Capítulo XIX - Não me dê flores

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Milena

— VIAGEM?! — Brenda berra do outro lado da linha e tenho de afastar o aparelho da orelha para o meu próprio bem. — Como assim você saiu de viagem, Milena Lidson Mayer?

É certo de que ela tem motivos para berrar comigo. Estou de viagem com Fredson. Sim, com ele mesmo. Saímos da cidade há quase uma hora de tempo a caminho da casa de seus avós.

Por quê eu estou aqui?

Bom, para ser franca nem eu entendo o que deu em mim quando o vi com sua outra mochila saindo do quarto. Perguntei curiosa para onde ele ia — não que eu me incomodasse se ele estivesse voltando para casa, ou indo passar o fim de semana com outra garota, óbvio —, e assim que mencionou querer sair um pouco da cidade eu pedi inesperadamente, até mesmo para mim, que ele me levasse junto.

"Tem certeza disso?" Foi o que ele perguntou, as sobrancelhas erguidas acompanhando a surpresa em suas feições.

E eu voltei a dizer que sim. Adentrei novamente o meu quarto e peguei nas primeiras peças de roupa que encontrei. Coloquei tudo em minha mochila junto dos meus produtos íntimos e partimos como dois adolescentes prestes a viver uma aventura longe de seus pais. Mas se bem que ter deixado uma mensagem ao Roberto rompeu parte da adrenalina, e estar contando isso para Brenda me faz pensar que não consigo ser totalmente rebelde.

— Eu juro que explico tudo quando voltar. — digo mais calma que ela, a qual parece querer explodir do outro lado.

— Voltar quando, hum? — indaga impetuosa. Consigo até ouvir seus pés baterem contra o chão.

Coloco a mão em concha sobre o micro do celular e me volto para o motorista que dirige tranquilo, se divertindo com a gritaria estridente de Brenda.

— Quando eu e você voltamos? — Fredson sorri pela minha escolha de palavras antes de dizer:

— Segunda.

Colo o celular de volta a orelha e repito.

— Segunda. Até lá relaxe e não surte, ok? Tem pudim guardado na geladeira somente para você.

— Nossa, mas que amiga você me saiu! Está pior do que eu quando encomendei esse babaca para cuidar de você. Diga que irei estrangular ele caso aconteça algo de ruim com você. Tenho as unhas feitas e prontas para serem usadas num rosto bonito. — diz em tom ameaçador e eu só consigo rir muito disso. Olho para Fredson e ele já está me encarando embasbacado.

— O recado foi recebido com sucesso. — digo em meio a risos. Ele faz que sim freneticamente, os lábios comprimidos em uma fina linha que não deixo de apreciar.

— Certo. Fiquem bem e aproveitem o fim de semana. Não disse que não estou chateada, porque estou. Mas quero que se divirta. Me dê um sinal quando chegar, tá?

— Certo, não se preocupe que eu estou em boas mãos. — Eu dou ênfase na frase, roubando outro sorriso bonito e uma sacudida de cabeça da parte dele. Estou sorrindo também quando guardo o celular na bolsa e aprecio a estrada silenciosa e escura, ansiosa por saber o que me espera neste fim de semana.

•••

— Ainda falta muito para chegar? — pergunto pela terceira vez desde que pontuou nove e meia da noite, o escuro do céu se intensificando a cada meio minuto.

Quando As Nossas Vozes Ecoam [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora