O que mudou?

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[N/A] Eu espero ter encontrado todos os erros, mas desculpem qualquer coisa. Boa leitura xx

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Tive um sonho muito esquisito noite passada. Havia um garoto me encarando no sonho. Mas eu só conseguia ver seus olhos. Ele tinha um cheiro maravilhoso. Morangos.

Não fui à escola hoje. Disse para minha mãe que não estava me sentindo muito bem e decidi ficar em casa. Não falei com Liam desde ontem e hoje de manhã, quando fui avisá-lo que não iria, ele ainda não havia visualizado nenhuma das minhas mensagens. O que será que houve? Espero que ele não tenha se encrencado depois que o deixei na enfermaria com aquele cretino.

Passei a manhã me empanturrando de doces e outras porcarias. Liguei o vídeo game e lá estava eu, jogando qualquer coisa e me sentindo só, como em qualquer outro dia. Eu queria sair e me divertir um pouco, mas não queria ter que ir pra escola pra isso, então peguei minha bicicleta e fui dar uma volta.

Enquanto eu andava, percebi que muita gente nova estava se mudando pra cá. Isso me fez lembrar de quando eu e Jay mudamos.

Era verão e meu pai brincava com as gêmeas e Lottie ficava no canto observando as flores que cresciam pelo quintal. Éramos uma família feliz. Mas naquela noite, percebi que as coisas estavam erradas. Fora anunciado um divórcio. Por causa de uma outra mulher. Eu odeio pensar que meu pai traía minha mãe. O amor é uma coisa horrível, engana as pessoas e destrói seus corações. Eu não odeio o meu pai, eu odeio o amor que minha mãe sentia por ele. Queria que ela não tivesse chorado e que não parecesse tão fraca. Queria poder ter fugido dali com ela naquele instante. Acabamos fazendo isso de qualquer forma. As gêmeas ficaram com a minha vó e Lottie ficou com meu pai. Mudamos pra cá depois disso. Eu tinha 14.

Depois de lembrar tudo aquilo e de toda a cena, não consegui ficar por mais tempo na rua, decidi voltar e comer algo pra ir ao treino da escola.

Era três da tarde, minha mãe não veio almoçar comigo, provavelmente vendo coisas na escola. Arrumei-me e fui pro treino. Queria achar Liam pra perguntar o que houve. Quando cheguei no colégio corri pra biblioteca e o encontrei sentado com a minha mãe e um garoto de cabelos enrolados, aquele garoto com quem eu esbarrei ontem. Eu não queria chegar lá e interromper, então eu fui para o vestiário, depois perguntaria para Liam sobre aquilo.

Eu estava prestes a me trocar quando ouvi algumas risadas se aproximando e me virei para encontrar os sujeitos. Liam e aquele loiro estavam rindo juntos. O que está havendo? Eu falto um dia e tudo está de ponta cabeça? Os encarei com o semblante em confusão. Liam pigarreou e o desbotado saiu.

“Eai cara?” Bela tentativa Liam, mas eu não vou fingir que não vi.

“O que ta pegando hein?!” Tentei não elevar meu tom de voz, mas a minha irritação estava começando a ficar aparente. Ele não respondeu minhas mensagens e aparece rindo com aquele ser imundo? Eu odeio não saber o que esta acontecendo!

“Ei, ei, calma ai cara, ele é do time agora e acho melhor pararmos com toda essa merda de qualquer forma.” Mas peraí, como assim? Pararmos com o quê? Quem é essa coisa na minha frente?

“Liam, o que você esta dizendo?” Eu não estava acreditando. A gazela estava tentando parecer um leão agora? Isso não é hora para surtos de autoconfiança.

“Eu estou dizendo que por mim Louis, essa história de novato não vai colar, tudo bem que foi divertido ser o protegido no primeiro ano e assustar alguns caras que entravam achando que podiam mais porque eu era só do primeiro e tal. Você sempre foi mais velho e sempre intimidava, principalmente por ser o filho da diretora, mas agora eu não quero mais isso. Não quero me juntar com as suas porcarias.” Como aquele viadinho filho da puta tem coragem de me dizer todas essas loucuras depois de tudo que fiz por ele? Eu to pouco me fodendo se ele não tem medo de mim e se ele agora é um carinha do bem. Eu to pouco me fodendo pro Liam.

“Beleza cara.” Eu disse, sem mostrar sentimentos e saí dali, eu não ia treinar hoje também.

Eu realmente estou chateado com Liam. Ele me ajudou em muitas coisas, mas eu também fiz muito por ele. Nós nos ajudávamos, éramos uma dupla e tanto. Mas parece que agora ele e minha mãe estão juntos nessa, amiguinhos. Como pude ser traído dessa forma? A vida é uma porra as vezes.

No fim das contas não descobri nada do que queria. Liam é o desgraçado da história e não eu. Ele me arruinou.

Hoje eu estou uma pilha, parece até que eu mesmo vou abandonar minha pose de alfa da escola. Talvez eu finalmente esteja tendo uma crise daquelas de “vou virar um adulto” ou “ai meu Deus eu tenho pelo no saco”. Olha, eu sei que eu devia parar com essa coisa de intimidar, mas eu não quero mais ser o apagadinho da escola, isso eu já fui muitos anos, agora eu tenho que me sobressair e que se dane as regras. Antes de tudo isso eu, isso mesmo, EU era o nerdzão. Assim como o Liam, eu gostava de todas essas coisas de ser o filho perfeito, mas os tempos mudam e é isso. Chega de achar que eu estou errado. Eu sou o dragão!

Senti-me frustrado e dormi a tarde toda. Acordei com a minha mãe acariciando meus cabelos. Mais uma vez tive um sonho estranho.

Eu sonhei com aquele mesmo menino. Só que agora ele me abraçava e sussurrava o tempo todo que me amava. A sensação mais incrível do mundo. E aquele mesmo cheiro. Morangos.

Minha mãe me perguntou se eu queria jantar, eu não fazia ideia de que hora era, mas eu estava com fome então só assenti. Jantamos no chão da sala. Há muito tempo não comíamos assim, tão juntinhos sentados no chão como na época em que eu era pequeno. Senti-me fraco.

Parece que de uma hora para a outra meu coração me fez entender o quanto eu já tinha perdido e o quanto eu continuava perdendo. Em dois dias eu entendi muitas coisas que meu orgulho não me permitiu há um ano, mas eu não podia mudar agora, eu não podia me humilhar agora. E aí eu me senti mais fraco. Comecei a chorar. Silenciosamente. Eu queria subir para o meu quarto e ouvir alguma música deprimente e esperar esses sentimentos passarem, mas não consegui me mover. Minhas pernas não se moviam e minha visão ficava cada vez mais embaçada. Minha mãe pareceu ter entendido a minha luta contra tudo aquilo e simplesmente me abraçou enquanto depois de tanto tempo eu fraquejava e soluçava como se tivesse cinco anos. Eu odiava chorar. Eu odiava tanta coisa. Eu não podia ser fraco, não na frente da minha mãe. Em um surto de consciência empurrei-a e corri para o meu quarto. Tranquei-me e poucos minutos depois, consegui dormir.

The Secret of A Writer  [Pt-Br]Onde histórias criam vida. Descubra agora