Capítulo XLIX - Você não está sozinho

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Fredson

No início eu ouço murmuríos, uns mais baixos que os outros, e o primeiro pensamento é que devo estar sonhando. Depois se tornam grunhidos, e começo a me questionar se ainda estou mesmo em um sonho. Então surge o som de um soluço atrás do outro acompanhado de certa agitação do meu lado. Essa que me faz entender o que está realmente acontecendo antes mesmo que eu abra os olhos e solte uma maldição bem baixo.

O corpo de Milena está agitado e treme entre um soluço e outro, mesmo inconsciente lágrimas escapam dos olhos e escorrem pelas têmporas. Meu estômago se contorce com a imagem devastada dela. De um momento para o outro sua dor de torna minha dor. E por mais apreensivo e preocupado que eu fique toda vez que a vejo nesse estado, busco calma de algum lugar e me ponho ajoelhado sobre ela, cada uma de minhas pernas nas laterais do seu quadril.

Sua temperatura parece ter se elavado a ponto de seu corpo estar suado e a respiração ofegante. Então me curvo de modo que meu rosto se aproximasse do seu, mesmo que ela ainda esteja agitada sob mim. Levo a mão até sua nuca e faço uma leve massagem aquela região, o mesmo tratamento dou ao seu rosto a fim de acalmá-la aos poucos assim como tinha lido em um artigo quando não soube como reagir a primeira vez que a vi ter um sonho ruim.

— Está tudo bem, Milena. Você está bem, está segura — Eu sussurro em seu ouvido, ainda fazendo carinho em seus cabelos. Ela arfa de olhos fechados, ainda tentando controlar a respiração pesada. Limpo suas lágrimas nesse instante e a vejo apertar muito os olhos antes de abri-los de fato. Consigo ver a forma triste com a qual eles brilham quando encontram os meus, mas me contenho em não derramar uma lágrimas sequer quando continuo. — Respira devagar, linda. Sem pressa. Você está bem. Agora só respire.

E ela obedece. Obedece mesmo que saiba que estou tentando apenas lhe acalmar. O que funciona por hora, mas não muda seu estado de maneira alguma.

Ela ainda continua estraçalhada. Assustada. E, principalmente, enjoada.

Milena cobre a boca com uma das mãos naquele intervalo que buscava respirar outra vez, com a outra bate em mim como um pedido para que saia de cima dela e nem demora muito, minutos depois eu estou segurando nos seus cabelos dentro do banheiro enquanto ela vomita tudo quanto pode para o interior do vaso.

— Eu o odeio, Fred — ela sussura agarrada a mim quando já estamos outra vez na cama e a luz do quarto acesa. São três da manhã, minha namorada acaba de acordar de um pesadelo, vomita horrores dentro do vaso, eu a ajudo a se limpar e agora ela está voltando a entrar em pânico molhando o tecido da minha camisa com suas lágrimas. E tudo que posso fazer é isso. A abraçar porque qualquer palavra que eu disesse seria extremamente errada para a situação. Que merda. — Ele roubou tudo de mim, acabou com cada parte boa que eu pudesse ter. Ele me fez desejar que aquelas chamas me consumissem assim como foi com ele. Eu o odeio tanto que nem morto ele me deixa em paz!

Tento absorver suas palavras, mas fica difícil. Cada vez que me conta sobre seu passado minha reação se resume a esta, silêncio. Detesto que não posso a salvar desse inferno que está passando. E magoa muito ter noção disso. É horrível sentir cada parte dela se estraçalhar a medida que diz essas palavras. E tudo que sou permitido é tomar parte de sua dor para mim enquanto nos abraçamos como se nossas vidas dependessem disso.

•••

A pior parte de temer tanto pelos outros, é que você não fica tranquilo enquanto não estiver com essa pessoa do seu lado e ter a certeza que ela está realmente bem, ao menos fisicamente. Foi difícil pra caralho deixar Milena sozinha no quarto enquanto tomava banho, cheguei até a ter o pensamento absurdo de que ela poderia estar tão, mas tão mal a ponto de usar algum objeto do meu banheiro e cortar os próprios pulsos ou algo assim. Pode parecer ridículo, porém fica difícil não pensar em absurdos em um hora dessas.

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