Capítulo 12: Sobre 2027 até 2032 - Parte 2/2

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"These are some good times

So take a good look around

You may not know it now

But you're gonna miss this"

(Trace Adkins — You're Gonna Miss This)


2029

Ouço a voz da tia Sabrina vindo da cozinha e, antes que eu entre no banheiro, ela corre e me abraça no corredor:

— Ai que saudades!!!

— Bom dia, tia! Deixa eu escovar os dentes primeiro! — dou risada e ela me solta.

— Vai logo!

De dentro do banheiro escuto ela e Clarinha conversando entusiasmadas, quando saio me sento para tomar café e a observo pegando vários utensílios:

— Vamo lá, Majú! Alegria! Tem festa hoje!

— Hum.

Minha mãe está completando 45 anos essa semana e a família inventou um churrasco. Vamos todos fingir que ela está saudável e que a cadeira de rodas guardada na casa da vó Brigite, esperando a ligação do meu padrasto, não vai ser o destino da dona Regina em pouco tempo.

Respiro fundo e visto minha máscara imaginária de filha feliz.

— O que você precisa que eu faça, tia?

— Tira esse pijama e desce pra me ajudar com a decoração do salão.

— Tá.

Clarinha ri para o próprio celular:

— Minhas amigas não acreditam que a gente conhece a Miscelânea.

— Larga esse quadrado aí e vamos! — tia Sabrina a arrasta pela porta, junto com uma caixa de descartáveis biodegradáveis.

Tiago e minha mãe ainda estão no quarto porque, para não a agitar, ela não vai participar da organização do churrasco.

Passo as três horas seguintes ajudando a arrumar coisas, até os primeiros convidados chegarem e podermos chamar minha mãe. Ela está usando um vestido longo, estampado em tons pastéis e que costumava ser justo, ressaltando a beleza dela, mas agora ele a deixa parecendo um fantasma. A colocam sentada numa poltrona marrom que meu vô Eder trouxe da casa dele e lá ela permanece a tarde toda, saindo apenas para ir ao banheiro, de braços dados com alguém.

O trio de amigos famosos dela — Yuna, Silveira e Ricardo — tentam ser "normais", mas é impossível, nossos parentes e outros amigos acabam pedindo para tirar fotos e até a prima Ingrid fica meio abobalhada perto deles.

Marcela, a mais animada dos amigos do ensino médio da minha mãe, me faz tirar uma foto em que eles se sentam na mesma posição de uma outra fotografia, de vinte e oito anos atrás. Enquanto eles se arrumam e observam o celular, vão fazendo comentários:

— Olha Marcela, nessa época você nem se pegava com o Diogo Ferreira — uma das mulheres brinca, dando ênfase ao sobrenome, acho que ela se chama Amanda, e eles começam a trocar provocações.

— A Babi ainda não tinha abraçado o nome Yuna... — um outro se aproxima da imagem — E eu nem sabia que gostava de meninos. Gente, que camiseta cafona eu estava, Meu Deus!

O despertar do clã MedeirosOnde histórias criam vida. Descubra agora