"I feel it's gonna rain like this for days
So let it rain down and wash everything away
I hope that tomorrow the sun will shine
With every tomorrow comes another life..."
(Creed – Rain)
Convido minha mãe para ir no barzinho também porque levando-a comigo garanto que não vamos tocar no assunto do resgate; aproveitamos que Maria Clara tem o aniversário de uma amiguinha e Tiago vai com ela para termos uma noite das mulheres.
O encontro segue divertido, comemos, bebemos e rimos bastante. Minha mãe fica no eterno suco de frutas dela enquanto eu e as primas bebemos caipirinhas e por pouco parece que as coisas estão normais, tudo o que fiquei sabendo que acontece nos próximos cinco anos começa a se dissipar.
Eu preciso que se dissipe, preciso batalhar para que não se realize.
Pretendia viajar hoje mesmo ao futuro, mas estou exausta. Vou me permitir alguns dias de calmaria.
No caminho para casa, minha mãe e eu estamos descontraídas, ouvindo músicas no rádio e comentando a ótima noite. Por isso acredito ser um bom momento para o assunto:
— Mãe... Eu tava com vontade de voltar a gravar podcasts...
— Ah, que legal! Volta sim, Majú... Falar de futebol nunca é demais, uma conhecida minha sempre falava uma frase de algum cara velho... Como era mesmo? Era... "futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes" ... — ela ri.
— Na verdade... — arrisco — Eu queria fazer um podcast sobre Alzheimer.
— Ah... — a empolgação dela desaparece.
— Tava pensando em gravar várias pessoas que tem esse transtorno contando suas histórias... Ou os parentes e amigos dessas pessoas contando como é... Sabe, trocar experiências mesmo.
— Hum... — desconfio que ela não quer falar sobre isso, mas continuo.
— Você quer participar?
— Não sei Majú, não é melhor você falar com pessoas que tem os sintomas? Porque eu não sei no que eu posso ajudar...
Ela está em negação quanto ao próprio diagnóstico. Não é hora de debater, por isso eu apenas concordo:
— É uma boa mesmo. Vou tentar entrar em contato com grupos de apoio no facebook ou no hospital que você está frequentando...
— Isso.
Ficamos em silêncio e o radialista comenta:
— E essa foi "Daquele lado", da banda Miscelânea.
— Ai meu Deus! — minha mãe grita.
— O que? Que foi?! — olho assustada para os lados, já passa das dez da noite e as ruas estão quase desertas, fico esperando dar de cara com um assaltante.
— É a banda dos meus amigos! Acabou de tocar uma música deles no rádio!
— Porra mãe, que susto!
Gargalhando, ela desembesta a me contar sobre o surgimento da banda, o nome dela nas duas linhas do tempo (antes de mim e depois de mim) e fico me perguntando se ela divulga por aí esse tipo de detalhe que pode ser considerado maluco. Seria melhor se ela não lembrasse da primeira versão da vida dela? Quem sabe desse jeito ela não misturaria os acontecimentos.
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O despertar do clã Medeiros
RomanceUma grave notícia faz com que as descendentes de Cassandra precisem se unir para salvar quem sempre as apoiou. Dessa vez a jornada para alterar acontecimentos será enfrentada pela filha de Regina e ela terá que lidar não apenas com as consequências...