"Oh, if the sky comes falling down, for you
There's nothing in this world I wouldn't do"
(Avicii - Hey Brother)
Acordo já suando, deve estar fazendo trinta graus nessa manhã de dezembro, mas não reclamo, estou me condicionando a não praguejar contra a natureza — a Bisca me passou um sermão sobre isso outro dia. Entre bocejos pego meu celular e vejo mensagens não lidas numa quantidade muito acima do normal. Meu coração acelera quando constato que a maioria das notificações é do pessoal dos podcasts, com quem estou voltando (ou começando?) a interagir.
Tremendo, clico no site de notícias que mais confio e, num canto, leio a melhor manchete da minha existência: "Jovem neurocirurgião britânico surpreende comunidade científica ao anunciar cura definitiva para o Alzheimer".
— Mãaaae! — arremesso o lençol longe e saio correndo sem nem passar no banheiro.
Ela está brincando com Clarinha, sentada no tapete felpudo da sala e arregala os olhos com a minha chegada.
— Que foi?!
Ajoelho ao lado dela, ainda desacreditando que tudo deu certo. O teste que ela fez retornou positivo e, mesmo sabendo que o resultado seria esse, ela passou dias chorando. Tiago já procurou especialistas e a família toda está surtada; meu pai até cogitou voltar para o Brasil, mas nós o convencemos de que não seria necessário.
— Ai, meu Deus! — ela pega o celular da minha mão e clica na reportagem.
Lemos em voz alta os superficiais cinco parágrafos que compõem a notícia; a universidade afirma que, graças a uma proposta de mudança radical nas pesquisas, feita pelo doutor Jebelli, a cura para o Alzheimer foi adiantada em pelo menos dez anos e a última fase dos testes deve começar já em 2020. Sorrio a cada linha e uma das citações de JJ é a que me faz começar a chorar e ser incapaz de continuar lendo: "Mais de um milhão de vidas serão poupadas". Minha mãe também está emocionada, mas eu sou muito mais escandalosa.
Clarinha diz "não chora" e começa a fazer um bico. Temos que rir, limpar nossos rostos e nos acalmar para que ela não chore também.
Minha mãe tenta distrai-la enquanto eu releio a reportagem. Clico em "voltar" para ver se essa é a única notícia sobre o assunto, e é quando meus olhos são atraídos para uma outra manchete. Engulo em seco ao ler "Pneumonia de causa desconhecida intriga médicos chineses".
— Puta merda! — tento processar as informações.
— O que?
— Puta merda... — recordo Clarinha me dizendo "as consequências já aconteceram".
— O que, Maria Júlia?!
Nem sei se sou capaz de explicar o que estou pensando.
— Tá vendo isso? — viro a tela para ela — vai causar muitas mortes, muitas mesmo.
Ela sussurra:
— Um milhão?
Franzo a testa e sinto uma pontada na cabeça, por um minuto parece que detalhes do futuro estão me faltando:
— Não lembro exatamente dos números, mas, talvez...
Minha mãe arregala os olhos:
— Consequências?
Concordo com a cabeça.
— Mas, como você sabe? — ela está tão confusa quanto eu.
— Nada tá fazendo sentido! — solto o celular e esfrego o rosto — A linha do tempo não é essa. Primeiro nós vivemos a pandemia e depois é que eu fui pro futuro e adiantei a cura do Alzheimer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O despertar do clã Medeiros
RomanceUma grave notícia faz com que as descendentes de Cassandra precisem se unir para salvar quem sempre as apoiou. Dessa vez a jornada para alterar acontecimentos será enfrentada pela filha de Regina e ela terá que lidar não apenas com as consequências...