Capítulo 16: Sobre tensões

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"When the night has come

And the land is dark

And the moon

Is the only light we'll see

No, I won't be afraid

Just as long as you stand

Stand by me"

(Ben E. King - Stand By Me)

Com o coração acelerando a cada passo, retorno pelo caminho que rodeia o complexo de prédios da faculdade.

Entro mais uma vez no hospital, tentando parecer confiante, e sigo para o pavilhão amarelo. Me sobressalto com qualquer aproximação, achando que alguém vai me abordar, como se eles se importassem com transeuntes! Alcanço a entrada com a trava eletrônica e, quando o cartão magnético me libera, contenho um gritinho de alegria. Há um balcão de atendimento desabitado e em mais alguns passos chego à sala 87, a plaquinha com o nome indica que estou no lugar certo.

Olho para os lados, mordo a boca e começo a testar as chaves que roubei, me irrito comigo mesma porque estou tremendo e demoro a encaixar cada uma delas. É claro que nenhuma serve na fechadura, o crachá pertence a uma outra médica e não tem por que ela possuir acesso à sala do doutor Jebelli.

Num ato de desespero tento arrombar a porta, batendo com o corpo na madeira grossa. Ela nem mexe. Me coloco no lado oposto do corredor, corro e me jogo mais uma vez. Meu ombro dói absurdamente com o impacto e solto um grunhido. Não é fácil como nos filmes.

Digito uma mensagem para Clarinha: "um feitiço para abrir fechaduras? É uma porta normal, mecânica".

Enquanto ela não me responde, me sento no chão e pesquiso na internet como destrancar portas sem chave, estou surpresa com a quantidade de vídeos disponíveis sobre o assunto. A maioria tem a palavra "clips" no título, por isso enquanto ouço o que dizem, retorno ao guichê vazio, me debruço e do lado de dentro, entre papéis e canetas, encontro vários clipes.

Escuto um ruído.

Tem mais alguém por aqui.

Corro para trás do balcão e me abaixo.

"Introduza o clips de papel na parte superior do tambor da fechadura", a voz animada do suposto chaveiro continua ecoando,

— Interromper vídeo! — Sussurro mas o celular não me atende.

"Não faça muita força, senão você trava os pinos", resisto ao impulso de arremessá-lo longe. "Antes de continuar eu vou pedir pra vocês se inscreverem neste canal", clico diversas vezes até conseguir silenciar o aparelho.

Estou suando e ofegando.

Fico ouvindo minha própria respiração, pesada, barulhenta. Tapo a boca com a mão mas a libero em seguida, o som do ar saindo pelo meu nariz é ainda mais escandaloso. Encaro o rodapé bege encardido à minha esquerda, a equipe de limpeza não dá muita atenção a esse detalhe.

Observando ao redor, noto que a sacola não está comigo. Droga! Abandonei todos os meus pertences! Começo a sentir minha perna doer pela posição incômoda.

Silêncio.

Estico o pescoço e espio pela abertura existente entre a parede e o início do balcão, olho para os dois lados confirmando que o corredor está vazio e vejo minha sacola largada lá no meio.

O despertar do clã MedeirosOnde histórias criam vida. Descubra agora