Absence

111 18 4
                                    

Me forçou a sentir sua ausência, não me deu escolhas. Isso não é justo, o fim não é justo.

▂ ▃ ▄ ▅ ▆ ▇ █ █ ▇ ▆ ▅ ▄ ▃ ▂

"Desculpe, eu estou escolhendo a mim"

  As palavras corriam pela minha cabeça, mas faltava nelas a perfeita claridade. Elas eram só palavras, sem som, como uma imagem numa página. Só palavras, mas elas abriram o buraco no meu peito. De quantas maneiras um coração pode ser despedaçado e continuar batendo? Bem, eu já perdi as contas das minhas dores.

  E sentado no vazio do meu quarto olhando pra janela, pro meio-fio onde ele estacionava sua moto, no jardim onde passamos as tardes e à frente dele a varanda onde ele me deixou.

  Me pergunto quanto tempo isso pode durar? Talvez mais algumas semanas, talvez anos mais tarde - se a dor diminuísse de forma que eu pudesse aguentar - eu posso olhar de volta para aqueles meses que foram os melhores da minha vida. E, se fosse possível que essa dor diminuísse a ponto de me permitir fazer isso, eu tenho certeza que me sentirei agradecido pelo tempo que ele me deu. Mais do que eu pedi, mais do que eu merecia. Talvez algum dia eu fosse capaz de ver as coisas desse jeito.

  E mesmo eu querendo me erguer e não ser o fraco destruído da história, me sinto tão apático e sem rumo que nada me deixa inerente novamente. Nunca senti essa falta, nem mesmo quando achava que amava Jungkook de um jeito não fraterno, nem meus pensamentos mais sofríveis me deixaram assim a ponto de não querer mais "viver" plenamente.

 — Não! eu não aguento mais isso, não vai continuar deprimido assim como se Hoseok fosse o único pau existente na terra!

  Nana entrou aos berros no quarto. E eu sei que em algum canto da casa está minha mãe e meu padrinho torcendo para ela me livrar do cativeiro que eu mesmo me coloquei. Nisso eu sinto um peso ainda maior, pois minha família e amigos também estão sofrendo com o meu colapso depressivo.

— Eu compreendo, compreendo mesmo que você o ama. E nós também adoramos vocês juntos, mas se ele foi babaca o bastante pra deixar você de uma maneira totalmente covarde, ele nunca te mereceu. E não merece nenhuma dessas lágrimas.

— Não estou chorando. - digo.

— Não agora, não neste presente momento, mas isso pode voltar a ocorrer em minutos. - ela se agachou na minha frente e eu vi nela uma paciência que Nana nunca teve. — Você não pode passar o resto da sua vida trancado no quarto Tae. Estamos sentindo sua falta, e se eu tiver que compartilhar a mesa com o Yoongi sem você lá mais uma vez eu vou acabar o matando.

  Eu sorri, e a musculatura do meu rosto estranhou o movimento. Fazia tanto tempo. Talvez eu pensei que isso não podia mais acontecer, mas mesmo assim o sorriso era vazio demais.

— Não quero estragar o ambiente de vocês com a minha apatia. Mesmo se eu me esforçar eu vou continuar parecendo meio morto.

— Nunca te contaram? Eu amo zumbis!

  Sorrindo ela saltitou ao meu guarda-roupa com os braços cheios de roupa espalhou-as na minha cama e começou a me tratar como uma Barbie escolhendo o que iria vestir. Com o passar de mais de uma hora, eu havia colocado roupas das quais eu nunca usaria - roupas que havia me arrependido de comprar por algum motivo -, também havia maquiagem em meu rosto fazendo com que as olheiras diminuíssem pelo menos um pouco.

— Isso não é um pouco demais?

— Negativo, está parecendo um príncipe. Você devia usar coisas assim mais vezes, eu sei que você ama usar um camisão e que moletons do triplo do seu tamanho te atrai, mas veja como você está lindo assim também!

  A camisa social vinho tinha três botões abertos e a calça preta era mais justa que a maioria das que eu usava. Talvez em Jimin essa composição ficaria delicada, bem, em mim parece mais bruto e de certa forma sexy. O que me faz querer me trocar. Mas não há forças em mim nem pra isso. Apenas concordo com as coisas que Nana tagarela e a sigo para fora.

  Sabia que receberia esses tipos de olhares. O olhar de quem sente dó de um filhote na rua. Sei que meus amigos não queriam demonstrar isso, mas o meu estado deplorável das últimas semanas não os deixava fugir disso. Não posso culpá-los.

  Mas forcei o sorriso e deixei eles sorrirem de volta - a diferença é que eles sorriam com a vontade que eu não tinha mais - Não falei meia dúzia de palavras. Esse era o trato não explícito, eu estava de "volta", mas não iria ser como antes. Eu apenas queria estar no meu canto e respeitaram isso. 

  Em aula, eu me esforcei ao máximo e minha concentração em copiar cada ponto mal escrito da lousa me deixava distraído e focado em algo que não é a minha dor. Já havia passado mais de um período quando me levei ao refeitório e me obriguei a pegar uma maçã e caminhei até onde me esperavam com sorrisos receptivos. Ainda sim quando me sentei e sorri não consegui me conectar com os assuntos.

— Vai ser assim agora?... - Jungkook direcionou a mim e todos que tentavam apenas fugir do assunto se calaram e ficaram tensos — Eu disse. Avisei você sobre, sabia que iria quebrar a cara, se tivesse me escutado não estaria assim tão lamentável.

— Jungkook! - Jimin bateu em seu peito e ele recuou.

  Mordi a maçã ignorando-o completamente.

  De certa forma eu já esperava. Jeon não iria me deixar passar sem jogar isso na minha cara. Mas não importava, porque, eu sei que não foi por Hoseok ser uma má pessoa, e muito menos por uma falta de amor. Ele desistiu de nós por um motivo que não faço ideia do qual seja, mas sei que é muito maior que nós.

— A qual é! ele precisa saber que enquanto ele fica com essa cara de morto, o Jung sai por aí desfilando com a vaca da Mila e seu irmão pra lá e pra cá!

  Não doeu.

   Nem ao menos pesou. O que mais dói é saber que ele já está em outra enquanto eu ainda não consigo pensar no que tivemos sem chorar. Mas eu respirei e engoli.

— Jungkook... - disse — Só cala a boca, mesmo que eu esteja de um modo deplorável. Foram minhas escolhas e eu ainda não me arrependo delas. Quando eu precisar de alguém para mandar em cada escolha que eu faça... eu chamo o maldito do meu pai.

   Minha voz foi límpida, não foi uma briga, não houve raiva. Eu apenas disse calmamente. Levantei, e atravessando minha bolsa nos ombros voltei em direção a minha próxima aula.

   De todas as escolhas que já fiz, de todas as linhas que eu poderia ter tomado, Hoseok não seria algo que eu gostaria de riscar. Porque apesar de toda essa dor que meu peito está sentindo, vejo que não haveria um momento que eu quisesse outra pessoa, ele tomou todo o espaço aqui, levou metade de mim e me deixou sem poder refutar sua ida. Mas mesmo assim se me dessem a escolha de mudar algo, não seria nós.  

  Mesmo eu lutando pra não pensar nele, eu não luto pra esquecê-lo. Na verdade eu tenho medo que algum dia eu não vá mais me lembrar da cor exata dos seus olhos, - e da cor que eles ficavam - a sensação do toque da pele exorbitante quente dele em mim, ou da textura da voz dele.

   Eu posso não pensar nisso, mas eu preciso me lembrar disso.

Tudo mais podia ser suportado. Contanto que ele esteja existindo em algum lugar longe de mim.

IMPRINTING || jhs + kthWhere stories live. Discover now