Capítulo 7: Sobre realidades

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"Where there is desire, there is gonna be a flame

Where there is a flame, someone's bound to get burned

But just because it burns doesn't mean you're gonna die

You gotta get up and try, and try, and try"

(Pink – Try)

Kauã é o primeiro a entrar porque, para divertimento geral, eles trouxeram Elvira e Morgana. Adoro o fato de que uma família de feiticeiras não possui dois gatos pretos, mas sim duas cadelas pretas. Os animais entram cheirando o ambiente e abanando o rabo e é aquela confusão de risos e "own".

— Você tá bem, hein! — Kauã diz depois de me abraçar. Ele se refere ao decote da minha blusinha, com certeza.

— Ah, cala a boca! — Yasmin, Bia e eu reclamamos ao mesmo tempo e damos risada.

Nós quatro nos sentamos na mureta do quintal do fundo e passamos a tarde conversando, rindo e comendo. Muito.

Já estou acostumada com as ferroadas de ciúmes que sinto quando Yasmin e Bia demonstram carinho uma para com a outra. Será que se eu me permitir gostar de verdade da Joana eu vou superar a Yasmin?

Na hora do jogo nós ligamos a televisão de um dos celulares e projetamos a imagem na parede do quintal. É um clássico: Corinthians contra Palmeiras e eu me acabo de tanto gritar. Uma pena que termina empatado, um a um.

O tempo todo as crianças correm e pulam e eu quase me esqueço do motivo de estar nesse ano. Ainda mais porque, como há pessoas aqui que não sabem sobre as atividades ocultas de algumas mulheres do grupo, nós agimos como "normais" e nos atemos a assuntos menos complicados: minha bisavó, a próxima eleição e o aquecimento global.

Depois de devorarmos o pudim da tia Eva, começamos a recolher as coisas. Primo Ivan liga a mangueira e em dois minutos desiste de lavar o chão e começa a molhar todo mundo. Iniciamos uma gritaria divertida, uma correria, as cachorras latem, os mais velhos fogem e nós decidimos nos refrescar. Um balde aparece e revidamos usando água do tanque. Dois times de formam: de um lado Ivan, Ingrid e as crianças e do outro eu e meus amigos. Nem nos preocupamos em como vamos nos secar para ir embora.

Yasmin está linda: os cabelos escorrendo por cima da camiseta lilás, a calça jeans pesando, limitando os movimentos, a maquiagem derretendo e ela nem aí. O sorriso que exibe me faz querer abraçá-la, beijá-la...

Eu escorrego, nossos braços se encostam e, como se tivesse levado um choque, me afasto, me reequilibrando e quase caindo.

Interrompo a gargalhada e o mundo congela porque Yasmin me encara assustada.

Ela estica a mão para me tocar de novo e eu me esquivo.

— Majú, peraí... — a barulheira encobre o que ela diz.

Corro para dentro da casa, atravesso a cozinha e a sala e saio no jardim da frente. Meu coração palpita como nunca. Não devia ter participado da brincadeira. Mesmo com pouca água entre nós o poder dela deve ter funcionado e ela sentiu alguma coisa do que emana de mim.

— Como assim? — a voz dela me arrepia.

Penso em abrir o portão e continuar a correr, mas sei que adiar o confronto não vai evitá-lo.

— Fala alguma coisa! — ela está a dois passos de mim.

— Eu... — não consigo elaborar uma frase coerente. Sinto minha garganta se fechar. Não posso chorar agora.

O despertar do clã MedeirosOnde histórias criam vida. Descubra agora