Capítulo 11: Sobre 2027 até 2032 - Parte 1/2

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"Seems like hard times come easy

We do a lot of hanging on these days

But the heart finds a reason

And love always seems to find a way"

(Richie Sambora

- Hard Times Come Easy)

2027

Fecho a aba que contém o diário da Bisca e encaro o plano de fundo do computador: uma fotografia de uma paisagem qualquer. Li tudo em um dia e acho que preciso reler para poder digerir melhor. Que ser humano fodástico a dona Cassandra foi. Que mulher! Que bruxa! Que mãe!

São quatro da madrugada e decido não ir dormir, não conseguiria nem se tentasse, estou elétrica. Vou até a cozinha comer alguma coisa e me deparo com Tiago sentado no sofá, de pijama e sem óculos, com o olhar perdido.

— A gente vai ficar se cruzando de madrugada, agora? — brinco e ele chacoalha a cabeça, como se saísse de um transe.

— Ah, oi...

— Tá tudo bem? — Abro a geladeira, pego a margarina e uns frios.

Ele faz um barulho, respirando, como se fosse falar algo, mas não fala.

Pego o pão de forma e começo a montar um sanduiche. Abro mais uma vez a geladeira para pegar a coca-cola e ele fala de uma vez, de supetão:

— Acho que sua mãe precisa parar de trabalhar.

Fico parada em frente a geladeira aberta, observo potes de comida que sobraram da janta, suco, cerveja, legumes crus, um queijo esquisito que ninguém gostou mas que não jogamos fora...

Se eu virar para trás terei que ajudar meu padrasto a decidir a vida da minha mãe. Não quero fazer isso.

— Você ouviu? — ele insiste, enquanto puxa um banco para se sentar à minha frente no balcão.

— Ãh hã... — fecho a geladeira sem ter pegado o refrigerante e o encaro, com os olhos lacrimejando.

Sei que ele vai ter uma justificativa, vai me contar alguma coisa que aconteceu no serviço da minha mãe, talvez os donos da escola entraram em contato com ele, talvez algum colega dela...

— E eu vou começar a trabalhar de casa. — ele completa.

— Como assim? — franzo a testa — Não, a gente combinou desde o começo que eu ia cuidar dela, eu vou parar de trabalhar.

Ele dá um sorrisinho e coloca os óculos de volta no rosto.

— Majú, você tem que viver a sua vida, você pode ajudar, claro, mas... Eu vou dar um jeito... A gente pode contratar alguém...

— Uma pessoa estranha aqui em casa? Ah Tiago, não sei...

— Tá, vamos pensar, não precisamos decidir tudo hoje.

— Tá...

* * *

Passo para pegar Joana e ela me tasca um beijo sem nem me falar oi. Eu estava precisando disso.

— Meu Deus! Que mulherão da porra! — ela brinca.

— Pra combinar com outro mulherão da porra — respondo.

O despertar do clã MedeirosOnde histórias criam vida. Descubra agora