Capítulo 15: Sobre o ritual

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"Oh, I get by with a little help from my friends

I get high with a little help from my friends"

(The Beatles - With a Little Help From My Friends)

De sexta para sábado Clarinha, Pammela e eu dormimos na casa da prima Ingrid para começarmos os preparativos logo cedo. Ela se lembrava de ter me enviado ao futuro com a missão de salvar minha mãe então não foi tão difícil explicar o que pretendíamos e menos complicado ainda convencê-la de que roubar dados confidenciais era o certo a se fazer.

Nos permitimos uma noite "relaxadas", pedimos pizza, assistimos alguns capítulos da terceira temporada do nosso seriado de comédia preferido — disponível na nova plataforma de streaming que desbancou as anteriores — e cozinhamos um pudim seguindo a receita da tia Eva.

Porém, na manhã seguinte, tudo se transforma.

— Nem acredito que vamos salvar mesmo a Regina! — a mulher de cabelos tingidos de vermelho e braços forrados de tatuagens saltita entre dois dos cômodos, preparando nosso café da manhã num deles e liberando espaço para o ritual no outro.

— Não só ela. — A corrijo e me sirvo de vitamina de amêndoas com abacate e leite de soja que, segundo Ingrid, me dará "sustância" para o feitiço.

— Não só ela. — recebo um sorriso terno em resposta.

— Bom dia! — as garotas já vestem túnicas azuis escuras, prontas para o ritual.

Pammela, como quase qualquer garota de dezessete anos, não vai contar nada para a mãe e mentiu dizendo que estaria numa festa do pijama. Combinando com sua personalidade tranquila e excêntrica, hoje ela está usando os cabelos castanho-escuros em longas madeixas numa metade da cabeça e raspado na outra metade, obviamente o pai foi quem a levou ao cabelereiro e a Angélica quase infartou quando a viu. As sobrancelhas seguem a mesma moda das sobrancelhas da Clarinha, azuis.

As duas adolescentes são bastante opostas na aparência e na personalidade, mas, quando se trata de feitiçaria elas são uma dupla perfeita.

Agora só falta uma coisa, na verdade uma pessoa.

— Tá... — me levanto.

— O ritual tem que ser realizado entre meio-dia e uma hora, hein — minha irmã avisa pela quinta vez.

— Eu sei, eu sei! — reclamo.

Depois de adiar o máximo que pude, ontem à noite enviei uma mensagem para Yasmin:

Eu 20:48: A gente pode conversar?

E como ela não me respondeu, insisti:

Eu 21:17: Preciso da sua ajuda e tem a ver com a minha mãe.

Yasmin: 21:19: Tá, pode ser.

Eu 21:20: Amanhã. Te pego as 11h e prometo que te libero uma hora depois.

Yasmin 22:13: Okay.

Eu 22:13: Valeu!

Até cogitei chamar a Luciana, mãe da Yasmin, afinal ela é super amiga da minha mãe e com certeza iria querer salvá-la, mas, sei lá... Vai que ela dá uma de prima Angélica. A reação dela anos atrás quando eu e a Yasmin estávamos praticando bruxaria sem supervisão não foi das melhores.

— Bom dia. — minha amiga entra no carro meio emburrada, coloca o cinto de segurança e encara a rua à nossa frente. Respiro fundo e começo a dirigir de volta à casa da Ingrid.

O despertar do clã MedeirosOnde histórias criam vida. Descubra agora