei meus ouvidos novamente.

Eu odiava os gritos. Eu odiava as brigas.

Queria saber porque a mamãe não gostava de mim. Ela não era como as outras mães. As mães das minhas amigas não agiam como a minha.

Depois das brigas, o papai sempre ficava estranho. Ele se trancava no quarto e eu não o via por dias. O vovô sempre tinha que me levar e buscar na escola.

Queria que os dois não brigassem.

Antes de você (The Heartbreakers #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora