Capítulo 9: Sobre ela

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"'Cause all of me

Loves all of you

Love your curves and all your edges

All your perfect imperfections"

(John Legend - All Of Me)

Dirigindo de volta para casa, me distraio pensando em Joana por cinco minutos e em Yasmin por quarenta. Uma música que fala sobre beleza interior está tocando no rádio e alguns momentos da nossa adolescência invadem minhas lembranças...

Depois que Yasmin e eu tivemos aquele contato mais prolongado durante o Ostara, começamos a nos falar todos os dias pela internet. Algumas tardes passávamos horas assistindo e comentando vídeos idiotas no youtube, em outras apenas divagávamos sobre a vida. Somente agora percebo que o único assunto nunca tocado era nossos crushs; às vezes comentávamos sobre famosos ou personagens que admirávamos, mas nunca sobre pessoas "reais".

Um ano depois, quando já podíamos sair sozinhas, vivíamos enfiadas uma na casa da outra, exceto quando alguma atividade escolar nos impedia. Talvez tenha sido nessa época que comecei a desenvolver sentimentos pela Yasmin, nossa convivência era tão fácil e divertida que o amor acabou nascendo naturalmente.

Me lembro de uma vez ter dormido na casa dela e, pela manhã, ficar observando-a dormir. Ela estava toda torta, roncando, descabelada, mas eu passei vários minutos imaginando como seria beijá-la. Quando constatei essa certeza, me sentei no colchão, num susto. Não sei se eu estava confusa por ter percebido que eu me sentia atraída por mulheres, ou porque eu me sentia atraída pela minha melhor amiga.

— Tá tudo bem, Majú? — Yasmin resmungou.

— Tá... Tive uma ideia pra um feitiço... — respondi sem olhá-la direito.

— Oba! Qual?

— Envolve suas cachorras — inventei qualquer coisa na hora.

Isso nos rendeu um vídeo com mais de mil comentários no qual Elvira miava ao invés de latir. Levamos uma semana e um longo sermão da tia Luciana para conseguir desfazer a brincadeira.

Nossos feitiços eram inocentes assim: criar alguma confusão com as cachorras, ou cortar temporariamente nossos cabelos, ou, sei lá... levitar objetos. Como eles não geravam consequências relevantes, nós continuamos a nos desafiar... Cada vez mais.

Até que um dia, era o final do meu primeiro ano do ensino médio e eu deveria estar estudando para uma prova de matemática, nós nos entretemos com um seriado qualquer.

— Ai caramba, eu tenho que estudar, mas não consigo parar de assistir! — comentei, com menos consciência pesada do que deveria.

— Ah relaxa, Majú. Eu troco de corpo com você e faço a sua prova.

— É o que?! — Arregalei os olhos e ela me encarou sorrindo:

— Eu sou ótima em exatas e seria um feitiço muito legal, vai.

— Eu sei, mas... — comecei a sorrir, me empolgando com a ideia.

—Tava pensando nisso esses dias, depois que a gente assistiu aquele filme velho "Se eu fosse você".

— Será que conseguimos fazer? Parece alguma coisa bem difícil...

— Vamos lá ver os ingredientes...

O despertar do clã MedeirosOnde histórias criam vida. Descubra agora