Capítulo 2

186 21 13
                                    

Saltei em uma parada conhecida e de lá eu dei uma caminhada de trinta minutos, para o minúsculo apartamento que alugo.

Eu não sei quem Victor von Uckemann é, mas eu sei que a sua presença aqui é ruim, como uma má notícia. Esses documentos eram reais, não tinham sido feitos no photoshop. Mas não coloco a minha vida nas mãos de um estranho por nada nesse mundo. Minha vida é minha. Eu vivo isso. Eu a controlo. Mais ninguém.

Eu preciso de algum dinheiro rápido para me ajudar a sair da cidade. E, quando me dou conta, estou fugindo novamente. História da minha vida. Mamãe e eu estávamos sempre fugindo. Dos seus noivos, seus chefes pervertidos,
serviços sociais, pobreza. Às vezes acho que o universo decidiu que não tenho permissão para ser feliz. Permito-me cinco minutos de auto depreciação e em seguida pego o telefone. Foda-se o universo.

- Ei, Diego, estive pensando sobre a sua oferta de trabalho. - eu disparo assim que atendem ao telefone. - Eu estou pronta.

Eu trabalho com o pole em um clube onde tiro a roupa e fico de fio dental e um pequeno top. Dá para ganhar um dinheirinho. Diego vem me pedindo pra me mudar para o Daddy D's, um lugar de nudez total. Eu não aceitei porque não via necessidade. Eu vejo agora.

Sou abençoada com o corpo da minha mãe, não é querendo me achar nem nada mas todos babam quando eu estou dançando. E Diego diz que minha beleza remete a uma juventude, não é uma ilusão mas a minha identidade diz que eu tenho trinta e quatro anos e que o meu nome é Blanca Savinon. Não há muitas opções de trabalho com dezessete anos de idade. Vender drogas. Dar golpes. Strip. Eu escolhi o último.

Já tinha esquecido que estava falando ao telefone com Diego quando ele solta um:
- Porra, menina, isso é uma excelente notícia! Eu tenho um job pra você hoje à noite. Vista o uniforme de colegial. Os caras vão amar isso.

Preciso do dinheiro, e tirar a roupa é uma das maneiras mais seguras para consegui-lo. Respiro fundo e digo de uma vez só:
-Eu estarei lá. - desliguei o telefone e me deitei, pensando nos acontecimentos do dia.

A chegada desse Victor von Uckermann tá me deixando louca. Eu pensei em pesquisar quem é ele, o que faz, mas meu computador tá quebrado e não pude ir até a biblioteca para usar outro, estava muito ocupada fugindo das garras dele.
Quem é ele? E por que ele acha que ele é meu tutor? Mamãe nunca o
mencionou para mim. Por um momento, até pensei se ele poderia ser meu pai, mas a papelada dizia que meu pai também estava morto. Era Fernando.

Eu empurro Victor von Uckermann pra fora da minha mente, porque esta noite é a minha estreia no Daddy D's, e eu não posso deixar algum estranho de meia idade em um terno de mil dólares me distrair.

O clube está lotado. As mesas e cabines no piso principal estão todas ocupadas, mas o nível de cima onde fica a sala VIP está deserto.
O camarim fica na parte de trás, e está cheio quando eu entro.
Mulheres seminuas olham para minha entrada. Apenas uma vem até mim.

- Ariel?
Eu aceno. É o nome artístico que eu tenho usado no outro clube.
Parecia apropriado na época.

- Eu sou Angel, Diego me pediu para te apresentar o lugar. - Há sempre uma mãezona em cada clube, uma mulher mais velha que percebe que está decaindo e decide ser útil de outras maneiras. Aqui, é a velha loira Angel, que me orientava em direção às fantasias.
Quando encontrei o uniforme colegial, ela segurou a minha mão.
- Não, isso é mais tarde. Coloque isto. - ela me mostra um espartilho preto com laços cruzados e uma tanga preta rendada.

- Eu tenho que dançar com isso?

- São os ossos do ofício, minha querida. - Ela ri quando percebe que parei de
respirar. - Esqueça a roupa, só faça o que sabe de melhor, dance!

Olho para as outras dançarinas, enquanto fico lá me perguntando se isso foi um erro. Às vezes eu olho ao redor e penso que eu não pertenço a este lugar.
Eu gosto de mostrar como eu sou resistente, e sim, eu sou, até certo
ponto. Estive pobre e com fome. Fui criada por uma stripper. Eu sei como
dar um soco se eu tiver que fazer. Mas eu tenho apenas dezessete anos. Às
vezes me sinto muito jovem para ter vivido a vida que tenho.

Mas eu estou aqui. Estou aqui, e se eu quero ser a garota normal que estou desesperadamente tentando ser, então preciso sair deste quarto e andar até o palco.

O som que estava abafado, agora nas alturas quando saio do camarim e esqueço todos os meus problemas.
Ainda assim, eu estou tão chateada com o pensamento de sair da escola e quase cogito não fugir desta vez. Mas eu vou encontrar outra escola em outra cidade. Onde Victor von Uckermann não será capaz de me encontrar.
Eu travo meus pés.
Então giro em pânico.
É tarde demais.
Ele já me encontrou.
Victor já atravessou a pista de dança e segurou com força o meu braço.

- Dulce. - ele fala baixo porém de forma autoritária.
- Deixe-me ir. - minha voz é de um tom indiferente mas meu corpo inteiro treme de medo enquanto tento, em vão, me soltar de seu aperto.
Ele não me deixa ir, não até que outra figura passa para fora das
sombras, um homem em um terno escuro e com os ombros largos o suficiente para intimidar qualquer um.

- Nós precisamos conversar. - O uísque em seu hálito quase me derruba.
- Não tenho nada para lhe dizer, eu não o conheço.
- Eu sou o seu tutor.
- Você é um estranho. E você está
interferindo no meu trabalho.
- Seu pai deve estar rolando sobre sua sepultura agora. Isso não está certo. - ele diz de forma triste. - Não, Steve não iria querer isso para você.

Eu não tenho tempo para piscar e registrar suas palavras. Ele está em seus pés e eu estou voando pelo ar, meu tronco batendo em seu ombro largo.

- ME PÕE NO CHÃO!! - Grito, em vão. Ele me coloca em seu ombro e sai andando, ninguém consegue parar, nem mesmo o segurança.
- Saiam do meu caminho! - ele esbraveja.- Esta menina tem dezessete anos! Ela é menor de idade, e eu sou seu guardião, e
se alguém entrar no meu caminho, terei todo os policiais daqui a este lugar e você e todos esses outros pervertidos serão jogados
na cadeia por pôr em perigo uma menor!

Todos se calam e saem do caminho dele. Mas, eu não sou tão cooperativa. Bato meus punhos contra as suas costas, minhas unhas arranhando seu paletó caro.

- ME LARGA AGORA!

Ele não faz. E ninguém o impede enquanto ele marcha em direção à saída. Eu vejo um flash de movimento.

Estamos fora, mas Victor von Uckermann ainda não me colocou no chão.
Eu vejo seus sapatos extravagantes batendo o pavimento rachado do estacionamento. E então eu sou impulsionada pelo ar novamente, antes de aterrisar em um banco de couro.

Eu estou na parte de trás de um carro.
A porta bate.
Um motor ruge para a vida.
Meu Deus. Este homem está me sequestrando.

Los caminos de la vida - vondy Onde histórias criam vida. Descubra agora