Capítulo 19: Sobre realizações

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"Every hour has come to this

One step closer"

(Christina Perri - A Thousand Years)

Meu celular desperta às sete horas, na cama onde não dormi, e me levanto atrapalhada para desligá-lo. Quando olho para trás, Yasmin está se espreguiçando como uma gata e trocamos sorrisos maliciosos, mas temos que nos apressar para sair.

Ontem no final da tarde conseguimos registrá-la para entrar no congresso, tive receio de que os lugares já estivessem esgotados, porém deu tudo certo. Eu já havia reservado minha entrada há alguns dias.

O evento acontece dentro do hospital da Imperial College London, mesmo lugar que, há poucos dias, eu invadi. Estou com uma roupa bem diferente — calças sociais, camisa e um sobretudo — e prendi o cabelo num coque, espero assim não ser reconhecida. Se é que eles ainda estão procurando por uma pessoa que na prática não fez nada além de se trancar numa sala e quebrar uma janela. No pior dos casos Yasmin seguirá com o plano sozinha e eu faço um pentagrama de emergência para desaparecer.

Seguimos até o pavilhão azul, onde há diversas salas de aula bem grandes, equipadas com arquibancadas de teatro onde os alunos normalmente se acomodam. A palestra começará às 11h e a sala ainda está vazia, mas a agitação não me permite passear pelo lugar e me interessar por outras atividades, Yasmin e eu nos sentamos logo na primeira fileira.

Fico encarando o telão que exibe uma contagem regressiva para o início da palestra e o respectivo tema, nada acadêmico: "Enfim uma cura!". Dou um longo suspiro e Yasmin segura minha mão, apertando, me dando coragem. Não desvio o rosto para ela, apenas digo:

— Obrigada.

Pegamos nossos celulares e os apoiamos em tripés que se encaixam nos braços das poltronas, quando eu retornar ao presente, levarei apenas os cartões de memória contendo o vídeo. Ainda bem, em 2032 não há proibições descabidas de gravar eventos públicos.

Sim, depois do que a Yasmin me sugeriu nós até poderíamos ter voltado para o Brasil e gravado o evento que está sendo transmitido ao vivo para o mundo todo do conforto do nosso sofá, mas, não resisti a tentação de estar aqui pessoalmente.

Respiro fundo novamente e sorrio ao ver o doutor Jebelli entrando e colocando seus pertences em cima da mesa:

— Vocês estão bem adiantadas — ele brinca, olhando o relógio.

— É a emoção. — Não minto.

Ele organiza algumas coisas e se senta numa cadeira, aparentemente sem nada mais para fazer também.

— Parece mentira... — ele diz de repente.

— Ãh?

— Eu tinha uns vinte anos quando decidi que era isso o que eu faria com a minha vida e agora estou aqui... Sabendo que todas as coisas que abri mão, todas as noites em claro, todas os relacionamentos que nunca tive, tudo valeu a pena... Vamos poder salvar tantas pessoas... Tantos "meus avôs".

Já estou com os olhos marejados e respondo:

— Você vai salvar a minha mãe.

Ele sorri e ajeita os óculos.

Pela meia hora seguinte conversamos sem interferências, nem mesmo Yasmim se mete, e eu acho irônico o fato de que eu acreditava que precisaria de magia para fazer amizade com esse homem incrível à minha frente. Minto dizendo que minha gravação será usada no podcast que produzo sobre Alzheimer e ele fica bastante interessado, ainda mais quando descobre que sou brasileira.

O despertar do clã MedeirosOnde histórias criam vida. Descubra agora